O diretor-geral da OMS (Organização Mundial de Saúde), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou à Folha que espera ver como resultado da COP28, conferência do clima da ONU, “no mínimo, a eliminação dos combustíveis fósseis”.
“Seria muito importante para a saúde”, ele completou, citando que doenças respiratórias e poluição do ar estão ligadas à exploração de energias fósseis, que também são responsáveis por 75% das emissões de gases-estufa no planeta.
“A relação com a saúde é a forma mais convincente de mostrar às pessoas o impacto das mudanças climáticas”, completou, em fala neste domingo (3) nos corredores da COP28, que acontece até o próximo dia 12 em Dubai (Emirados Árabes Unidos).
Pela primeira vez, a cúpula do clima dedicou um dia temático à agenda da saúde, que ocorreu neste domingo, com uma série de debates paralelos às negociações diplomáticas.
Ao deixar o palco de uma mesa com ministros da Saúde de diversos países, Tedros foi rodeado por admiradores, principalmente agentes de saúde e pesquisadores, que pediram fotos e lhe agradeceram pelo trabalho durante a pandemia de Covid-19.
Entre os desafios do período, o diretor da OMS precisou lidar com o negacionismo científico —uma barreira comum à agenda contra o aquecimento global e que chega a atingir as lideranças responsáveis pelo acordo climático.
No último dia 21, o presidente da COP28 e também CEO da petroleira Adnoc, Sultan al-Jaber, afirmou em uma videoconferência, revelada neste domingo pelo The Guardian, que não há ciência por trás da recomendação de eliminar os combustíveis fósseis.
Entretanto, o painel científico do clima da ONU (IPCC, na sigla em inglês) e também a Agência Internacional de Energia apontam em seus relatórios mais recentes o abandono da matriz fóssil como uma condição para manter o aquecimento global próximo de 1,5°C.
Questionado sobre a declaração de Jaber, Tedros respondeu que a necessidade de eliminação dos fósseis “não é só baseada na ciência, como também nos impactos que já são vividos”. “Está tudo documentado”, completou.
A menção a combustíveis fósseis, porém, ficou de fora de uma declaração política sobre clima e saúde organizada conjuntamente pela presidência da COP28 e a OMS.
Os Emirados Árabes articularam a doação de diversos países e fundações somando US$ 1 bilhão para a iniciativa, que promete aumentar a cooperação internacional para sistemas de saúde mais resilientes ao clima.
“Melhorar a capacidade dos sistemas de saúde para antecipar e implementar intervenções de adaptação contra doenças sensíveis ao clima e riscos para a saúde, através do reforço dos serviços de informação sobre saúde climática, vigilância, sistemas de alerta precoce e resposta e uma força de trabalho de saúde preparada para o clima”, diz a declaração.
O documento também prevê a incorporação de considerações sobre a saúde nos processos de negociação das COPs, com o objetivo de minimizar os efeitos adversos do clima na saúde pública.
O texto foi assinado por 124 países, incluindo Brasil, China, Estados Unidos, Índia, Alemanha e Reino Unido.
Segundo estimativas da OMS, o clima deve causar pelo menos 250 mil mortes adicionais por ano entre 2030 e 2050. Dessas, 38 mil devem ser de idosos expostos ao calor extremo, outras 48 mil mortes devem acontecer por diarreia, 60 mil por malária e 95 mil mortes de crianças ligadas a má nutrição.
No último ano, o painel do clima da ONU estimou os impactos da crise climática no aumento de doenças infecciosas, calor e desnutrição, nos deslocamentos forçados de populações e até na saúde mental, por conta de traumas após desastres e pela perda de comunidades e suas culturas.
A repórter Ana Carolina Amaral viajou a convite de Avaaz, Instituto Arapyaú e Internews.