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Embora categorizar corpos seja assunto para lá de ultrapassado, uma nova expressão vem emergindo para incluir quem não é magra nem gorda: “midsize”. De origem americana, é frequentemente usado na indústria fashion para definir modelos que vestem algo entre 42 e 48 em numeração brasileira.
Reportagem da Folha mostrou que o número de modelos plus size cresceu timidamente na última temporada de moda do hemisfério norte, enquanto a presença de mids apresentou tendência de estabilidade.
Plus foram de 0,6% para 0,9%. Os tamanhos médios variaram de 3,8% para 3,9%. De forma geral, 95,2% das modelos vestiam manequins menores que 40.
O termo, apesar de ter lugar cativo no mundo fashion, ganha adeptas fora dele. Homens e mulheres que afirmam ter encontrado seu lugar em meio às categorizações.
Alguns defensores da expressão defendem que se considerar midsize diz respeito à percepção sobre o próprio corpo e não necessariamente estar dentro da numeração estabelecida pela indústria da moda.
A analista de mídias sociais Anna Clara Ferro, 27, descobriu o termo enquanto fazia uma pesquisa para seu TCC (trabalho de conclusão de curso). Ela se deparou com um artigo que explicava o conceito e logo se identificou com ele, embora não tivesse certeza que se encaixava na categoria.
“Foi meio que uma epifania, uma explosão mental”, diz ela.
A expressão a ajudou a se aceitar mais. Passou a notar mulheres com corpos semelhantes nas ruas, nos filmes e em redes sociais. Começou a ver beleza nelas e enxergar a si própria com outros olhos.
“Descobrir que esse grupo de mulheres que se identifica com essa definição me ajudou a me encaixar em algum lugar”, afirmou. “No mundo ideal, não deveria existir esse tipo de nomenclatura. Mas para o mundo que a gente vive, que segrega e rotula tudo, às vezes quanto mais rótulo, mais importante, porque em algum deles você vai se enxergar.”
A nutricionista Marcela Kotait, coordenadora voluntária do ambulatório de Anorexia Nervosa do Programa de Transtornos Alimentares do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), diz que prefere não usar o termo com pacientes para evitar categorizações
“Essa classificação do corpo em tamanho é algo que eu acredito que, na verdade, cria só mais uma forma de opressão”, afirma Kotait. “Ela acaba invalidando a pluralidade de formas.”
Ao mesmo tempo, vê uma tentativa de inclusão por meio da moda, que traz estruturas físicas comuns para o ambiente fashion. “O midsize também é uma normalização do corpo comum. Acho que a gente começa a falar de todos os tipos de corpos, ainda que com padrões, classificações e termos específicos”, conclui.
Para ler na Folha
Imagine entrar na menopausa e ter políticas específicas para lhe apoiar? A colunista da Folha, Marina Izidro, conta como o Reino Unido está discutindo ações para mulheres no período.
Um romance de Carolina Maria de Jesus está chegando às prateleiras. Trata-se de “O Escravo”, obra inédita da escritora. A repórter Vitória Macedo relata como se deu a construção do livro nesta reportagem.
Gabriela Caseff mostra como influenciadoras estão transformando a moda evangélica por meio das redes sociais.
Também quero recomendar
Para ler, o livro “A segunda mãe”, de Karin Hueck. A obra tem uma prosa que nos envolve ao contar como duas mulheres que têm uma filha vivem a maternidade. Mistura opressão social e tensões da vida privada, além de uma série de discussões sobre papéis de gênero.
Está em São Paulo e quer uma experiência raiz? Vá ao Rei do Filé, que fica no centro da cidade. O local tem mais de 100 anos e mantém sua identidade no visual e cardápio. O carro chefe é o filé mignon com alho, mas eu recomendo mesmo a parmegiana.
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