O último autógrafo dado por Rita Lee foi dedicado ao netinho dela, o pequeno Arthur, de 5 anos, filho de Antonio Lee e da escritora Camila Fremder. A tradicional dedicatória —com a frase tremida e um disco voador — aconteceu quando ela ainda estava internada no hospital.
“Para Arthur, com um beijo da vovó Rita”, escreveu ela, no papel, na ocasião.
Na publicação, feita no Instagram, Antonio disse que havia comentado com o filho que Rita Lee desenhava um disco voador — um dos assuntos preferidos da cantora — nos autógrafos que dava aos fãs, e que o pequeno, a partir daí, se animou e pediu uma dedicatória para ele também.
“Eu comentei [com o meu filho] que a vovó Rita tinha um autógrafo muito legal, com desenho de disco voador e tudo! Ele ficou animado: ‘Eu quero um autógrafo da vovó Rita!’ E ela, claro, não negou. Coloquei no colo dela um papel e uma caneta. As mãos estavam fracas, o punho já não tinha a mesma flexibilidade de antes. Mas ela se lançou no desafio”, relembrou Antonio.
“Primeiro, fez a dedicatória e a assinatura. Depois, o disco voador, provavelmente seu assunto preferido. Ela sempre se dedicava mais nessa parte. Enquanto terminava o desenho, reclamou que a mão não obedecia como queria. Não satisfeita com o disco, tentou desenhar outro mais para a direita, só para provar a si mesma que conseguia fazer um melhor. Até que desabafou: ‘A mão não tá indo, saco!'”, prosseguiu.
A rainha do rock brasileiro morreu aos 75 anos, na última segunda-feira (8), em casa, ao lado da família, e a confirmação de sua morte foi feita no dia seguinte, por um comunicado nas redes sociais.
O DJ e produtor João Lee, filho de Rita Lee, disse em entrevista a jornalistas que os familiares não estavam esperando a morte da cantora, que lutava contra um câncer de pulmão desde 2021.
Leia o texto de Antonio Lee na íntegra
Esse foi o ultimo autógrafo da minha mãe.
Quando eu era pequeno, não entendia muito bem esse ritual. Pessoas surgiam do nada com papel e caneta, mãos meio trêmulas. Ficavam hipnotizadas enquanto minha mãe fazia uns rabiscos. Depois, pegavam o papel de volta e saíam chorando, emocionadas. Por que um papel com um nome assinado causava tanta comoção?
Com o tempo, o autógrafo foi cedendo espaço para as selfies no celular e vídeos mandando recado. Mas, hoje, mais do que nunca, eu entendo o barato do autógrafo. O autógrafo é analógico. É uma relíquia, um pedaço daquele momento, uma prova viva com reconhecimento de firma que o encontro realmente aconteceu.
Nunca vi minha mãe negar um autógrafo. O pior que podia acontecer a um fã era chegar sem papel nem caneta e ela soltar o famoso “pô, bichô!?”.
Um dia, enquanto visitava ela no hospital com meu filho Arthur, de 5 anos, o assunto veio à tona. Eu comentei que a vovó Rita tinha um autógrafo muito legal, com desenho de disco voador e tudo! Ele ficou animado: “Eu quero um autógrafo da vovó Rita!” E ela, claro, não negou. Coloquei no colo dela um papel e uma caneta. As mãos estavam fracas, o punho já não tinha a mesma flexibilidade de antes. Mas ela se lançou no desafio.
Primeiro, fez a dedicatória e a assinatura. Depois, o disco voador, provavelmente seu assunto preferido. Ela sempre se dedicava mais nessa parte. Enquanto terminava o desenho, reclamou que a mão não obedecia como queria. Não satisfeita com o disco, tentou desenhar outro mais para a direita, só para provar a si mesma que conseguia fazer um melhor. Até que desabafou: “A mão não tá indo, saco!”.
São mais de 50 anos dessa troca entre ídolo e fã. Foram milhares de vezes repetindo esse mesmo gesto. Milhares de folhas de papel espalhadas por aí que marcam um momento em que ela esteve presente. E sem saber que aquela seria a última vez, foi lá e assinou seu nome tão lindo. Dedicado a um grande fã que vai sentir muitas saudades da vovó.
Feliz dia das Mães mais dolorido do mundo, Mãezinha