A nova empreitada não traz, por óbvio, a inovação e o impacto de seu antecessor — e nem tinha como. Lançado em 1988, “Os Fantasmas Se Divertem” foi uma revelação. O público devorou as estruturas de ângulos estranhos e os personagens ligeiramente fora de sintonia com o mundo normal. Absolutamente nada era parecido com “Beetlejuice” e seu clima estranhamente macabro, que buscava uma intensidade não sombria, e sim lúdica e anárquica.
São dois predicados fundamentais que, felizmente, formam a base de “Beetlejuice Beetlejuice”. Mais de três décadas se passaram desde que a família Deetz teve de lidar com o “bio-exorcista” Betelgeuse (Michael Keaton). Lydia (Winona Ryder), que desenvolveu habilidades mediúnicas e passa a enxergar fantasmas, agora apresenta um programa sobre casas assombradas. Já sua madrasta, a excêntrica Delia (Catherine O’Hara), continua na bolha dentro da bolha, imersa em sua arte.
Lydia, entretanto, tem uma relação complicada com a filha adolescente, Astrid (Jenna Ortega), desde a morte de seu marido — o único fantasma que ela não consegue ver. A jovem, por consequência, acha que a mãe é uma farsa e quer distância, mas elas precisam manter a civilidade quando Delia informa a morte de seu amado Charles, pai de Lydia e avô de Astrid. O funeral leva as três gerações da família Deetz de volta à pacata Winter River, cenário perfeito para a volta de um certo fantasma falastrão.
“Beetlejuice Beetlejuice” atira em todas as direções, como se ao longo dos anos os produtores fossem estocando todas as ideias possíveis para a continuação e, quando surgiu a oportunidade, não perderam a chance de usar cada uma delas. Se a trama em 1988 era mais simples e coesa — para expulsar os vivos irritantes de sua casa, dois recém-falecidos apelam para Betelgeuse — dessa vez a tragédia familiar é só um galho em uma árvore que não enxergamos toda sua copa.
O novo filme apresenta a noiva de Betelgeuse, Delores (Monica Belluci), implacável e sedenta por sua alma; traz Willem Dafoe como um ator que, no pós-vida, atua como policial; arma o casamento de Lydia com um namorado seboso (Justin Theroux em um papel-clichê); e se ocupa do resgate de Astrid, que corre o risco de ficar presa no mundo dos mortos, o que faz Lydia se enroscar mais uma vez com Betelgeuse (que sua, em inglês, como Beetlejuice).