Nos anos seguintes, ele se destacou no comando de comerciais emblemáticos, que não só ganharam prêmios como aos poucos lhe abriram as portas para o cinema. “Eu provavelmente fui um dos diretores de publicidade mais diligentes em uma onda que transformou os comerciais em expressão artística”, continua. “Meus concorrentes em Londres eram excepcionais, como Alan Parker e Adrian Lyne, além do meu irmão (o também diretor Tony Scott, morto em 2012) que era seis anos mais novo que eu.”
Foi dirigindo comerciais que Ridley Scott descobriu que o trabalho rendia mais quando ele mesmo operava a câmera – trabalho que ele assumiu em boa parte das duas mil peças criadas por sua produtora. “Quando eu filmei ‘Os Duelistas’, tínhamos uma câmera comigo como operador. Foi a mesma coisa em ‘Alien, o Oitavo Passageiro’, a mesma coisa em ‘Thelma & Louise’. Eu estava sempre atrás da câmera.”
O diretor explica que essa posição o fazia não apenas mais eficiente, como também desenvolveu seu apuro visual. Como operador de câmera, ele aprendeu com o tempo a planejar tomadas com duas máquinas simultâneas, depois com quatro, chegando à maestria de coordenar onze câmeras rodando ao mesmo tempo. Todo esse trabalho é mapeado em storyboards desenhados pelo próprio Scott, o que ele chama de “a escrita da sinfonia das grandes batalhas”.
Foi assim que ele criou, ao longo de sua carreira, algumas das sequências de ação mais eletrizantes do cinema moderno. De “Gladiador” a “O Último Duelo”, passando por “Falcão Negro em Perigo”, “Cruzada”, “Robin Hood” e “Êxodo”, Scott aperfeiçoou a arte de encontrar beleza e precisão na coreografia de uma cena de guerra. “Meus olhos são meu melhor recurso”, explica. “Com as cenas desenhadas em storyboards, e o posicionamento correto das câmeras, o trabalho é fácil.”
Espetáculos visuais como “Napoleão” fazem parte do DNA do cinema. Akira Kurosawa escreveu parte do dicionário de guerra cinematográfico culminando em “Ran”, assim como o britânico David Lean, sinônimo de épico com “A Ponte do Rio Kwai” e “Lawrence da Arábia” – em quem Ridley Scott claramente espelha seu próprio legado. Stanley Kubrick mostrou a precisão do campo de batalha, ao passo que nele Steven Spielberg encontrou sensibilidade e crueza. Zhang Yimou foi poético em “Herói”, John Woo foi brutal em “A Batalha dos 3 Reinos”.