A compra de novos produtos eletrônicos é uma prática comum e recorrente na vida de muitos brasileiros. Na maioria das vezes, os itens velhos ou que não funcionam mais são descartados, o que gera um problema para quem precisa se desfazer do bem e também para o meio ambiente.
Os eletroeletrônicos recebem o nome técnico de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (REEE), e esta classificação abrange toda uma gama de objetos que vão desde celulares, computadores e ventiladores, até panelas elétricas, geladeiras e micro-ondas.
“Uma das dificuldades é a conscientização do consumidor. Quando ele precisa de alguma coisa nova procura canais para comprar e sempre encontra. Um website novo, um aplicativo novo, um produto novo ou usado. A dificuldade é realmente na hora de descartar, porque muita gente não tem consciência do que fazer e aí tudo acaba indo para o lixo comum”, afirma Sergio de Carvalho Mauricio, presidente da ABREE (Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos).
Assim como produtos que têm uma vida útil menor e são jogados no lixo diariamente, dispositivos eletrônicos que não têm mais utilidade também precisam ser separados e descartados da maneira correta.
Um relatório divulgado no último ano pela Green Eletron, empresa com foco na logística reversa de aparelhos eletrônicos, aponta que 85% das pessoas guardam algum tipo de lixo eletrônico em casa. Um dos motivos é o fato de que 29% dos entrevistados pelos pesquisadores nunca ouviram falar em pontos ou locais corretos para descarte de lixo eletrônico.
Segundo a pesquisa, 25% dos entrevistados acreditam que não é responsabilidade deles o descarte correto, contudo, a PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos) define responsabilidade compartilhada para esse tipo de iniciativa, inclusive entre os consumidores.
O que reciclar e onde?
O chefe executivo da ABREE ressalta que quase todos os eletroeletrônicos e eletrodomésticos podem ser reciclados de alguma forma, uma vez que eles são compostos por plástico, vidro, metais e borracha, materiais que normalmente já são recebidos, separados e tratados nas empresas de reciclagem.
“Algumas reciclagens são mais simples, porque você só precisa remover o material e reinserir em uma cadeia produtiva, e outras precisam de descontaminação, limpeza, separação e classificação, um processo um pouco mais complexo.”
Em relação aos locais corretos para fazer o descarte, especialistas indicam tanto os ecopontos, principalmente para dispositivos muito grandes, como os PEVs (Pontos de Entrega Voluntária) instalados em regiões de fácil acesso. Eles são colocados em lugares selecionados e apropriados para receber esses resíduos sólidos.
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A ABREE, por exemplo, já conta com mais de 3 mil pontos de coleta de eletrônicos no Brasil, resultado de parcerias feitas com municípios e redes de varejo que normalmente vendem esses produtos. Além disso, o site da associação tem uma área onde a pessoa pode digitar o seu CEP e selecionar o produto que deseja descartar. Então, são exibidos os PEVs mais próximos da sua residência para realizar o descarte.
“Como consumidor, o importante é saber onde descartar o material para que ele siga para um fim mais honroso do que ser jogado no lixo comum e acabar limitando a vida útil de aterros. Ou pior ainda, ser descartado em terrenos baldios, nos rios e nas praias”, enfatiza Sergio.
Riscos ao meio ambiente e a melhor forma de descartar
Equipamentos que contém circuitos de refrigeração, como ar-condicionado, geladeira e frigobar, são considerados mais nocivos à natureza, uma vez que eles armazenam gases refrigerantes. Se colocadas em locais inadequados, essas substâncias podem se desprender do circuito, contribuindo para o efeito estufa.
O presidente da ABREE ressalta também que muitos eletrodomésticos têm motores nas suas estruturas e, por conta disso, armazenam algumas quantidades de óleo que se não forem despejadas nos pontos corretos, podem contaminar o solo.
Os circuitos eletrônicos de computadores e celulares, por exemplo, têm quantidades significativas de metais pesados como mercúrio, chumbo e cádmio. Essas substâncias são altamente poluentes e o contato delas com o meio ambiente pode afetar a qualidade do solo e das águas de rios e lençóis freáticos.
Tratando-se do mercúrio e do cádmio, esses elementos também podem causar intoxicação aguda e crônica às pessoas que entrarem em contato com eles. O chumbo, além dos riscos dos outros dois elementos, é considerado cancerígeno, sendo nocivo aos rins e ao sistema nervoso dos seres humanos.
Sergio orienta os consumidores a sempre realizarem uma limpeza superficial nos produtos antes de descartá-los. Além disso, no caso de objetos quebrados e que possam oferecer algum tipo de risco para os funcionários das empresas que vão manuseá-los, a orientação é para que eles sejam colocados em ambientes com a segurança reforçada.
Outra dica importante é não abrir e desmontar os produtos em casa sem algum tipo de orientação, dado que alguns componentes do dispositivo em questão, que são desconhecidos, podem oferecer algum risco à saúde do cidadão.
Reciclagem no Brasil em relação ao mundo
Sergio de Carvalho afirma que o Brasil ainda está atrás de alguns países que são referência no descarte de produtos eletroeletrônicos e eletrodomésticos, como Japão e Alemanha.
“A gente ainda tem muito a aprender com eles, principalmente na disciplina do consumidor em buscar alternativas adequadas. Cultura é um processo que demora para mudar de maneira natural e todo tipo de comunicação e educação ambiental ajuda a acelerar esse processo de mudança de mentalidade”, afirma.
“Além disso, estabelecer uma boa rede de pontos de recebimento também facilita. Você ter um consumidor consciente e que não tem um local para descartar próximo a sua residência é algo ainda muito comum no Brasil, infelizmente.”
Um ótimo exemplo de como o lixo eletrônico pode ser reutilizado foi dado nas Olimpíadas de Tóquio 2020. Na ocasião, todas as medalhas conquistadas pelos atletas foram produzidas a partir de ouro, prata e cobre reaproveitados de celulares e computadores descartados.
No total, foram utilizados mais de 6 milhões de telefones quebrados e 78 toneladas de computadores para a fabricação de cerca de 5 mil medalhas para o evento.