Propagandas de comida e bebida durante a transmissão de jogos de videogame em plataformas online estão relacionadas a um maior consumo de produtos ricos em gordura, sal e açúcar entre adolescentes. É o que revela uma pesquisa apresentada no Congresso Europeu de Obesidade, que aconteceu em maio, na Itália.
Pesquisadores da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, chegaram a essa conclusão após uma revisão de estudos que mostrou uma associação entre esse tipo de conteúdo e a maior preferência de jovens por esses alimentos.
As pesquisas avaliadas sugerem que crianças são duas vezes mais propensas a escolher uma determinada marca ou produto quando expostas a anúncios.
Além dessa revisão, os autores também analisaram 52 horas de vídeos de influenciadores e constataram que a maioria (70,7%) das publicidades era de alimentos ricos em gordura, açúcar e sal, e muitas não vinham acompanhadas de um aviso explícito dizendo que se tratava de propaganda.
Por fim, os pesquisadores fizeram uma enquete com 490 jovens de 16 anos, em média, e observaram uma relação entre a lembrança dos anúncios e posturas favoráveis em relação a essas comidas.
“Os resultados são relevantes, pois esse é um público muito vulnerável a esse tipo de propaganda”, avalia Giuliana Modenezi, nutricionista do Espaço Einstein Esporte e Reabilitação, do Hospital Israelita Albert Einstein.
“Crianças que veem esses anúncios têm uma certa confiança nos influenciadores, o que vai promover que vejam isso de forma positiva, ficando mais sujeitas a comprar e consumir esses produtos.”
Embora sejam estudos observacionais, em que não se pode estabelecer uma relação de causa e efeito, os cientistas dizem que o alto nível de exposição a produtos não saudáveis poderia levar a um consumo excessivo de calorias e consequente ganho de peso.
“É preciso proteger essas crianças e jovens pensando em aspectos como políticas públicas, trabalho de educação nutricional em escolas e vigilância dos pais e responsáveis, que devem ter maior controle e segurança do que os filhos assistem”, diz a nutricionista.
No Brasil, o Guia de Publicidade por Influenciadores Digitais, lançado em 2021 pelo Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), orienta que “todos os envolvidos na divulgação da publicidade devem ser particularmente cuidadosos para que a identificação da natureza publicitária seja aprimorada, assegurando o reconhecimento pelas crianças e adolescentes do intento comercial, devendo ser perceptível e destacada a distinção da publicidade em relação aos demais conteúdos gerados pelo influenciador”.
Já o Guia de Boas Práticas para Publicidade Online Voltada ao Público Infantil, desenvolvido em conjunto pelo Google e o Conar, diz que se deve informar que o conteúdo se trata de publicidade. E que, independentemente da plataforma ou formato, “se houver conteúdo publicitário, a mensagem deve explicitá-lo de forma que seja compreensível para crianças e adolescentes.” Esse documento também destaca a importância da supervisão dos pais.