Na moda, a frase “tudo o que vai, volta” é sempre comprovada. O item da vez é a baby tee, antes chamada de baby look, que compunha o guarda-roupa de qualquer garota nos anos 1990 e início dos anos 2000. Celebridades como Paris Hilton ou o grupo Destiny ‘s Child costumavam ser fotografadas com ela. Repaginada, além de surgir com novo nome, a peça aparece estampada com frases irônicas e desenhos fofos.
O modelo é justo ao corpo, com mangas curtas e normalmente o comprimento vai até o umbigo. É como se um adulto usasse uma roupa da seção infantil —por isso o nome baby tee (“tee” de “t-shirt”, camiseta em inglês).
“Ela é uma peça muito básica e é muito fácil de você estilizar”, afirma Julia Dantas, 22, influenciadora digital e dona da marca de roupas Vintage Affection. Ela diz que a baby tee é um dos itens mais vendidos da sua loja e gosta de se divertir na hora de criar as estampas da blusa, como por exemplo a frase “hating me won’t make you prettier” (me odiar não vai fazer de você mais bonito, em português).
O movimento de visitar décadas passadas não é novo, e os anos 2000 vêm ganhando destaque há um tempo no mercado da moda. A cada 20 anos, tendências costumam voltar e ser utilizadas por diferentes gerações. Agora, principalmente a geração Z, que nasceu entre 1995 até 2010, Miu Miu Miu Miu tomou gosto pelas baby tees.
“É como se a gente já tivesse, depois de 20 anos, uma permissão para voltar e explorar esse passado de uma maneira que ele não fique caricato ou ainda com cara de datado”, diz Ana Vaz, consultora de imagem.
Não só a baby tee retorna de décadas passadas, mas também a calça de cintura baixa, que já havia sido descartada do guarda-roupa de muita gente. O ar nostálgico vem acompanhando coleções de grandes marcas, como a Miu Miu, que trouxe em seu desfile de primavera de 2022 o uso de partes de cima muito curtas com cós baixos que deixam o corpo à mostra.
Segundo Vaz, os anos 1990 se caracterizam por uma moda mais casual e limpa, em contraposição à estética dos anos 1980, que trazia modelagem mais estruturadas, mais amplas e distantes do corpo. É por isso que penteados de rabo de cavalo baixo, cabelo partidos ao meio, também ganham espaço atualmente.
A moda mais esportiva vista nessa década —como os looks do dia a dia da princesa Diana—, foi revisitada com a pandemia. “A gente passou por um período de isolamento, a roupa esportiva e mais clean fez muito mais sentido”, diz a consultora de imagem.
Junto com a baby tee surge um outro contexto estético. “A gente tem, infelizmente, um incentivo à diminuição das medidas das mulheres, uma pressão para que elas busquem a magreza como um item de beleza e a moda responde a isso também”, afirma Vaz.
Esse movimento, segundo ela, faz parte de uma contratendência. Ao passo que hoje existem discursos que valorizam a aceitação dos corpos diversos, existe um outro lado que vai contra esse ideal. “Esse corpo muito magro dos anos 1990 e 2000 é um corpo que está sendo trazido de volta pela indústria da moda e indústria da beleza”, afirma. No desfile da Miu Miu, por exemplo, só havia modelos magros, algo que vem sendo recorrente nas semanas de moda, em que a presença de modelos plus size continua abaixo de 1%.
“Não é que a volta dessas peças que expõem o corpo seja um retrocesso, mas é como elas são mostradas, porque a moda é uma maneira de doutrinar, de ensinar as pessoas, de forma não verbal, o que é válido socialmente”, diz a consultora de imagem.
Ainda que a referência da baby tee seja de corpos magros, ela é adaptável a vários estilos. Para a professora de moda da Sigbol, Mayara Behlau, é importante usar a peça de forma que se adapte melhor ao corpo. “Sempre respeitando o número da sua silhueta e o equilíbrio do corpo, para não usar uma peça muito apertada ou muito folgada e acabar fugindo da proposta dela.”
Segundo Behlau, a baby tee pode ser usada de forma mais casual, com uma minissaia ou calça larga e um tênis, ou servindo de base para um conjunto de alfaiataria.
O importante, para Ana Vaz, é adaptar essa roupa com o que já existe no seu guarda-roupa e escolher o comprimento que mais gosta, seja ele até o cós da calça ou acima do umbigo.
Priscila Nascimento, 22, conhecida como Prisca, pegou várias camisetas largas antigas que não usava mais e as transformou em baby tees. “Eu queria trazer uma mudança de estilo, uma coisa mais moderna“, diz a criadora de conteúdo e estudante de moda. Ela afirma que gosta de mostrar a barriga, mas nem tanto, e por isso acha a proposta da baby tee ideal. Uma de suas preferidas contem a frase: “I like do make boys cry” (eu gosto de fazer meninos chorarem, em português).
O vídeo do seu processo de estilização viralizou no TikTok, principalmente após a baby tee repercutir com uma fala do ator João Guilherme. Ele deu uma entrevista dizendo que o último item que havia comprado era uma baby tee da marca Maison Margiela para o seu “chuchuzinho”. A partir daí, as buscas pelo termo cresceram no Google e a fala virou até meme.
A roupa também entrou nos guardas-roupas masculinos, como do próprio João Guilherme. São vários os vídeos de rapazes montando looks com suas baby tees. “A gente está num momento em que se discute a questão das barreiras, das expressões de gênero”, diz Vaz. Assim, a modelagem das peças possuem maior fluidez. “Uma coisa que diferencia a nossa moda de agora da moda dos anos 1990 é que a gente tem muito mais combinação e opção de estilos usados ao mesmo tempo.”
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