Uma garrafa de água contém em média quase um quarto de milhão de pedaços de nanoplástico, de acordo com uma nova pesquisa publicada em janeiro nos Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Medindo menos de um mícron, os nanoplásticos são frequentemente uma fração minúscula, do tamanho de um grão de poeira doméstica. Uma nova técnica de imagem desenvolvida no estudo mostrou que o número de partículas de nanoplástico na água engarrafada é entre 10 e 100 vezes maior do que o estimado anteriormente, diz Wei Min, um biofísico da Universidade de Columbia e coautor do estudo.
“Milhões de toneladas de plástico são produzidas em todo o mundo a cada ano”, diz Douglas Walker, um químico analítico da Universidade Emory que não estava envolvido na nova pesquisa. Partículas microscópicas desses plásticos podem acabar em alimentos e bebidas no processo de fabricação —elas podem ser introduzidas através de tubos de plástico usados em máquinas, por exemplo— ou podem ser liberadas pela embalagem, como garrafas plásticas.
“Se você pensar sobre o potencial de sua presença como contaminantes ambientais, é enorme”, diz ele.
Mas, embora os nanoplásticos e as partículas um pouco maiores, conhecidas como microplásticos, estejam sendo cada vez mais encontrados em nossos alimentos, bebidas e até mesmo em nossos corpos, seus efeitos em nossa saúde ainda não estão claros.
Aqui está o que sabemos até agora e o que você pode fazer para reduzir sua exposição.
OS NANOPLÁSTICOS NA ÁGUA PODEM PREJUDICAR SUA SAÚDE?
Os pesquisadores ainda não têm evidências sólidas de como essas partículas afetam nossa saúde. Alguns estudos pequenos descobriram que elas podem atravessar a barreira hematoencefálica, entrar na placenta e aparecer em nossa urina.
“Mas se um determinado microplástico ou nanoplástico está presente em um tecido, isso não significa necessariamente que ele cause danos”, diz Konstantinos Lazaridis, um gastroenterologista que estuda o papel dos fatores ambientais na doença hepática na Clínica Mayo.
É possível que pequenos pedaços de plástico simplesmente passem pelo corpo da maioria das pessoas sem causar muito dano, afirma Lazaridis. Ou pode ser que essas partículas ambientais tenham impacto apenas em pessoas que já têm predisposição genética para doenças, complementa.
Alguns pesquisadores teorizaram que os microplásticos podem estar por trás de padrões de doenças que ainda não foram explicados por outras causas, como o aumento de cânceres colorretais entre os jovens ou o aumento de doenças de Crohn e colite ulcerativa. Mas os estudos estão longe de ser conclusivos.
Cientistas que estudam microplásticos e nanoplásticos acreditam que “quanto menor o tamanho da partícula, mais perigosa ela pode ser”, diz Min. Em outras palavras, os nanoplásticos podem ter um impacto maior na saúde do que os microplásticos porque há mais deles e porque eles podem entrar mais facilmente nas células.
Um número crescente de literatura sugere que pelo menos alguns aditivos e produtos químicos encontrados em plásticos podem prejudicar nossa saúde, afirma Walker. Isso inclui produtos químicos como bisfenol A, ou BPA, que foi associado ao aumento da pressão arterial e diabetes tipo 2; substâncias per- e polifluoroalquil, ou PFAS, que podem afetar a fertilidade; e ftalatos, que podem interferir nos hormônios.
Mas muitos outros produtos químicos usados na fabricação de plásticos não foram estudados quanto à toxicidade em humanos. Um estudo identificou mais de dez mil compostos únicos usados na fabricação de plásticos e descobriu que apenas uma fração muito pequena foi avaliada quanto aos seus potenciais efeitos na saúde, diz Walker.
Os especialistas também precisam entender melhor a rapidez com que várias partículas de plástico e aditivos entram em nosso sistema, quanto pode ser necessário acumular para causar um efeito e quanto tempo eles permanecem.
COMO VOCÊ PODE MINIMIZAR SUA EXPOSIÇÃO?
Você pode não ser capaz de evitar completamente os nanoplásticos ou microplásticos, mas se quiser ser cauteloso, pode tomar medidas para reduzir sua exposição, afirma Walker.
Beba água da torneira filtrada sempre que possível. Um filtro com tamanho de poro de um mícron ou menos pode ajudar a reduzir os microplásticos em sua água; poros de mícron menores serão melhores para filtrar partículas menores. Mas você deve garantir que seu filtro não seja feito de plástico, diz Walker. Em vez disso, use filtros de cerâmica ou carbono certificados pela NSF International ou pela Water Quality Association.
Quando estiver em movimento, considere usar uma garrafa de vidro ou aço inoxidável. Mas se você precisar se hidratar e só tiver acesso a uma garrafa de água de plástico, tudo bem, diz Walker. Você pode minimizar a degradação do plástico mantendo sua garrafa longe da luz solar e do calor.
Se você quiser reduzir ainda mais sua exposição, Walker fala para tentar limitar o uso de outros produtos plásticos, como recipientes de alimentos e sacolas de compras descartáveis.