Sob o brilho artificial da iluminação pública, um carro pode ser visto se aproximando lentamente. Sensores ativos sobre o veículo emitem um zumbido baixo. Uma letra “W” verde e azul brilha no para-brisa, fornecendo apenas luz suficiente para olhar para o interior do carro – e podemos ver o assento do motorista vazio.
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O freio é firmemente ativado, o carro estaciona e uma notificação de chegada soa no telefone da pessoa que o aguarda. Quando o passageiro abre a porta para entrar, uma voz o cumprimenta pelo sistema de som do veículo: “boa noite, este carro é todo seu – sem ninguém sentado na frente”.
Esse é um robotáxi Waymo One, chamado apenas 10 minutos antes por um aplicativo. A oferta desse serviço ao público vem se expandindo lentamente pelos Estados Unidos e é um dos vários progressos que indicam que a tecnologia dos veículos autônomos está realmente se tornando parte das nossas vidas.
A promessa da tecnologia de veículos sem motorista vem seduzindo as pessoas há muito tempo. Ela pode transformar nossa experiência de transporte e longas viagens, afastar as pessoas de ambientes de trabalho de alto risco e agilizar as indústrias. Essa tecnologia é também fundamental para ajudar-nos a construir as cidades do futuro, redefinindo a nossa dependência e relação com os carros, reduzindo as emissões de carbono e construindo o caminho para formas de viver mais sustentáveis.
E poderá ainda, em teoria, tornar nossas viagens mais seguras. A Organização Mundial da Saúde estima que mais de 1,3 milhão de pessoas morrem todos os anos em acidentes de trânsito. “Queremos estradas mais seguras e redução do número de mortes. A automação poderá um dia nos oferecer isso”, afirma Camilla Fowler, chefe de transporte automático do Laboratório de Pesquisa de Transportes (TRL, na sigla em inglês) do Reino Unido.
Mas, para que a tecnologia de transporte sem motorista seja adotada em larga escala, muitas mudanças ainda são necessárias.
“Os veículos sem motorista devem ser uma forma muito calma e serena de ir do ponto A ao ponto B. Mas nem todo motorista humano à sua volta comporta-se dessa maneira”, afirma David Hynd, cientista-chefe de segurança e pesquisa do TRL. “É preciso ser capaz de lidar com motoristas humanos dirigindo em alta velocidade, por exemplo, ou desrespeitando as regras de trânsito.”
E este não é o único desafio. Existe a regulamentação, a reformulação dos códigos de trânsito, a percepção do público, a melhoria da infraestrutura das nossas ruas, vilas e cidades e a grande questão da responsabilidade final pelos acidentes de trânsito. “Toda a indústria de seguros está examinando como lidar com essa mudança, em que não há mais uma pessoa responsável encarregada do veículo causador do acidente”, segundo Richard Jinks, vice-presidente comercial da companhia de software para veículos autônomos Oxbotica, com sede em Oxfordshire, na Inglaterra.
A companhia está testando sua tecnologia em carros e veículos de entrega de mercadorias em diversos locais no Reino Unido e na Europa continental.
O objetivo dos especialistas é ter veículos com direção totalmente autônoma, seja na indústria, nas redes de transporte mais amplas e nos carros de passeio, que possam ser desenvolvidos e utilizados em qualquer parte, em todo o mundo.
A Mcity, da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, testa carros autônomos em suas pistas que imitam o ambiente de uma cidade real, completa e com faixas para pedestres — Foto: JEFF KOWALSKY/AFP/GETTY IMAGES
Mas, com todos esses obstáculos a serem transpostos, o que exatamente nos espera para os veículos autônomos nos próximos 10 anos?
O maior obstáculo da indústria de tecnologia de carros sem motorista é como fazer com que os carros sejam operados com eficiência e segurança em ambientes humanos complexos e imprevisíveis. Resolver essa parte do quebra-cabeça será o foco principal de atenção nos próximos dois anos.
Especialistas estão estudando essa questão nas instalações de teste da Mcity, na Universidade de Michigan, nos…