Este texto foi escrito por um colunista do TecMundo; saiba mais no final.
Quando se questiona pessoas sobre o porquê não praticam exercícios físicos, a maioria relata falta de tempo. Uma possível solução considerando essa comum barreira entre a população, seria reduzir o tempo de exercício. O HIIT (Treinamento Intervalado de Alta Intensidade) é uma interessante forma de fazer isso, gastando pouco tempo e com resultados interessantes.
No HIIT, utilizamos apenas um exercício e o realizamos em séries de elevado esforço com intervalos de recuperação, como corrida e caminhada na esteira, na bike spinning e outros. O HIIT vem sendo usado até nas viagens espaciais por astronautas para minimizar os efeitos da microgravidade.
Uma questão que intriga praticantes e pesquisadores é se o HIIT é efetivo no tratamento de sobrepeso e obesidade e se ele seria mais efetivo que o treinamento contínuo de moderada intensidade.
Um novo estudo foi realizado por pesquisadores brasileiros, comparando a efetividade do HIIT e do treino em moderada intensidade para perder gordura corporal em pessoas acima do peso e com obesidade. Estudos anteriores já mostravam que em uma média de 10 semanas o HIIT é efetivo para reduzir o peso corporal (-1,4 kg de gordura), o IMC, a relação cintura-quadril (indicativo de risco para desenvolvimento de doenças), diminuição do percentual de gordura (-1,3%) e da gordura visceral.
HIIT é uma opção efetiva e curta em relação ao tempo.Fonte: Getty Images
Tudo isso sem diferença quando comparamos com o exercício moderado, ou seja, ambos são efetivos e em nível similar. O mais recente estudo foi adiante, pois selecionou apenas outros estudos que utilizaram o padrão ouro na medição de gordura corporal – o DEXA, um exame diagnóstico por imagem de melhor qualidade.
Resultados do novo estudo
As comparações do novo estudo não demonstraram superioridade de treinar HIIT ou do aeróbio contínuo em moderada intensidade, como correr na esteira por 30 minutos na mesma velocidade, para reduzir o percentual de gordura corporal. Tanto a abordagem HIIT quanto do aeróbio moderado contínuo são viáveis para ajudar na perda de gordura.
A hipótese dos autores foi refutada, pois eles acreditavam que o HIIT seria superior, porém os dois tipos de estímulos foram válidos e similares, tanto para o percentual de gordura como para a gordura visceral abdominal. Pessoas com mais gordura acumulada na região abdominal têm duas vezes mais chances de desenvolver doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e hipertensão.
Algumas vantagens para o HIIT, além da economia de tempo, foram o aumento do condicionamento cardiorrespiratório pela melhora do consumo máximo de oxigênio (VO2max), da glicemia de jejum e na redução do colesterol total.
Afinal, qual exercício fazer?
As preferências individuais de quem irá se exercitar devem ser levadas em consideração, assim o HIIT se apresenta como uma estratégia que preza pela eficiência do tempo, pois a literatura aponta como uma das principais causas da população não fazer exercício a falta de tempo, mas com elevado esforço, comparado ao exercício contínuo de moderada intensidade, em que se gasta mais tempo na atividade, mas não precisa se esforçar tanto. Ainda, o exercício de esforço moderado pode ser mais prazeroso para a maioria das pessoas.
Voltando a possível solução considerando a falta de tempo como principal barreira para a inatividade física das pessoas, entendemos que não é tão simples como sugerir um HIIT para as pessoas e elas fazerem tiros rápidos correndo na esteira. Exercícios físicos são um comportamento complexo em que uma das variáveis é o tempo.
A determinação de qual é o melhor para você, deve ser realizada com o auxílio de um profissional de educação física capacitado, que considere sua condição física e mental, mas também seu prazer na atividade, pois esse é um fator relevante para que continue treinando. Lembre-se que a constância importa mais que a intensidade.
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Fábio Dominski é doutor em Ciências do Movimento Humano e graduado em Educação Física pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). É Professor universitário e pesquisador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício (LAPE/UDESC). Faz divulgação científica nas redes sociais e em podcast disponível no Spotify. Autor do livro Exercício Físico e Ciência – Fatos e Mitos.