Olfa mostra como se esquivou das tentativas desajeitadas do recém-marido, das broncas que levou da irmã por não ceder logo à obrigação de consumar o casamento e mostrar o lençol sujo de sangue. Explica que resolveu a situação esmurrando o nariz do marido, esfregando o lençol no sangue dele e, assim, convencendo os convidados de que tudo estava consumado.
Tanto Olfa (a real) quanto Hind trocaram ideias como uma pequena família das seis mulheres em cena se forma. Em um verdadeiro metadocumentário, além do câmera, de Majd Matoura (que vive todos os homens do filme), a história de “As 4 Filhas de Olfa” era a dinâmica entre essas mulheres, as histórias que contavam, ouviam, as impressões que trocavam e até as broncas e embates que tinham.
Quando estava filmando Olfa e suas filhas, fiquei impressionada com a força delas. São muito fortes e carismáticas. Quando falam, elas são incríveis. Elas têm esse talento inato de contar histórias. E foi muito interessante para mim ver a feminilidade de uma maneira diferente, de uma forma de, como você diz, sobrevivência. Kaouther em conversa para Splash
De fato, as filhas de Olfa são como ela. Fortes, cheias de personalidade, exuberantes, mas vulneráveis. Fruto de um casamento arranjado, tiveram o azar de ter um pai alcoólatra, violento e que as humilhava quando esteve presente em suas vidas. Exausta, e inspirada pelas transformações que a Tunísia passava, Olfa se divorcia e se envolve com um novo homem, cujo passado não conhece muito, mas no presente se parece com um príncipe, capaz de dar a ela todo amor, prazer e liberdade que nunca tivera.
O que começou como um grito de liberdade terminou em mais uma história de violência doméstica, que atingiu suas filhas. A cena em que Eya e Tayssir confrontam Majd Matoura (aqui no papel do marido da mãe que se tornou “mais que um pai” e que as traiu e abusou) é tão rica quanto assustadora. Esta sequência é quase um psicodrama e, como aponta Kaouther, funciona como um teatro brechtiano.