Emma Schmidt, sexóloga clínica em Cincinnati, no estado americano de Ohio, perdeu a conta do número de clientes que atendeu com baixa libido e problemas para ter orgasmo depois que consultaram um médico que as aconselhou a “apenas relaxar e tomar uma taça de vinho”.
Esse tipo de sugestão não é apenas banal, disse Schmidt, como salienta as lacunas no nosso entendimento geral sobre a interação entre álcool e sexo.
Depois de anos de conclusões contraditórias, pesquisas recentes deixaram claro que mesmo beber moderadamente oferece riscos para a saúde geral. Mas a questão de como o álcool afeta a saúde sexual –especificamente os orgasmos– pode ser um pouco mais imprecisa.
“A sociedade há muito descreve o álcool como um ingrediente crucial para encontros românticos”, disse Catalina Lawsin, psicóloga clínica especializada em sexualidade. Ela acrescentou que as pessoas muitas vezes misturam sexo e álcool porque isso as descontrai e dá uma sensação de escapismo –e por causa de uma crença amplamente difundida de que o álcool “aumenta a capacidade sexual e o prazer”.
O que acontece quando você mistura álcool e sexo?
“Essencialmente, não há pesquisas”, disse a doutora Lauren Streicher, professora clínica de obstetrícia e ginecologia na Faculdade de Medicina Feinberg da Universidade Northwestern, cujo trabalho é voltado para a disfunção sexual em mulheres.
Os dados existentes –muitos deles provenientes de estudos com ratos ou investigações pequenas e qualitativas– sugerem um padrão: pequenas quantidades de álcool parecem aumentar a excitação e diminuir as inibições sexuais, disse Streicher, mas grandes quantidades podem suprimir a excitação e atrasar ou bloquear o orgasmo.
Para entender o porquê, é útil observar os processos específicos que acontecem em seu cérebro quando você bebe.
O álcool libera dopamina, descrita como “o neurotransmissor da sensação de bem-estar” pela doutora Regina Krel, professora assistente de neurologia na Escola de Medicina Hackensack Meridian. Pesquisadores acreditam que ajuda a controlar o desejo.
Ao mesmo tempo, o álcool aumenta os efeitos do ácido gama-aminobutírico, ou Gaba, um mensageiro químico que inibe os impulsos entre as células nervosas, essencialmente desacelerando o cérebro e fazendo a pessoa se sentir mais relaxada.
“Isso faz você pensar, ‘Ah, estou com mais tesão!'” porque reduz as inibições, disse Laurie Mintz, professora emérita de psicologia da Universidade da Flórida que se dedica à sexualidade humana. “Mas a ironia é que, na verdade, é um depressor do sistema nervoso central.”
Isso significa que o álcool tem um efeito amortecedor em todo o cérebro, disse a doutora Krel, inclusive no córtex pré-frontal (que é responsável por coisas como avaliar as consequências), no cerebelo (que controla a coordenação) e no sistema nervoso autônomo (que regula funções como frequência cardíaca e respiração).
O álcool pode prejudicar a capacidade do cérebro de processar estímulos sexuais e coordenar as contrações musculares, que são fundamentais para a resposta orgástica, acrescentou a doutora Lawsin. “Embora possa contribuir inicialmente para o relaxamento e a redução da inibição, o consumo excessivo pode interferir nos intrincados processos que levam ao intenso prazer e satisfação do orgasmo.”
Quanto você bebe importa
Os especialistas disseram que beber moderadamente antes de fazer sexo geralmente é aceitável. No entanto, eles também enfatizaram que saber se o álcool ajudará a levar ao orgasmo, reduzindo o estresse e as inibições, ou atrapalhará o orgasmo, suprimindo funções básicas, tem muito a ver com a frequência com que você bebe e a quantidade que ingere em determinada ocasião.
Beber moderadamente é de modo geral definido nos Estados Unidos como não mais que dois drinques por dia para homens ou um drinque por dia para mulheres. Mas a forma como o álcool o afeta é determinada por uma série de fatores, incluindo genes, tamanho e composição corporal e seu histórico de ingestão alcoólica.
O uso crônico e pesado de álcool tem sido associado à disfunção erétil e à ejaculação precoce em homens, disse a doutora Mintz. A pesquisa também relacionou o consumo de álcool à disfunção sexual (problemas persistentes de resposta sexual, desejo e orgasmo) em mulheres.
“Não existe um número mágico de doses que se aplique a todos”, disse a doutora Lawsin, acrescentando que o uso excessivo de álcool pode dificultar a conexão entre os parceiros, bem como prejudicar a tomada de decisões e a capacidade de consentir com o sexo.
Como encontrar ajuda para problemas de orgasmo
Se você estiver enfrentando anorgasmia (orgasmos atrasados ou pouco frequentes, ou nenhum orgasmo), seu primeiro passo deve ser procurar um médico de atenção primária ou terapeuta sexual, para ajudar a determinar a causa ou causas básicas e conectá-lo ao tipo certo de especialista ou tratamento, disse a doutora Schmidt.
Pode haver um ou vários problemas subjacentes que afetam sua capacidade de atingir o orgasmo, incluindo certas condições de saúde ou medicamentos, problemas de relacionamento e traumas, bem como o consumo de álcool.
Muitos médicos de cuidados primários, e até mesmo alguns ginecologistas e urologistas, não têm formação específica em medicina sexual, por isso pode ser útil perguntar se têm, disse ela, e qual é sua experiência com pacientes de anorgasmia.
Se o álcool parece estar atrapalhando seus orgasmos, pergunte-se como e por que você usa álcool durante o sexo, disse a doutora Schmidt, observando que profissionais de saúde mental e terapeutas sexuais podem ser um recurso valioso.
Você costuma beber ou sempre bebe antes?
“Se uma pessoa usa álcool para conseguir fazer sexo”, disse ela, “ou sente medo, vergonha ou vulnerabilidade ao fazer sexo sem beber, então é bom explorar mais fundo esse assunto.”