A estratégia de Lei Jun, no entanto, foi criar uma marca de dispositivos móveis para muito além dos celulares. As letras “mi”, no final do nome “Xiaomi” são uma alusão a “mobile internet”, explicou Jun. Desta forma, a companhia faz coisas que passam muito longe do portfólio de empresas como Apple ou Samsung. Por exemplo? Escovas de dentes, secadores de cabelo, máquina de lavar louça, câmeras de segurança, canetas tinteiro e, mais recentemente, até um carro.
O automóvel Xiaomi SU 7 é um exemplo emblemático do desejo de onipresença da marca. Luxuoso, o veículo elétrico que pode rodar 800 km com uma só carga, exibe tecnologias de ponta, como um método de carregamento rápido que, em 15 minutos, permite ao veículo recuperar 510 km de sua autonomia. Sua sofisticação é tamanha que especialistas em carros o posicionam como um competidor para o Porsche Taycan e o Tesla S.
O apelo especial da Xiaomi em sua linha de produtos é manter os custos baixos, praticar uma margem baixa de lucro e ganhar dinheiro graças à escala de suas vendas. Uma fórmula muito bem aceita pelos consumidores, especialmente os de países emergentes, onde não há tantos consumidores dispostos a gastar R$ 10 mil em um smartphone, como pode ocorrer com os dispositivos topo de linha da Apple, por exemplo.
É claro que a trajetória da Xiaomi é pontuada por polêmicas. As mais comuns são acusações de infração de patentes. Para crescer rápido, a empresa teria copiado, sem permissão, tecnologias de terceiros. Este ponto rendeu até a suspensão temporária das vendas da companhia na Índia, atendendo a um pedido da Ericsson.
A empresa, que usa um sistema operacional próprio baseado em Android, o MIUI, também é alvo de reclamações da comunidade de software livre. Ao utilizar tecnologias abertas, licenciadas sobre as regras de copyleft (um conceito oposto ao copyright), todo desenvolvedor deve manter as contribuições que cria também abertas. O que nem sempre a Xiaomi faz. Ou faz com grande atraso, buscando proteger seus interesses comerciais.
As reclamações mais graves, porém, partiram dos governos de países alinhados aos Estados Unidos, como Austrália e Lituânia. Nestes mercados, autoridades acusaram a Xiaomi de usar suas tecnologias de internet das coisas para espionar seus usuários. Pior: o intuito da espionagem seria repassar informações sensíveis ao Partido Comunista da China. O ministro da Defesa da Ucrânia, em setembro de 2021, pediu textualmente que os cidadãos do país não comprassem produtos Xiaomi.