É o caso de “Pacto Brutal” (Max), que permitiu aprofundar a discussão a respeito da violência contra a mulher, ou “Caso Evandro” (Globoplay), que trouxe novamente esse crime para os holofotes e, graças à repercussão da série e ao trabalho incansável de Ivan Minzanzuk, idealizador do projeto, foi possível provar a inocência dos condenados pela morte do menino Evandro.
Outro fator que deve ser levado em consideração é que, mesmo que o crime em questão apresente certa relevância para debater alguma pauta nos dias de hoje, há um tipo de dificuldade muito específica na produção de séries e filmes documentais: licenciamento de material de arquivo. Nem todas as emissoras possuem um acervo robusto e preservado e cada canal cobra o que bem deseja pelo uso das imagens que produziram, além de se reservarem ao direito de não licenciar uma reportagem ou um trecho de um programa, por exemplo.
Nesse contexto, o recém-lançado “Doleira: A História de Nelma Kodama” (Netflix), escrito por Camila Kamimura e dirigido por João Wainer, aponta um caminho interessante para que a produção de true crime no Brasil não se restrinja apenas a crimes sanguinolentos. Retratando a trajetória sui generis da personagem título, uma dentista que se transformou na primeira mulher a ser presa pela Operação Lava Jato, acusada de movimentar milhões de dólares ilegalmente, a produção entrega uma trama com reviravoltas dignas de novela, situações que beiram o absurdo e uma personagem tão excêntrica que poderia estrelar o saudoso “Mulheres Ricas”, exibido pela Band entre 2012 e 2013 e protagonizado por Val Marchiori e Narcisa Tamborindeguy.
“Doleira: A História de Nelma Kodama” tem potencial de abrir um novo filão a ser explorado pelas plataformas de streaming que ousarei batizar de “soft true crime”, ou seja, “crimes não violentos”, mas de grande repercussão midiática e de impacto na sociedade. Por não explorar uma situação em que houve derramamento de sangue, a série permite uma narrativa mais leve, embalada numa linguagem pop, trazendo um frescor para o gênero true crime produzido no Brasil.
Num país conhecido por inúmeros trambiques, golpes e maracutaias, não faltarão boas histórias como a de Nelma Kodama que podem ser retratadas em filmes e séries documentais que queiram abordar crimes reais. Quem daria um bom personagem para um projeto desse tipo? Façam suas apostas!