Acompanhada do repórter Joel (o espetacular Wagner Moura), que se energiza com a adrenalina da guerra, Lee quer partir de Nova York até a capital federal para assegurar uma última entrevista com o homúnculo no poder. É um plano extremamente arriscado, já que a estrada oferece todo risco imaginável em uma zona de guerra. A situação complica quando não apenas Sammy se junta a eles, mas também a jovem fotógrafa Jessie (Cailee Spaeny), disposta a registrar um conflito para o qual ela não está preparada.
É na estrada que “Guerra Civil” revela suas cores. Na distância entre as duas cidades, expõem-se sem freios a condição humana e a futilidade da guerra. São corpos exibidos como troféus, cidades pulverizadas e abandonadas, campos perigosamente silenciosos e combatentes que, em certo momento, parecem lutar por puro instinto de sobrevivência ou pela imersão na crueldade estimulada por um cenário macabro.
Alex Garland, claramente inspirado por “Apocalypse Now”, busta não romantizar a guerra, evitando construir recortes de ação vibrantes ou sedutores. Em vez disso, ele mostra pulso firme ao optar por um registro cru e progressivamente incômodo de uma descida irrefreável ao inferno. “Guerra Civil” é esperto ao intercalar cenas de extrema tensão com momentos de paz aparente, para finalmente abrir as cortinas e aumentar o volume do espetáculo.
Mesmo com algumas tomadas aéreas para dimensionar a escala da guerra, sua câmera logo volta ao chão, acompanhando Dunst, Moura e Spaeny em um cenário com zero glamour, em que a máquina militar expande sua linha para alcançar seu objetivo. A edição de som é brilhante, passando do incômodo físico da marcha de maquinário e artilharia ao silêncio que precede um passo seguinte mais decisivo. É cinema de primeira grandeza.
Se a escolha de jornalistas como protagonistas recupera o brio da profissão, especialmente com a função de testemunhas oculares da história, sua posição apolítica, embora esperta, não se sustenta. A isenção profissional, de elemento passivo na história, encontra seu limite quando a balança moral pende para o lado de quem luta pela liberdade. O jornalismo, mesmo na ficção, ainda é a última trincheira da civilidade e da democracia.