Essa guinada para o misticismo, representado por uma agregação de bruxas capazes de lidar com a Força de maneiras que os Jedi sequer sonham, dialoga com parte do universo “Star Wars”. Mas o desvio radical da ópera espacial de batalhas estelares entre heróis e vilões bem estabelecidos, fez um naco do fandom – os devotos mais velhos e mais tradicionais – torcer o nariz.
Para esse recorte de fãs, “Star Wars” existe apenas na trilogia clássica, encerrada em 1983 com “O Retorno de Jedi”. É uma turma que apenas tolera os prequels dirigidos por Lucas entre 1999 e 2005, e demoniza tudo que foi produzido após a compra da LucasFilm pela Disney. A grande vilã seria a produtora Kathleen Kennedy, mesmo que esses devotos aplaudam projetos igualmente capitaneados por ela, como “The Mandalorian” e “Andor”. O fã é uma figura peculiar.
Com seu esforço para reproduzir em cena um ambiente mais representativo e diverso, com protagonistas que fogem do estereótipo do herói Luke Skywalker, “The Acolyte” se tornou alvo dessa turma, que jogaram sua nota no chão em sites colaborativos e mantiveram o mesmo discurso ácido mesmo quando a série abordou exatamente os pontos antes apontados como “falhos”. Eles aprenderam uma palavrinha nova, “woke”, e a usam como rótulo em tudo que ofenda sua sensibilidade.
Faltou em “The Acolyte”, claro, uma direção mais precisa e uma trama central melhor amarrada. Mas são pecados compensados pela inventividade, pela expansão bem-sucedida da narrativa de “Star Wars” e por cenas de ação bem coreografadas, em especial o conflito derradeiro entre Sol e o misterioso mestre Sith que orquestra a trama das sombras.
Apesar do chororô desse suposto fã, intolerante com seu próprio objeto de devoção, o universo “Star Wars” vai continuar se expandindo, tanto em streaming como no cinema. As ideias de George Lucas sobre religião, política e sociedade, traduzidas em uma aventura espacial vibrante, não vão deixar de ser expandidas para um público cada vez mais amplo e alinhado com o novo século. Um universo no qual o ódio e intolerância só deveriam existir como combustível para a ficção.