No último domingo (21), a atendente Erina Ferreira dos Santos, 36, morreu enquanto aguardava uma cirurgia no Hospital Municipal do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo. Ela tinha um aneurisma e começou a saga por auxílio médico em 6 de julho.
Ao todo, Erina passou por quatro hospitais na capital paulista. Quando sentiu as fortes dores de cabeça, vômitos, câimbras nas pernas e pressão alta, ela procurou a UBS Varginha, na zona sul. Lá, recebeu diagnóstico de enxaqueca, foi medicada e liberada.
Ainda no fim do dia 6, ao não melhorar dos sintomas, procurou outro atendimento, desta vez no pronto-socorro Balneário São José. De lá, foi transferida para o Hospital Municipal Parelheiros, onde foi detectado o aneurisma por um exame de tomografia e realizada uma cirurgia de emergência.
Após o procedimento, Erina foi transferida na madrugada do dia 7 para o Hospital Municipal do Campo Limpo, para a realização de novos exames. Ao constatarem o grave estado da paciente, afirmaram não ter estrutura para uma segunda cirurgia do aneurisma que, segundo o hospital, estava localizado em uma região de difícil acesso.
Advogado da família da paciente, Maicon Pereira diz que foi procurado no dia 16 após os parentes de Erina serem orientados a buscar ajuda profissional para ajuizar uma ação para que ela tivesse acesso ao procedimento solicitado num hospital com estrutura, como o Hospital das Clinicas da USP.
Os documentos da paciente, no entanto, só foram acessados pelo advogado na última quarta-feira (17). “E ainda foi preciso digitalizar e só foi possível protocolizar isso na quinta-feira à tarde”, diz Maicon.
A liminar para a cirurgia foi concedida na sexta-feira, mas só foi liberada no site do Tribunal de Justiça por volta das 19h. “Quando fui fazer a entrega desses documentos para os hospitais, prefeitura e estado, esses órgãos não estavam mais abertos, não receberam e só voltariam a funcionar na segunda-feira”, informa o advogado da família.
De acordo com o profissional, ajuizar uma ação para que a cirurgia de Erina fosse realizada foi uma das últimas atitudes tomadas pela família. “Desde que tomaram conhecimento de que a paciente precisa fazer essa transferência para um hospital com infraestrutura melhor, fizeram solicitação em ouvidorias, mas ninguém atendia”, relata.
Irmã de Erina, Aline Caldas disse que a família pretende seguir com processo contra o sistema público de saúde pelo descaso sofrido. “Estamos chateados, tristes em saber que a minha irmã não está mais conosco, devido à negligência da saúde pública”, afirmou.
Em nota, o HC informou que, ao receber o pedido da vaga, todos os leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) estavam ocupados com pacientes igualmente muito graves, e o SUS (Sistema Único de Saúde) foi informado sobre a lotação na ocasião. O hospital ainda afirmou que não é a única unidade de saúde da rede pública a disponibilizar o recurso que a paciente precisava.
Já a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo informou que a Cross (Central de Regulação da Oferta de Serviços de Saúde), após receber o pedido do Hospital Municipal do Campo Limpo, fez inúmeras tentativas de transferência da paciente junto a diferentes serviços da rede de saúde.
Além do Hospital das Clínicas, a secretaria diz que a Cross acionou hospitais como a Santa Casa de São Paulo, Hospital Santa Marcelina e Hospital São Paulo da Unifesp, entre outros, em busca de assistência especializada para a paciente. A pasta afirmou ainda que irá realizar a apuração de responsabilidades e a revisão de fluxos adotados no caso.
A prefeitura de São Paulo afirmou que a paciente fez o fluxo correto ao primeiro procurar a UBS e depois o pronto-socorro. Segundo o órgão, Erina permaneceu internada até a disponibilização de vaga pela Cross para transferência para unidade de alta complexidade.
“O HM Campo Limpo fez tudo o que pôde enquanto a paciente não era transferida, notificando com frequência a Central de Regulação sobre o estado em que a paciente se encontrava”, informa a nota da prefeitura disponibilizada à Folha.