São Paulo, Brasil
“Ah, o Abel deu um pontapé no microfone do estádio quando faltava um minuto para acabar o jogo.
“Vocês em algum momento ouviram alguém falar do escanteio claro que não foi dado a nosso favor antes? Ninguém falou disso!
“Todos apontaram o dedo para aquele ali: ‘Abel Ferreira matou o microfrone, deu três facadas, tem que condenar e extraditar’.
“Foi isso que eu senti. Vocês viram alguém falar do escanteio escandaloso?
“Ninguém! Só falam das minhas ações.
“Eu sei que por vezes não tenho as melhores ações, mas não falam da causa, só do comportamento. E o que gerou esse comportamento?”
45 cartões. Entre eles, sete vermelhos. Em 30 meses de trabalho no Brasil.
O técnico teve de explicar de novo o fato de seguir colecionando recordes de cartões na história do Palmeiras, porque mais uma vez, tomou outro amarelo, no empate diante do Red Bull Bragantino, em 1 a 1, no Allianz Parque.
E está suspenso de novo. Não comandará o time contra o Santos, no próximo sábado, na Vila Belmiro.
Ele já havia tomado outra suspensão, ao ser expulso contra o Cuiabá na primeira rodada do Brasileiro. Primeira rodada e jogo no Allianz Parque!
Sávio Pereira Sampaio, que apita pela Federação de Brasília, o advertiu verbalmente das reclamações, como elas continuaram, veio o amarelo.
“Perseguição, perseguição, perseguição”, repetiu Abel ao receber o amarelo, sabendo que novamente ficaria suspenso.
A presidente Leila Pereira adota a mesma política que o ex-presidente Mauricio Galiotte resolveu seguir, diante dos inúmeros cartões e várias suspensões do treinador: não fazer absolutamente nada.
A não ser dar apoio.
Abel não é cobrado pela direção do Palmeiras por seu gênio explosivo, pelo excessivo número de cartões que coleciona.
Mesmo atrapalhando o time, os dirigentes não se manifestam.
Nada de cobrança ou multa.
Assim como Galiotte, Leila sabe que Abel Ferreira se sente mesmo perseguido.
E seu trabalho no Palmeiras é brilhante.
As 11 finais e oito títulos conquistados desde 5 de novembro de 2020, quando comandou pela primeira vez o time paulista, fazem com que os cartões sejam tolerados.
Nunca nenhum treinador do Palmeiras recebeu tantos cartões como Abel Ferreira.
Até porque a Fifa implementou cartões para treinadores em abril de 2019.
O português é o técnico no Brasil mais advertido da história.
Seu comportamento irascível é a grande arma para quem não o deseja no comando da Seleção Brasileira.
O medo é que, caso fosse escolhido, se revoltasse contra a arbitragem em um jogo eliminatório da Seleção na Copa do Mundo. E ficasse fora, por exemplo, da final em 2026.
A mídia carioca insiste que Fernando Diniz, com apenas um título na elite, o Carioca deste ano, deva ser o escolhido. Apesar de também ter dificuldades para se controlar com os árbitros.
Enquanto isso, as pessoas mais próximas que cercam o homem que escolherá o técnico da Seleção, Ednaldo Rodrigues, alertam para o comportamento muito mais experiente, contido, de Jorge Jesus. Ele é o plano B, caso Carlo Ancelotti siga no Real Madrid.
Abel Ferreira segue travando a própria caminhada.
Só perdendo força para a Seleção.
E desfalcando o Palmeiras por não conseguir se controlar.
Ele deveria reler o título que deu ao livro que escreveu como técnico do Palmeiras.
“Cabeça fria e coração quente”…