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Lembro que tinha 16 anos e estudava teatro quando li a frase “Fracasse de novo. Fracasse melhor”, retirada da obra “Worstward Ho” (1983), de Samuel Beckett. Foi como perceber o óbvio: falhas e erros também podem ser caminhos para o sucesso. Desde então, a sentença se tornou quase um clichê: está na boca de coaches, executivos e influenciadores. E, claro, é também uma frase oportuna para o ano novo.
O balanço do meu ano é positivo, pois percebo mais vitórias do que frustrações. Ainda assim, fracassei com as mesmas metas pessoais de sempre, fui péssima nos mesmos relacionamentos que já tinha ido mal no ano anterior, e não consegui alcançar uma cassetada de objetivos.
Enquanto nossas conquistas são frequentemente visíveis, algumas até postadas nas redes sociais, os fracassos parecem ser guardados com mais frequência –no meu caso entre eu, o bloco de notas do meu celular e algumas poucas e boas amigas.
Refletindo sobre o que consegui alcançar ou me frustrei neste ano, além de como costumo dimensionar o que é sucesso ou revés, lembrei-me de uma reportagem da Folha que publicamos na véspera de 1º de janeiro. Quando tivemos a ideia de debruçar sobre o assunto, tínhamos o intuito de responder à seguinte pergunta: vale a pena estabelecer metas para o novo ano? Ao que tudo indica, vale sim. Especialistas afirmaram que esse é um passo importante para sair do lugar.
Psicólogos ouvidos pela reportagem disseram que determinar objetivos para o ano que se aproxima é um ato terapêutico. Nos dá a chance de tomar decisões que seriam deixadas de lado caso as metas não existissem. Ter pequenas conquistas, mesmo que não nos levem à vitória, nos deixam um pouquinho mais perto dela.
Isso significa que mais importante do que alcançar o objetivo, é a trajetória que se faz para tentar chegar até ele. Mesmo quando não cumpridas ou realizadas parcialmente, as metas nos dão a oportunidade de avançar, ter consciência de problemas e buscar soluções.
“É saudável refletir sobre períodos futuros de nossa vida, contanto que esta ação não aconteça isoladamente. A questão não é estipular as metas, mas a maneira que essa construção interna acontece”, disse a psicóloga clínica Aline Patrícia Machado Marques na ocasião.
A reportagem também traz o exemplo da médica radiologista Juliane Alves Paron, 45, que nem sempre consegue cumprir as metas, mas, ainda assim, considera planejar hábitos como algo positivo.
“Mesmo planos não cumpridos, abandonados, são válidos. Até porque podemos repensar o que pesou no insucesso e modificar a abordagem no próximo ano”, afirmou.
Quando olho para meus objetivos de 2023 sob a ótica do percurso, e não da vitória, fracassar se torna até motivo de alguma comemoração. Não li os 35 livros que havia me desafiado, mas consegui encarar um número maior de obras do que em 2022. Também não fiz atividade física 150 dias no ano, mas passei a fazer exercícios com mais regularidade e, de quebra, minha alimentação também melhorou.
Então, que em 2024 a gente fracasse de novo, melhor e, quem sabe, também se realize.
Para ler na Folha
Aproveitando o ritmo de fim de ano, quero indicar algumas reportagens publicadas ao longo de 2023.
A primeira é a entrevista que a jornalista Gabriela Salles fez com o professor de Harvard Robert Waldinger, diretor do maior estudo sobre desenvolvimento adulto do mundo –popular por ser a mais extensa pesquisa sobre felicidade já realizada. Nesse texto, ele conta que o principal arrependimento dos homens participantes do estudo era ter passado muito tempo no trabalho e pouco tempo com quem amavam, enquanto as mulheres citaram que gostariam de não ter se preocupado tanto com o que as pessoas pensam.
Este outro texto fala sobre mulheres que se tornaram mães e se arrependem da maternidade. A reportagem conta nuances do tema e mostra que o sentimento não sinônimo de desamor pelos filhos. Elas questionam os papéis de gênero e falam da pressão que sentem para abdicarem de si mesmas.
E, por fim, um texto já citado aqui mas que ainda vale a lembrança: um estudo aponta que mulheres estão cada vez mais estressadas, sobrecarregadas, ansiosas e insatisfeitas. Na reportagem, a repórter especial Fernanda Mena nos mostrou o que causa esse fenômeno.
Também quero recomendar
Para beber, um dos espumantes que fizeram parte deste Folha Prova. São rótulos brut de até R$150. Não conheço todos os produtos degustados, mas dois deles, o Salton Ouro Brut e o Arte Brut Casa Valduga, costumo comprar e recomendo bastante.
Para ouvir, o álbum “Xande canta Caetano”, indicação que já deveria ter aparecido aqui há um tempo, visto a quantidade de vezes que escutei desde que foi lançado. A obra também está entre os melhores álbuns de 2023 segundo críticos do jornal.
Esta é a última newsletter da iniciativa Todas de 2023. Obrigada por ter me acompanhado nesse início. Nos vemos novamente em 10 de janeiro. Até lá!
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