Um estudo publicado em fevereiro pela BMC Pediatrics apontou que 80% dos adolescentes brasileiros têm dois ou mais comportamentos que facilitam a predisposição a problemas como obesidade, hipertensão, diabetes e até câncer, algumas das doenças crônicas não transmissíveis.
A publicação de pesquisadores brasileiros mostrou que a probabilidade de jovens apresentarem múltiplos fatores de risco aumenta ao longo da vida e está associada também a características sociodemográficas. O levantamento foi feito com base na PeNSE (Pesquisa Nacional de Saúde Escolar) de 2019, uma pesquisa do IBGE. Ao todo, 121.580 adolescentes de 13 a 17 anos foram entrevistados.
Durante as entrevistas, os jovens foram perguntados sobre sete fatores de risco, como o consumo de frutas, vegetais, refrigerantes, guloseimas, atividade física, sedentarismo, tabagismo e ingestão de álcool.
Dentre os entrevistados, 28,3% e 27% apresentaram, respectivamente, dois ou mais hábitos de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis.
O estudo mostrou que os jovens de 16 a 17 anos, moradores do Sudeste e aqueles que relataram uma autoavaliação ruim ou muito ruim da própria saúde foram identificados como os mais propensos a apresentar dois ou mais fatores de risco.
Já entre aqueles que declararam cinco ou mais hábitos, 63,6% eram mulheres, 54,7% tinham de 13 a 15 anos, 40,2% eram de cor da pele branca, 48,2% residiam na região Sudeste, 85,3% estudavam em escola pública, 96,5% residiam em área urbana e 55,1% autoclassificavam seu estado de saúde como muito bom ou bom.
Por outro lado, adolescentes do sexo masculino, aqueles de raça mista e residentes de áreas rurais estão menos propensos a manifestar comportamentos que possam evoluir para doenças crônicas não transmissíveis.
“Maiores taxas de urbanização e densidade demográfica, assim como pouco espaço para prática de atividade física por crescimento não planejado, são algumas das evidências que acontecem no Sudeste”, explica Alanna Gomes, residente pós-doutoral da escola de enfermagem da UFMG e pesquisadora do estudo.
Aqueles que não apresentaram nenhum comportamento de risco representam apenas 3,9% dos entrevistados.
As doenças crônicas são responsáveis por 75% das mortes gerais e 15% dos óbitos prematuros, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
Entre os adolescentes participantes da pesquisa, 50,7% se identificaram como mulheres, com a maioria na faixa etária de 13 a 15 anos. Além disso, 43,6% tinha cor de pele mista, 38,8% residia na região sudeste, 85,5% frequentava escolas públicas e 69,6% auto declarava sua saúde como muito boa ou boa.
Atividade física insuficiente foi mencionada por 71,5% dos entrevistados como um dos hábitos que favorecem o aparecimento de doenças crônicas, seguida por ingestão irregular de frutas e vegetais (58,4%), estilo de vida sedentário (54,1%), consumo frequente de guloseimas (32,9%), consumo de bebidas alcoólicas (28,1%), ingestão regular de refrigerantes (17,2%) e tabagismo (6,8%).
De acordo com a Gomes, o convívio social e o que os adolescentes entendem como moda também pode influenciar no consumo desses jovens. “Como é o caso do tabagismo, no geral, mas esse alerta funciona também para os produtos ultraprocessados e as bebidas alcoólicas”, diz.
Ainda para a pesquisadora, como parte dos adolescentes mais velhos, com idades entre 16 e 17 anos já trabalham, tem uma maior facilidade para comprar e ter acesso a esses produtos.
Dentre os 3,9% adolescentes que não apresentaram nenhum fator de risco comportamental, 68,3% eram do sexo masculino, 72,8% tinham 16 e 17 anos, 44,3% eram pardos, 36,6% residiam no sudeste, 83,8% eram estudantes de escola pública, 91,5% moravam em área urbana e 84,4% auto declaravam seu estado de saúde como muito bom ou bom.
Políticas públicas que conscientizem pais e adolescentes são as apostas dos pesquisadores para combater a alta das doenças crônicas.
“São necessárias abordagens sejam mais dinâmicas, proativas, focadas nesses múltiplos fatores e que coloquem também esses adolescentes a assumir uma corresponsabilidade pela sua saúde. É preciso também a educação e saúde dos pais, dos responsáveis, para entender alguns comportamentos”, afirma Gomes.