Em 2018, aos 14 anos, Pedro Goifman gravou uma das séries mais intensas e desafiadoras de sua vida: Histórias de Fantasmas Verdadeiros Para Crianças. No ar no canal Cine Brasil TV apenas seis anos depois, a obra retrata a Ditadura Militar (1964-1985) de forma lúdica e artística, mas ainda com a missão de educar sobre um dos períodos mais sombrios da história brasileira. Para o ator, participar do projeto foi um verdadeiro desafio, mas extremamente enriquecedor para sua carreira e vida pessoal.
“Esse foi um período terrível da nossa história, e é impossível falar sobre o tema sem abordar a tortura, a repressão, a censura e outras formas de violência. Saber dosar a maneira de explicar o que aconteceu sem aterrorizar as crianças, mas também de maneira lúdica e artística –para que não se torne uma aula”, comentou o ator em entrevista exclusiva à Tangerina.
Para ele, porém, a diretora e roteirista Mariana Lacerca conseguiu encontrar uma estratégia simples e genial para contornar os obstáculos. “Ela colocou crianças mediando esse contato, para que elas pudessem fazer os questionamentos que quisessem e para que a série fosse uma conversa horizontal. Éramos um grupo de sete (sendo eu o mais velho, com 14 anos na época). Nós conversávamos com pessoas que viveram a época da Ditadura, intercalando com momentos lúdicos de encenações”, explica ele.
“Eu lembro que, por ser o mais velho, optei por ouvir mais e embarcar nas questões trazidas pelos meus parceiros de cena, já que muitas vezes os meus interesses não cabiam em um projeto infantil. Entretanto, várias das cenas que estão lá foram propostas que eu trazia e lapidava com a Mariana.
Foi um processo pouco hierárquico e a equipe ouvia muito as crianças. Essa sensibilidade está no resultado final”, celebra.
Pedro revela que ficou animado de cara quando soube que participaria de um projeto tão ousado. “Os meus avós, Berta Goifman e Jayme Goifman, eram judeus comunistas e foram militantes contra a ditadura. Contar essa história foi muito especial pra mim. Me debrucei sobre o assunto, conversei com a minha vó, li livros e pesquisei bastante”, contou ele.
Para Pedro, aprender sobre a Ditadura no projeto foi extremamente enriquecedor. “Acho que o principal aprendizado foram as histórias individuais daqueles personagens. Eu já sabia o que tinha ocorrido na época e, até por depoimentos da minha família, já havia escutado pessoas que viveram as crueldades do regime. Porém, ouvir mais histórias e das mais variadas foi muito impactante. Pude me aproximar das dores e da alegria de viver daquelas pessoas, e isso traz aprendizados infinitos. Além disso, tive contato com a história do genocídio de povos indígenas naquele período, que eu já sabia que tinha ocorrido, mas não tinha ideia da dimensão”, revela.
Como artista, a série trouxe uma liberdade que ele não tinha experimentado antes. “Eu, por trabalhar como ator desde muito novo, já frequentei diversos vários sets de filmagem e já havia vivido processos em que eu tinha muita liberdade. Porém, por se tratar de uma obra documental em que nós éramos condutores de uma história que realmente aconteceu, a história ia sendo constituída e reconstituída na nossa frente. A partir disso, cenas eram pensadas e nós atuávamos. Não foram poucas as vezes em que eu cheguei com uma ideia para a Mariana e nós discutimos, filmamos e a cena entrou para a série. Eu já tinha improvisado muito em outros projetos e até inventado cenas, mas daquele jeito, do zero, a partir de depoimentos reais tão fortes, foi a primeira vez. E acho que única”, pontua.
Assista ao trailer de Histórias de Fantasmas Verdadeiros para Crianças:
Histórias de Fantasmas Verdadeiros para Crianças
Série aborda o período da Ditadura Militar sob perspectiva infantil