Não é preciso ser um cientista para saber que há uma diferença brutal entre a forma como nós, humanos, e a maioria dos mamíferos envelhecemos, e a lentidão com que o mesmo processo ocorre entre algumas espécies de répteis e anfíbios. A discrepância é tão grande que uma tartaruga contemporânea de Charles Darwin pode estar chegando agora à sua meia-idade.
Em um estudo recente, publicado na revista BioEssays, o microbiologista João Pedro de Magalhães, da Universidade de Birmingham no Reino Unido, pergunta: “Como os répteis e outros vertebrados podem envelhecer mais lentamente que os mamíferos?”.
A conclusão é impressionante: a culpa é dos dinossauros. De acordo com o autor, após passar 100 milhões sendo predados por esses répteis gigantes, os mamíferos se tornaram geralmente pequenos, noturnos e notívagos. Essa longa pressão evolutiva por uma reprodução rápida pode ter levado nossos colegas “à perda ou inativação de genes e vias associadas à vida longa”.
A hipótese do gargalo da longevidade
E se viver 300 anos for a normal e nós, os desajustados?Fonte: Getty Images
Normalmente, pensamos que envelhecer é normal e que alguns répteis estão fora da curva. Também imaginamos que a capacidade de muitos anfíbios se recuperarem de feridas (e até mesmo regenerarem partes de seus corpos) é uma coisa extraordinária. No entanto, Magalhães subverte esse pensamento e questiona: e se formos nós os esquisitos?
Batizada de “hipótese do gargalo da longevidade”, a tese propõe que os mamíferos desenvolveram uma capacidade adaptativa de viver rápido e morrer jovem no período Jurássico ou no Cretáceo, e parece que até hoje não conseguiram se livrar completamente disso.
Se o professor Magalhães estiver certo, é possível que estejamos até hoje vivenciando essa herança maldita de queda no declínio da capacidade reprodutiva ou desaceleração na velocidade de corrida à medida que envelhecemos. Isso poderia até mesmo explicar porque os seres humanos são mais suscetíveis ao câncer do que a maioria dos animais.
Quais as implicações do gargalo da longevidade?
Compreender a genética do gargalo da longevidade por ser útil na busca por uma velhice mais longa e saudável.Fonte: GettyImages
Ressaltando que o gargalo da longevidade é, por enquanto, uma hipótese e não uma teoria estabelecida, o estudo cita algumas implicações importantes. Além da citada senescência reprodutiva, a proposição pode explicar “a ausência de envelhecimento demográfico muito lento e a erosão dentária”, diz o estudo.
Outros gargalos de longevidade podem existir entre outros táxons (organismos similares), especula o autor, causados também pela predação ou diferentes tipos de restrições ecológicas, talvez em escalas de tempo mais curtas do que a preponderância dos dinossauros.
Nesse sentido, a utilização da genômica evolutiva pode ser o caminho ideal, não só na detecção de gargalos de longevidade desconhecidos, mas também para saber “se outros sistemas de reparação, defesa ou regeneração foram perdidos ou inativados em mamíferos”, conclui o estudo.
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