Quando falamos sobre aquela sensação de já ter vivido um momento, mesmo que ele esteja acontecendo pela primeira vez, a maioria de nós se refere a ela como “déjà vu“. Porém, a psicologia tem voltado sua atenção para um fenômeno menos discutido, mas igualmente intrigante: o “jamais vu“.
O que diz a ciência sobre esse fenômeno?
Imagem: Quang Vu/Getty Images/Canva Pro
Em uma tentativa de desbravar as profundezas desse mistério, pesquisadores têm conduzido uma série de experimentos para entender o que desencadeia essa súbita sensação de estranheza diante do que deveria ser familiar.
Um estudo que chamou a atenção, em particular, focou na relação entre repetição e desconhecimento. Ao pedir que estudantes escrevessem uma palavra de forma contínua, uma grande parcela dos participantes (aproximadamente 70% deles) relatou sentir-se deslocada com a palavra depois de registrá-la em torno de 33 vezes.
Em um experimento paralelo, a palavra “the”, tão comum no vocabulário inglês, desencadeou um sentimento similar em 55% dos envolvidos, após ser repetida 27 vezes.
Esses estudos sugerem que nosso cérebro possui um mecanismo de segurança contra a monotonia e a repetição. Quando algo se torna excessivamente automático, o “jamais vu” parece funcionar como um sinal de alerta, forçando nosso sistema a repensar o que está diante de nós.
Além desses experimentos, pesquisas indicam que a repetição constante de uma palavra pode ativar outras palavras semelhantes em nossa mente. Por exemplo, se repetirmos continuamente “tress”, palavras como “dress” ou “stress” podem começar a surgir em nossos pensamentos.
Curiosamente, existem conexões entre o “jamais vu” e o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Comportamentos repetitivos, como verificar várias vezes se uma porta está trancada, podem desencadear essa sensação de estranheza.
O “jamais vu” é um testemunho da complexidade de nossos cérebros e de como eles trabalham para garantir que permaneçamos atentos e adaptáveis. Enquanto o fenômeno ainda é objeto de investigação, uma coisa é clara: ele serve como um lembrete fascinante de que mesmo o que é familiar pode, de repente, se tornar um território inexplorado para nós.