‘Napoleão’ combina cinema épico e incerteza narrativa – Zonatti Apps

‘Napoleão’ combina cinema épico e incerteza narrativa

Não que Ridley Scott tenha a menor preocupação com exatidão histórica – por sinal, nem deveria! “Napoleão”, apesar do verniz empolado subentendido com filmes “baseados em eventos reais”, não é um documentário. É uma ficção, uma dramatização que procura, dentro dos limites do cinema de entretenimento, retratar a ascensão e a queda de uma das figuras mais emblemáticas da história.

Acima de tudo, é uma produção de US$ 200 milhões com a clara assinatura de seu diretor – para o bem e para o mal. Virando a esquina para completar 86 anos, Scott é uma máquina. Foram sete filmes lançados na última década, produções complexas que, em mãos menos experientes, levariam alguns anos para sair da gaveta. O diretor inglês, por sua vez, rodou “Napoleão” em absurdos 62 dias. Martin Scorsese, em uma comparação tosca, filmou “Assassinos da Lua das Flores” em 100 dias.

A velocidade aparentemente tem um custo, e muitos dos trabalhos de Ridley Scott trabalhos não trazem a paixão que ele injeta em outros. Para cada banquete conceitual, narrativo e visual como “Gladiador” e “Falcão Negro em Perigo”, sobra o fast food de um “Robin Hood” ou “Casa Gucci”. Scott faz do cinema um espetáculo, mas por vezes estã só marcando uma lista de coisas para colcar em cena.

“Napoleão” estaciona entre seus dois “modos de batalha”. É um épico em grande escala, ancorado por uma produção nunca menos que arrebatadora. As batalhas, que ilustram os trailers com eficiência, são impressionantes e absurdamente bem filmadas – a chegada de um combalido exército francês em Moscou é assombrosa e inquietante. Mas o diretor nunca parece estar emocionalmente investido, e isso reflete em uma linha narrativa derivada de risco.

O roteiro de David Scarpa, que colaborou com Scott em “Todo o Dinheiro do Mundo” e é responsável pelo texto de “Gladiador 2”, busca amarrar os feitos militares de Napoleão (Joaquin Phoenix, perfeito como sempre), vitórias que o levaram ao trono da França, com seu relacionamento turbulento com Josefina (Vanessa Kirby, cada vez melhor). É uma opção que humaniza os protagonistas com um certo senso de humor, mostrando que até homens poderosos se comportam como bobos da corte ao não saber lidar com seus sentimentos.

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