Sim, nós estamos diante de mais uma “história de origem”, algo que tem sido cada vez mais comum em Hollywood, especialmente com franquias de sucesso estrondoso. No entanto, assim como aconteceu com o último Jogos Vorazes, em Wonka temos um filme que consegue ter vida própria.
Chega aos cinemas nesta quinta-feira (7) o longa que foca a juventude de um dos mais amados personagens dos cinemas: Willy Wonka, já vivido por Gene Wilder e Johnny Depp. Na nova superprodução, é Timothée Chalamet, de Me Chame pelo Seu Nome e Duna, que interpreta o excêntrico e criativo mestre chocolateiro.
Wonka se inspira na obra original do autor, Roald Dahl, e também no filme que adapta a história, A Fantástica Fábrica de Chocolates, de 1971, comandada por Mel Stuart, com Wilder no papel principal. A versão do cineasta Tim Burton, de 2005, com Depp, parece se conectar muito menos com este novo capítulo. E, assim como nos filmes anteriores, a música é parte essencial aqui, talvez ainda mais.
São mesmo vários momentos musicais, com o filme já sendo aberto por um deles, mas todos bonitos e bem dirigidos, com destaque para A World of Your Own.
Com uma performance encantadora, Timothée Chalamet faz o próprio Wonka, sem ficar preso aos detalhes que ajudaram a tornar o personagem um sucesso com Wilder e Depp. Menos sombrio, o jovem chocolateiro é envolto em uma aura de esperança que permeia toda a projeção.
Chalamet cativa logo de cara, mas vai conquistando o público ainda mais conforme o roteiro mostra quanto a essência de Wonka está em sempre enxergar a bondade no outro e confiar no melhor de cada pessoa, ainda que isso faça com que ele esteja frequentemente metido em enormes enrascadas por sua ingenuidade.
Todo esse clima positivo é capturado com esmero pelo excelente Paul King, cineasta por trás dos brilhantes filmes do ursinho Paddington. O diretor, que também assina o roteiro com Simon Farnaby, conduz a trama com uma leveza exemplar. Mesmo cenas mais profundas e temas pesados são apresentados ao espectador com um olhar gentil.
King também aproveita ao máximo seu poderoso elenco, com vários nomes que estiveram ao seu lado na franquia Paddington. A vencedora do Oscar Olivia Colman é, como sempre, dona de um carisma inigualável. Aqui sendo uma ardilosa vilã, a veterana desperta muita raiva, mas também consegue arrancar gargalhadas com facilidade. Sua troca em cena com Tom Davis rende momentos impagáveis.
Todo o núcleo da lavanderia é composto de atores que vão conquistar você. Rakhee Thakrar, Natasha Rothwell, Jim Carter, Rich Fulcher e a pequena Calah Lane formam um grupo muito cativante. Calah, que vive a importante personagem Noodle, tem diálogos lindíssimos com Chalamet e é um dos motores da trama.
É impossível não falar de algumas participações mais que especiais no filme, como a de Sally Hawkins, que tem pouco tempo de tela, mas cria uma linda conexão como a mãe de Willy Wonka. Além dela, o próprio roteirista, Simon Farnaby, faz uma ponta hilária como o guarda de um zoológico.
Famoso como o Mr. Bean, Rowan Atkinson empresta seu humor ácido a um religioso corrupto e garante cenas divertidas. Para fechar, Hugh Grant rouba vários momentos como um dos Oompa-Loompas. O timing cômico de Grant é impecável, e ele não precisa de muito para dar um verdadeiro show.
Talvez o único que destoe do roteiro seja o chefe de polícia, interpretado por Keegan-Michael Key. O ator faz o que pode, mas o problema é que o personagem se baseia em uma piada nada engraçada, bastante ultrapassada e até ofensiva. Não tinha a menor necessidade.
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É claro que, em um universo tão mágico e colorido como o de Wonka, todo o visual é parte importantíssima da trama. E aqui tudo é feito com muito capricho, em uma ambientação que nos transporta para onde os personagens nos levam.
A direção artística merece reconhecimento, e não seria nada impossível ver o filme disputando em categorias técnicas nas premiações do próximo ano. Alguns nomes do elenco também poderiam descolar indicações, viu? Principalmente Hugh Grant, Olivia Colman e o próprio Chalamet.
Como um reconfortante abraço, Wonka é daqueles filmes que aquecem o coração. Leve, otimista e feito para toda a família, o longa é uma grata surpresa para encerrar 2023 nos cinemas.
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