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Crítica | Imaginário: Brinquedo Diabólico

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Essa é uma imagem marcante: quando Karen (Catherine Hicks) sai do quarto, deixando o pequeno Andy (Alex Vincent) com seu brinquedo favorito, Tom Holland, diretor de Brinquedo Assassino (1988), fecha lentamente em um plano do rosto de Chucky. O medo e a tensão é construída pelo silêncio do boneco, pelo desconforto de sua aparência, pelo perigo que ronda aquele apartamento que há pouco viu uma vítima. A menção a esse clássico da década de 1980 se torna inevitável quando um projeto com brinquedo em evidência ganha um longa-metragem. Esse é o caso de Imaginário: Brinquedo Diabólico, de Jeff Wadlow, produzido pela Blumhouse. O filme conta a história de Jessica (DeWanda Wise) volta para a casa de sua infância e sua enteada mais nova, Alice (Pyper Braun), encontra um urso de pelúcia chamado Chauncey. O comportamento de Alice, à medida que o filme avança, se torna preocupante e Jessica passa a perceber que Chauncey é muito mais que um brinquedo.

Pela premissa já é notável que o filme chega aos cinemas com o prazo de validade próximo de expirar. O genérico da narrativa está presente na sinopse e, consequentemente, encontra vazão no próprio audiovisual. Busquemos embasamento a este argumento em uma sequência ainda na metade inicial. Alice comenta que está brincando de esconde-esconde (1) com Chauncey. Ela vai se esconder debaixo do lençol da cama onde estão Jessica e seu pai. Após os pedidos para ficarem em silêncio (2), a protagonista ouve alguma coisa (3). Num panorama rápido, a sombra das orelhas do urso aparecem levemente. Ela resolve abaixar-se e olhar debaixo da cama (4), levando um susto com o grito de Alice, brincando (5), enquanto a trilha sonora grita sua presença de forma histriônica (6). A numeração, obviamente, seleciona as decisões comuns a um filme de horror a fim de que o susto e a tensão sejam gerados.

Pyper Braun as Alice in Imaginary. Photo Credit: Parrish Lewis

O problema não é a utilização dos clichês cinematográficos, mas por optar, com frequência, a circularidade dessa mesma estrutura nas cenas “de susto”. É possível selecionar sequências e personagens que servem perfeitamente a um modelo de encenação que esgotou-se em si mesmo – tanto no filme quanto na fórmula. Até mesmo quando o filme parece se encaminhar para a fantasia, ele o faz com certo refreamento. Não demora para que o projeto ative seu piloto automático e se aproprie de outra situação que os recentes filmes de terror exploram à exaustão: o trauma. Não há frontalidade, há apenas um subtexto que parece fazer o filme ganhar em intenções, mas na verdade o deixa mais empobrecido justamente pelo roteiro não saber lidar com isso e a direção ser pouco criativa quando se constrói sua linguagem. E então chegamos ao ponto central dessa reflexão crítica: o esgotamento e o empobrecimento da linguagem cinematográfica.

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Se Holland e seu Brinquedo Assassino provocavam temor, era pelo domínio do zoom, do close-up, da brutalidade e da frontalidade com a qual lidavam com a linguagem do cinema. Brinquedo Diabólico é mais um produto dispensável que facilmente poderia ser encontrado por acaso em algum serviço de streaming. É um projeto sintomático do que se tornou a Blumhouse nos últimos anos. É frequente a tendência da produtora de recorrer a tropos comuns do gênero, resultando em filmes, como neste caso, previsíveis e desinteressantes. Todos parecem seguir um guia de como caminhar em cada uma das situações-modelos, quase como se os encaminhamentos narrativos fossem escolhidos por inteligência artificial. Se a Blumhouse Productions teve sucesso comercial com sua abordagem de baixo orçamento e filmes de terror de alto retorno anos atrás, agora a empresa se tornou uma máquina de produção de filmes genéricos que renegam a criatividade. 

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A escolha do título em inglês, Imaginary, soa irônica e apenas amplifica a desconexão entre a promessa implícita de imaginação e a entrega decepcionante de uma narrativa desprovida de criatividade. O filme de Jeff Wadlow parece mais uma tentativa desesperada de manipular expectativas do que uma genuína exploração do potencial da imaginação, ainda mais em seus momentos finais, onde até a referência a Escher se dilui em uma cinematografia escura para disfarçar os efeitos especiais deficientes. O filme, então, se afunda cada vez mais na mediocridade, culminando em um desfecho que não apenas desaponta, mas também sublinha a falta de inspiração que permeia todo o projeto. Em última análise, Imaginário: Brinquedo Diabólico é uma obra que, ironicamente, falha em dar vida a qualquer coisa além de uma experiência esquecível.

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