Celine Song acaba de lançar seu primeiro filme “Vidas Passadas”, no qual escreveu e dirigiu, e logo de cara recebeu duas indicações ao Oscar nas categorias mais importantes da premiação: melhor filme e melhor roteiro original. E este é um filme muito interessante, tanto pela sua delicadeza, sua introspecção e suas reflexões, que são profundas e sinceras. Ela está merecidamente indicada ao Oscar, porque colocou seu coração nisso aqui.
O enredo gira em torno de dois amigos de infância, Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo), que parecem feitos, mesmo quando tão pequenos, um para o outro. A família de Nora se muda para o Canadá e eles passam 12 anos sem se falar. Já adulto, Hae Sung vai para a guerra, mas não consegue tirar Nora de sua lembrança. Ele a procura e a encontra na internet. Eles se falam por vídeochamada. Nora já é uma escritora e Hae Sung está na universidade. Ele pretende fazer um intercâmbio na China para aprender mandarim. Ela quer que ele vá até os Estados Unidos, onde mora, para visitá-la, mas cada um tem suas próprias ambições de vida e Nora prefere se afastar novamente de Hae Sung, pedindo-lhe que ele não tente falar com ela novamente por um tempo, para que ele não tire seu foco profissional.
Outros 12 anos se passam sem que eles se falem, até que Hae Sung manda mensagem para Nora dizendo que está indo para Nova York e que quer vê-la. Nora está casada com Arthur (John Magaro) há sete anos. Eles possuem um casamento maduro e honesto. Então, é natural que Nora revele a Arthur sobre seu amor de infância e conte que ele está vindo para vê-la. Arthur é compreensivo, mesmo que esse reencontro que o faz se sentir excluído da vida de Nora doa tanto.
Celine Song explora as emoções dos três personagens diante desse reencontro. Mas, de alguma forma, o personagem mais interessante se torna Arthur, o coadjuvante, e sua reação diante de tudo. Ele se sente enciumado de ver sua esposa diante de alguém com quem tem um vínculo tão forte e que transcende tempo e espaço. Mesmo se sentindo um forasteiro no território da vida dela, ele dá a ela a liberdade de descobrir o que quer. Se é estar com ele, nos Estados Unidos, ou de reacender a antiga chama com seu amor de infância em Seul.
Hae Sung ama Nora incondicionalmente. No entanto, os projetos de vida que ela tem os separou. Nora, de alguma forma, também tem sentimentos por Hae Sung, que a fazem questionar sua identidade e suas escolhas. Todos os dilemas são dolorosos para os três personagens, que se questionam a todo momento os “e se…” da vida. O retorno de Hae Sung coloca Nora em uma encruzilhada do destino. Enquanto isso, Arthur se sente fora do mundo de Nora e Hae Sung, como se fosse uma pedra no caminho do verdadeiro amor. Mas e se o verdadeiro amor não for o idealizado, mas for o real? E se o verdadeiro amor não for aquele construído sobre uma grande história? E se o verdadeiro amor for o amor construído sorrateiramente, por um descuido do destino, às vezes entediante e por vezes sem que se compartilhe muitas coisas em comum? Apesar de sua história juntos, Hae Sung é o passado de Nora. Arthur é o presente e o futuro.
Filme: Vidas Passadas
Direção: Celine Song
Ano: 2024
Gênero: Romance/Drama
Nota: 10