Você sabe ouvir crítica? – 03/03/2024 – O Pior da Semana – Zonatti Apps

Você sabe ouvir crítica? – 03/03/2024 – O Pior da Semana

Giovana me escreve perguntando se eu sei ouvir críticas e o que faço quando preciso dizer a algumas pessoas que não gostei do trabalho delas. Achei interessante receber esta mensagem dela logo agora que um rapaz, inscrito na minha oficina literária, surtou com a minha opinião sobre sua crônica.

O homem, ao ouvir que eu achava seu texto “sem propósito porque soa machista de verdade e não como um recurso de ironia para fazer pensar ou mesmo como um personagem literário (odioso, mas perdoável por ser personagem)” teve uma síncope e lotou minha caixa de email com descomposturas e ofensas —seria ele mais sexista do que seu texto detestável?

Expliquei que um texto como o de Nelson Rodrigues, por exemplo, incrivelmente bem escrito, que tanto elevou personagens mulheres e seus desejos, podia resvalar, dentro do personagem literário cultuado do autor, seus clássicos chauvinismos. E daríamos a desculpa de que a literatura só pode tudo quando já é muita coisa. Mas aquelas frases tão ofensivas às mulheres que ele cometeu em aula, causando ojeriza até em senhores com camiseta de futebol, não servia para nada além de náuseas e indignação.

Já estamos na segunda ou terceira semana de encontros e em todos eles, como imaginei que era esperado pelos participantes, eu fiz o que uma pessoa que está tão exposta a opiniões (e no passado sofreu com elas) sabe que deve fazer: começo elogiando tudo que posso (em raros casos, como o do sociopata que está me ameaçando, não tem nada para enaltecer) e depois, com um misto de delicadeza e firmeza, desço meu cacete. Não dá para dizer que não estou tentando amaciar as carnes ególatras e nem que não entendo a dificuldade que é trazer o próprio fígado para o centro da roda.

Ano passado uma cidadã que tem como leitores um pequeno grupo que vive de defenestrar os outros com aquele triste e óbvio deboche de quem ainda não se tornou minimamente relevante, resolveu me atacar em uma rede social dizendo que eu não havia feito uma faculdade que prestasse. Me mandando prestar vestibular.

Volta e meia esses ratos-haters de biblioteca aparecem. Gente que fica escandalizada que um professor titular “ande comigo”. Quando eu e Christian Dunker divulgamos nossos cursos e podcasts a internet enlouquece e tem camaradas, ele me conta, rindo muito, que ligam pessoalmente para pedir a ele que se respeite: “cara, não se venda, ela não é acadêmica”. O termo “preconceito de classe” deveria servir também para se referir às classes universitárias?

E se eu respondo mandando à merda (infelizmente nem sempre aguento ficar quieta e acabo dando palco para quem é maluco por um palco dançar), se eriçam todos “você não suporta crítica ao seu texto?”. Não é realmente curioso quando atacam uma pessoa e acham que estão atacando o texto dela? O grande lance é que é quase impossível respeitar a crítica de quem não respeitamos nem como profissional e nem como pessoa.

A real é que boa parte da literatura de hoje é pessoal (o doido do curso está fora deste debate porque não apresentou literatura e sim um textão fascista de tio do Facebook) e, portanto, tudo se mistura e se confunde com a vida real dos autores. Vão chamar de fenômeno da atualidade, e concordo, mas desde meus 15 anos eu já preferia ler autoficção e já existia uma vasta oferta nas livrarias.

Talvez no meu caso isso seja mesmo bagunçado, porque eu escrevo em primeira pessoa. Mas no caso do sexista abusador moral da minha oficina literária, eu não estava atacando a sua índole podre, eu ainda nem a conhecia propriamente. Bons tempos.

O texto era somente muito precário (e o texto, sim, tinha uma índole bem podre). Mas a partir do momento em que ele defende suas medíocres linhas como sendo suas vísceras e me chama de puta e vaca por email, não tem como não levar para o pessoal. Fica aqui minha crítica então: você é um grande babaca!


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