“Nunca Deixe de Lembrar”, sob a direção inovadora de Florian Henckel von Donnersmarck, apresenta-se como um mergulho intrincado na vida do artista Gerhard Richter, embora sem mencionar diretamente o pintor. A narrativa se desenrola como um enigma, onde a arte e a história pessoal se entrelaçam, criando um diálogo contínuo entre realidade e ficção. O filme, que recebeu aclamação por sua fotografia e direção, desafia as convenções ao tecer uma trama que explora a resistência da arte contra as opressões dos regimes autoritários, tanto nazista quanto comunista.
A história se aprofunda nas memórias de infância de Richter, representado por Kurt Barnert (Tom Schilling), em uma Alemanha marcada pelo nazismo. A influência de sua tia Elisabeth, uma figura marcante em sua formação artística, ressalta a importância dos laços familiares e culturais na moldagem de um artista. O filme acompanha a jornada de Kurt desde os dias sombrios sob o regime nazista até sua vida na Alemanha dividida pela Guerra Fria, mostrando sua luta para manter a integridade artística em meio às restrições ideológicas.
A obra vai além da narrativa pessoal de Barnert, explorando suas relações amorosas e o impacto dessas em sua arte. A interação com Ellie, uma estudante de moda, é crucial para o desenrolar da trama, apresentando um contraste marcante entre o passado sombrio de Kurt e seu futuro como artista. O filme utiliza essa relação para refletir sobre como o passado pode moldar, mas não necessariamente definir, o futuro de um indivíduo.
Donnersmarck, através de sua obra, levanta questões profundas sobre os extremismos políticos e como estes impactam a expressão artística. Ele usa a vida de Barnert para ilustrar as dificuldades enfrentadas pelos artistas sob regimes totalitários, que sufocam as vozes criativas em nome de uma ideologia. A cinematografia de Caleb Deschanel e a trilha sonora de Max Richter amplificam o impacto emocional da história, capturando a complexidade e a beleza das experiências humanas.
O filme também revisita a história do nazismo e seu impacto na arte, explorando como Hitler, um pintor frustrado, usou seu ressentimento contra a arte moderna para promover uma agenda de ódio e repressão. A narrativa faz paralelos entre o desdém de Hitler pela arte e a perseguição a artistas e obras consideradas subversivas, destacando o papel da arte como uma forma de resistência contra a opressão.
“Nunca Deixe de Lembrar” é uma reflexão sobre a arte como um ato de resistência e libertação. A obra de Donnersmarck reafirma a ideia de que a arte transcende as barreiras do pragmatismo e existe como um testemunho da experiência humana. A história de Kurt, inspirada em Richter, é um lembrete de que a arte tem o poder de desafiar, questionar e, finalmente, triunfar sobre as forças que buscam silenciá-la.
Filme: Nunca Deixe de Lembrar
Direção: Florian Henckel von Donnersmarck
Ano: 2018
Gêneros: Drama/Romance
Nota: 10/10