Quais frases do cinema e da literatura narram sua história? – 15/10/2023 – O Pior da Semana – Zonatti Apps

Quais frases do cinema e da literatura narram sua história? – 15/10/2023 – O Pior da Semana

Miguel me escreve com uma pergunta interessante: “Quais cenas ou diálogos de roteiros e livros poderiam narrar você?”

A primeira de todas, me perdoem os cínicos (me incluo aqui), é Julia Roberts, em “Um Lugar Chamado Notting Hill”: “Eu sou só uma garota, na frente de um garoto, pedindo a ele que a ame.”

Sou obsessiva pela peça teatral “Deus da Carnificina”, da dramaturga Yasmina Reza, e sempre me recordo da mãe que diz, já exausta da discussão: “Nosso filho fez bem em bater no de vocês. E quanto aos seus direitos humanos, eu limpo a minha bunda com eles!”

De “Um Copo de Cólera”, do autor Raduan Nassar, me lembro sempre do homem salgando aos poucos um tomate, e os devorando com dentes de cavalo —o que deixava a mulher louca de tesão.

Se não me engano é no filme “Melinda e Melinda”, de Woody Allen, que o personagem interpretado pelo diretor diz, quando lhe perguntam se ele costuma se exercitar com frequência: “Sim, fico todo suado quando tenho crises de ansiedade.” Só eu ri no cinema.

A psiquiatra Kay Redfield escreveu um livro autobiográfico incrível sobre sua bipolaridade, chamado “Uma Mente Inquieta”. Impossível não ser atravessada pela frase: “Quando eu me queixo de estar menos animada, com menos energia, menos alegre, as pessoas dizem que agora estou como o resto do mundo.”

Em “O Jovem”, de Annie Ernaux, fiquei dias na cabeça com o trecho: “Muitas vezes fiz amor para me obrigar a escrever. Queria encontrar, na sensação de cansaço e desamparo de depois, motivos para não esperar mais nada da vida.”

Como não lembrar de Clarice Lispector em todo o meu trajeto como estudante de psicanálise? Em “A Paixão Segundo G.H.”, Clarice escreve o seguinte: “O indizível só me poderá ser dado através do fracasso da linguagem.”

No filme “A Grande Beleza”, de Sorrentino, o protagonista Jep Gambardella lembra que, no auge da sua vida, não queria apenas ser convidado para todas as festas, mas queria ter o poder de fazer todas as festas falirem.

Quem leu “O Anjo Pornográfico”, ótima biografia de Nelson Rodrigues, escrita por Ruy Castro, deve se lembrar do trecho mais impactante, quando ao final do terceiro ato da peça “Vestido de Noiva” a plateia fica muda. Naquele momento, Nelson, que tinha escrito a peça na tentativa desesperada de sair da miséria que assolava sua família, tem certeza de que fracassou, e pensa até mesmo em desistir para sempre de escrever para o teatro. É quando começam a aplaudi-lo e a noite termina com o dramaturgo sendo ovacionado.

Em “Call Me By Your Name”, direção de Luca Guadagnino e meu filme preferido da vida toda, o pai de Elio diz mais ou menos o seguinte, ao ver o filho sofrer: “Nós arrancamos tanto da gente, com medo de sofrer, que perto dos 30 não nos resta mais nada para oferecer em novas relações”. E ainda: “Se obrigar a não sentir nada! Que desperdício!”.

Como esquecer de Cecília, protagonista (para mim, uma heroína) do brilhante livro “A Pediatra”, de Andrea Del Fuego, dizendo que queria costurar (fechar) a vagina da esposa de seu amante? Sobre a própria vulva, Cecília dizia ser muito diferente da concorrência parideira, pois tinha “a mucosa vítrea como maçã de quermesse.” Um primor da ironia e da maldade.

Em “Escrever”, coletânea de ensaios de Marguerite Duras, adoro a passagem em que a autora sugere que escritores limpinhos ou com medo do que têm a dizer não são os melhores e, ainda do mesmo texto, gostaria de tatuar a frase: “Você precisa ser mais forte do que o que você escreve.”


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