Prelúdio de “Jogos Vorazes”, novidade chega aos cinemas brasileiros a partir desta quarta-feira, dia 15 de novembro
Em Jogos Vorazes, nós somos ensinados a torcer por Katniss Everdeen. A série de livros escrita por Suzanne Collins, que logo foi adaptada para os cinemas em quatro filmes estrelados por Jennifer Lawrence (Que Horas Eu Te Pego?), aborda uma sociedade distópica, em que Panem, comandado pela Capital, força os habitantes de seus doze distritos a ofertarem os seus filhos para lutarem por suas vidas, parte como entretenimento, parte como punição por terem ousado se rebelar contra a classe dominante no passado.
No entanto, sempre achei que Jogos Vorazes tinha um problema de foco. Direcionada ao público infantojuvenil, a história faz com que o público se apaixone por Katniss Everdeen, assim como por Peeta Mellark (vivido por Josh Hutcherson, de Five Nights at Freddy’s), e transforma a tentativa de derrubar um governo opressor em uma luta pela sobrevivência de um casal – ao menos, aos olhos de quem assiste. A crueldade da Capital e a necessidade de acabar com o seu sistema de destruição só entra em foco quando atinge diretamente os protagonistas.
Não é um demérito a Jogos Vorazes, que ainda se destaca como uma das melhores histórias do gênero, especialmente ao se tratar de um produto direcionado ao público mais jovem. Porém, em Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, que chega aos cinemas nesta quarta-feira, dia 15 de novembro, esse problema de foco já não existe mais. A novidade traz uma história muito mais madura, que ainda fala de amor e as suas diferentes formar de influenciar os corações das pessoas, mas também mostra como ninguém consegue fugir de seu destino quando ele já faz parte de você.
Qual é a história de A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes?
Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes nos leva cerca de sessenta anos de volta ao passado, em uma época em que a Capital ainda tentava se recuperar da guerra e os Jogos Vorazes já aconteciam há dez anos. Porém, nesse meio tempo, mesmo os habitantes da Capital estão perdendo o interesse no evento, sem encontrarem um propósito para testemunhar as mortes brutais de diversos jovens a cada ano.
Com o intuito de mudar isso, a Academia, uma escola de prestígio da cidade, decide escolher 24 alunos brilhantes para se tornarem mentores dos competidores da 10ª edição dos Jogos Vorazes e ajudarem a mudar essa falta de interesse dos espectadores do evento. Um deles é Coriolanus Snow (Tom Blyth, Billy the Kid), herdeiro de uma das famílias mais nobres e ricas de Panem, mas que esconde o segredo de que, na verdade, não tem nem o que comer.
Ao aceitar a missão de mentorar um dos tributos dos jogos, o plano de Snow é conquistar um prêmio em dinheiro para conseguir estudar na universidade e tirar a sua família da miséria. Entretanto, as suas chances de vencer se tornam consideravelmente menores quando a frágil, mas ousada Lucy Gray Baird (Rachel Zegler, Shazam! Fúria dos Deuses), do Distrito 12, é selecionada como a sua mentorada.
Determinado a conquistar o prêmio mesmo com os empecilhos, Snow traça um plano de colocar a sua competidora sob os holofotes, fazendo com que o público passe a torcer pelos tributos e os ajude com presentes na arena, entre outras novidades sedutoras, que levariam os Jogos Vorazes a se tornarem o grande espetáculo que testemunharíamos muitos anos depois, quando Katniss teria a sua vez na competição.
É para cumprir o seu plano que ele se aproxima cada vez mais de Lucy Gray e, logo, a sua missão muda para uma tentativa de salvar a vida da garota, por quem acaba se apaixonando. Porém, o que ele ainda não sabia, mas levaria para sua vida, até mesmo depois de se tornar o temível presidente de Panem, é que “são as coisas que mais amamos que nos destroem”.
O que achamos do filme?
O novo filme de Jogos Vorazes é dividido em três partes, que mostram a preparação para os Jogos Vorazes, a realização da 10ª edição do evento e as consequências dos acontecimentos dentro e fora da arena. É através de Snow que acompanhamos a história, uma decisão narrativa curiosa por si só, já que, provavelmente, nenhum fã das histórias de Katniss jamais imaginaria se colocar no lugar do vilão da franquia.
Só que a escolha também é interessante por nos colocar dentro da Capital e muito mais perto dos horrores dos Jogos Vorazes, algo que os filmes anteriores não fizeram tão bem. Como o evento mortal ainda é bastante irregular nessa época, sem ter passado pelos tratos de Snow até então, tudo é muito mais brutal e cruel. Em alguns momentos, fica até difícil de acompanhar. Se nos jogos de Katniss, tudo é bem pensado para ser um longo espetáculo, que segure a audiência por dias, aqui a expectativa é que o banho de sangue acabe em pouquíssimas horas.
Além disso, em A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, a todo momento, parece que uma nova rebelião, outrora promovida pelos distritos, está começando a nascer dentro da própria Capital, partindo da revolta de um povo saturado de ser complacente com a punição mortal aplicada ao povo de Panem. E é nessa hora que o longa se volta definitivamente para Snow e o que levou os Jogos Vorazes a durarem por mais sessenta anos até a chegada de Katniss Everdeen e a sua revolução.
Jamais pude imaginar, enquanto lia os livros ou assistia aos filmes de Jogos Vorazes, acompanhar uma história focada na vida do presidente Snow. Até os minutos finais do filme, me perguntei como o jovem apresentado em A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes acabou se tornando o grande vilão mostrado em Jogos Vorazes, um homem que destruiu tantos inimigos em sua busca por poder, que lutou pela manutenção dos Jogos Vorazes, que acabou com o Distrito 12 e tantos outros feitos maléficos.
E, então, nas últimas cenas do novo filme, o arco se encerra perfeitamente. Sempre admirei Jogos Vorazes por, em meio a tantas franquias infantojuvenis de sucesso lançadas na mesma época, nunca ter optado pelo caminho mais fácil e A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes sustenta essa característica da história, agora transportada para as telas de cinema pelas mãos de Francis Lawrence, que comandou três dos quatro filmes da franquia original.
Em A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, Snow começa como um jovem desesperado para salvar a sua família e a si mesmo e evolui para um homem apaixonado, que faria qualquer coisa para dividir a vida com a garota que ama, incluindo deixar o seu passado para trás e os familiares, por quem tanto lutou, à própria sorte.
Em seguida, o filme nos dá uma bela rasteira, provando, com apenas um punhado de frases, que Snow jamais poderia fugir de seu destino. Mesmo que tentasse se enganar, a sua ambição o levaria de volta ao caminho traçado para ele antes mesmo de seu nascimento, o que torna a história ainda mais interessante e Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes o melhor filme da franquia lançado até hoje.
Leia o texto original publicado em Rolling Stone Brasil, parceiro de CineBuzz, clicando aqui!
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