Quando Beyoncé canta em Formation “I like my baby hair, with baby hair and afros” (eu gosto do meu cabelo de bebê, com baby hair e afros), ela faz uma ode à estética negra. O trecho se refere aos fios no começo da linha do cabelo que são estilizados em formatos de ondas e se tornaram marcantes em penteados de mulheres negras.
O baby hair parece até um acessório que molda o rosto. Há quem faça de forma mais simples, com algumas curvas, e quem faça algo mais inovador, como um formato de coração com os fios finos e curtos. Tudo isso utilizando gel e escova.
Os pelos nascem na região da testa e são classificados como pelos velos —mais grossos do que a penugem que cresce nos braços e rostos. É o que explica Mariana Mageschi, terapeuta capilar. “Eles são um pouco mais fracos, às vezes menos pigmentados”, diz.
A origem do penteado é incerta. O que se sabe, porém, é que uma versão do baby hair se tornou popular na década de 1920, nos Estados Unidos, com a cantora e atriz negra Josephine Baker. Era cantora e dançarina, naturalizada na França e ficou conhecida como Vênus Negra. Ela foi vedete do teatro revista, gênero teatral marcado por sensualização e por sátira política e social. Baker também era ativista antirracista e fazia parte da resistência francesa.
Décadas mais tarde, os baby hairs também apareceram nas cholas, mulheres americanas com ascendência mexicana que faziam parte da cultura de rua da Costa Oeste dos Estados Unidos –como o estado da Califórnia— e se tornou parte da cultura latina.
Se nos anos 1920, mulheres usavam seu cabelo esculpido e Baker fazia ondas ao redor de seu rosto e por toda a cabeça, nos anos 1970, os baby hairs apareceram com força acompanhados por fios mais soltos.
LaToya Jackson, irmã de Michael Jackson, se tornou referência no baby hair, que finalizava seu rabo de cavalo. Na década seguinte, a referência americana era Octavia St. Laurent, ícone do ballroom.
Atualmente, referências de divas do pop que modelam seus cabelos na testa não faltam. Além de Beyoncé, Rihanna, FKA Twings e Lizzo são artistas que aparecem com seus baby hairs bem moldados.
No Brasil, influenciadas pelo estilo americano, mulheres também modelam seus baby hairs. É o caso da cantora Ludmilla e influenciadoras como Josy Ramos e Maga Moura.
A trancista e hairstylist Luana Alcantara afirma que suas clientes sempre pedem para fazer. “É uma estética muito requisitada. É o toque final da trança, do penteado.” Ela já fez penteados para o baile da Vogue e para campanhas da Renner.
O que usar para fazer baby hair?
Para fazer o baby hair é preciso um produto fixador e algo para modelar. Antigamente, usava-se escova de dente ou escova para sobrancelha, até que a indústria de cabelo começou a vender escovas específicas para o penteado.
O gel cola, que deixa o cabelo duro e com aspecto molhado, pode ser utilizado para fixar os fios, mas há outros. “Eu sempre oriento a usar produto específico para baby hair”, diz a hairstylist.
Alcantara afirma que as mulheres também usavam pomadas para modelar os fios, antes de a Anvisa proibir a venda e o uso em fevereiro após casos de cegueira temporária e ardência nos olhos.
O que a trancista recomenda é que não seja utilizado gel ou pasta para fazer baby hair e ir à praia ou piscina em seguida. “Por mais que use um específico, é um produto químico, então pode causar algum problema quando misturado com água salgada do mar e o sol.”
Mageschi, a terapeuta capilar, diz que o recomendado é retirar o produto após o uso. “A remoção é importante no máximo até o dia seguinte para que não haja impregnação nessa região do couro cabeludo e acabe acumulando fungos e bactérias.”
Como fazer baby hair?
Depois de ter o produto certo e o equipamento em mãos, o que mais é preciso para fazer baby hair? “No geral, paciência”, afirma Alcantara. A técnica é adquirida no dia a dia, depois de muita tentativa e erro.
Comece separando todos os fios fininhos que ficam na linha do cabelo. Depois, com o produto na escova, vá passando e criando uma curva, depois segure com o dedo para fixar. O processo deve ser repetido nas outras partes, aos poucos.
Uma dica, segundo Alcantara, é usar um lenço amarrado na parte do baby hair e esperar alguns minutos. Isso garante uma fixação maior.
Cuidado para não exagerar. “Se usar muito produto a testa pode ficar oleosa e gerar espinhas”, afirma a trancista.
O baby hair cresce?
Segundo a especialista em couro cabeludo, ele cresce. Mas não chega ao comprimento do resto do cabelo. Os fios vão ter um tamanho que variam entre quatro e seis centímetros.
Mageschi também afirma que eles seguem o ciclo natural do cabelo: nascem, crescem e caem.