‘Traição’ de Ancelotti e apostas em Tite e Diniz. As razões do ingênuo fracasso de Ednaldo. E do vergonhoso 2023 da Seleção – Prisma – Zonatti Apps

‘Traição’ de Ancelotti e apostas em Tite e Diniz. As razões do ingênuo fracasso de Ednaldo. E do vergonhoso 2023 da Seleção – Prisma


São Paulo, Brasil


Em 107 anos, o comando do futebol brasileiro jamais teve na sua figura central um negro e nordestino.


Ednaldo Rodrigues significava a personificação de brasileiro comum, que não foi privilegiado, não saiu da elite.


Nascido de família remediada, em Vitória da Conquista, na Bahia. Formado em Ciências Contábeis, viu na parte administrativa do futebol uma chance de crescer. Hábil politicamente, chegou à presidência da Federação Baiana de Futebol.


De maneira discreta, ficou 17 anos no poder, entre 2001 e 2018.


Homem de confiança de Rogério Caboclo, virou vice-presidente da CBF. 


Quanto Caboclo caiu, acusado de assédios sexual e moral, Ednaldo assumiu interinamente.


E venceu a eleição para a CBF, em um pleito que teve a autorização do Ministério Público, em março de 2022. Ele acreditou que ficaria no cargo até 2026.


Também supôs que os ex-presidentes banidos do futebol, Ricardo Teixeira e Marco Polo del Nero seguiriam suas vidas sem interferir na CBF. No que estava completamente enganado.


Seu primeiro erro, porém, foi com Tite.


Em agosto de 2021 ao assumir a CBF, ele já sabia que o treinador havia se deixado levar pelos jogadores. Principalmente, Neymar. Ou seja, o técnico se comprometeu com o grupo que o havia levado a outro patamar, nas Eliminatórias ainda para o Mundial de 2018. 


Ednaldo,que detesta conflitos, manteve o treinador, apostando em uma reviravolta na Copa do Catar. Assessores imploravam para que ele apostasse em um técnico do Exterior, ou no mínimo, que não tivesse ligação emocinal com os atletas.


O presidente não quis o rompimento. E pagou caro por isso.


O segundo fracasso seguido de Tite atingiu em cheio a credibilidade da Seleção, da CBF. Irritou profundamente patrocinadores que investiram centenas de milhões na Copa de 2022.


Ednaldo sabia que precisava de um grande trunfo para aliviar a pressão.


Um treinador de respeito mundial, foi o que prometeu, no início deste ano.


Procurou Carlo Ancelotti. O italiano treinador do Real Madrid aceitou ouvir o planejamento da CBF para a Copa de 2026. Ednaldo sabia que ele tinha contrato até o meio de 2024. 


Disse que iria esperar.



O treinador italiano ficou animado com o convite.


E deixou claro que estava inclinado a aceitar.


Disse, de acordo com pessoas ligadas ao presidente, que não poderia falar nada publicamente porque tinha contrato em vigor. Só em julho de 2024 assumiria para o mundo. Se tudo seguisse a normalidade.


Foi o que bastou para Ednaldo Rodrigues mandar funcionários da CBF espalharem para veículos de comunicação que o acordo com o italiano estava fechado.


E que Fernando Diniz seria o treinador interino, em 2023 e os seis primeiros meses de 2024.


Os patrocinadores da CBF e a mídia brasileira ficaram aliviados.


O Brasil teria um dos melhores treinadores do mundo na Copa dos Estados Unidos.


Só que o fracasso do treinador do Fluminense comandando a Seleção foi assustador.


E voltou a enfraquecer Ednaldo Rodrigues, que tentava se defender usando o nome da Ancelotti.


Pela primeira vez em Eliminatórias, a Seleção foi humilhada, perdendo três jogos seguidos. Uma derrota também inédita, em casa, simbólica, no Maracanã, contra a Argentina.


Federações e clubes viraram as costas a Ednaldo.


O processo de invalidação da sua eleição foi aceito pela Justiça Comum, que o tirou do cargo.


Não adiantou Ednaldo buscar auxilío na Fifa e na Conmebol. As entidades não aceitam intervenção da justiça nas eleições e administrações de suas federações e confederações.


Membros das entidades chegarão na segunda semana de janeiro.


Verificarão a legalidade esportiva da destituição e a marcação de novas eleições.


Só que para Ednaldo será à toa.


Ele percebeu que não tem apoio nenhum.


Teixeira e Marco Polo usaram sua influência em relação aos bastidores do futebol para assegurar o isolamento do dirigente baiano.



A gota d’água foi quando dirigentes de federações quiseram ter acesso aos documentos que Ancelotti teria assinado, se comprometendo a dirigir o Brasil a partir de julho do próximo ano.


E Ednaldo não tinha.


Disse que tudo foi ‘na palavra’.


Usou a expressão ‘olhos nos olhos’.


Foi a gota d’água para ele ficar completamente sozinho.


A reação dos seus apoiadores mais próximos foi de incredulidade.


Consideraram uma situação de pura ingenuidade.


O golpe mais dolorido foi a renovação de contrato de Ancelotti com o Real Madrid, há dois dias.


O italiano decidiu não mais perder tempo com um dirigente que foi afastado do comando do futebol brasileiro.



Ednaldo não teve outra saída a não ser anunciar que não concorrerá à nova eleição na CBF.


E nem mesmo se a Fifa considerar ilegal a intervenção, não voltará ao cargo.


Por falta total de apoio.


E pelo desagrado dos patrocinadores.


Não ter nada assinado com Ancelotti, e mesmo assim alardear acordo, foi considerado algo ingênuo e que não combina com um cargo tão importante.


Assim como escolher Fernando Diniz, técnico que leva mais de um ano, trabalhando todos os dias, em um clube.


Em contatos rápidos com jogadores que nunca atuaram juntos, o resultado só poderia ser o que foi: desastroso.


Ednaldo quis agradar a mídia carioca, que adorava Diniz.


E ter um treinador mais ‘maleável’ do que o português Abel Ferreira, disparado, o melhor técnico no Brasil. Tanto que se submeteu a Neymar, como Dunga, Felipão e Tite fizeram.


Pagou caro por seus erros.


E agora está abandonado.


Flávio Sveiter, ex-presidente do STJD, e Reinaldo Carneiro Bastos, presidente da Federação Paulista de Futebol, são os candidatos à sucessão de Ednaldo.


Ednaldo Rodrigues personifica o fracasso da Seleção nos dois últimos anos.


Por se deixar enganar em relação a Tite e a Fernando Diniz.


E, principalmente, pela ingenuidade em relação a Ancelotti.


Não ter documento nenhum assinado foi suicídio político…

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