Aplicar um tipo de corante utilizado em alimentos e que absorve a luz na pele pode torná-la transparente, permitindo que os pesquisadores vejam os vasos sanguíneos do couro cabeludo, o movimento dos órgãos sob a pele do abdômen e os músculos em funcionamento, segundo um estudo feito com ratos e divulgado na quinta-feira (5) na revista científica Science.
O processo inofensivo, que era reversível com uma rápida lavagem, pode ser útil em uma ampla gama de diagnósticos médicos, disseram os pesquisadores em um comunicado.
Injetar o corante —chamado tartrazina e comumente conhecido como FD&C Amarelo 5– pode levar a visões ainda mais profundas do corpo, especulam os autores.
Normalmente, o corpo não é invisível porque a luz se curva e se dispersa de maneira diferente ao passar por cada um dos diferentes tecidos e fluidos.
Quando dissolvidas em água, as moléculas de tartrazina são estruturadas de forma a se alinharem com a capacidade de curvar a luz da pele, ou seu “índice de refração”. O corante absorve a luz azul e roxa e permite que a luz vermelha e laranja passe pelo tecido, resultando em transparência.
“Olhando para o futuro, essa tecnologia poderia tornar as veias mais visíveis para a coleta de sangue, tornar a remoção de tatuagens a laser mais direta ou ajudar na detecção precoce e tratamento de cânceres”, disse Guosong Hong, da Universidade de Stanford, que ajudou a liderar a pesquisa.
“Por exemplo, certas terapias usam lasers para eliminar células cancerosas e pré-cancerosas, mas são limitadas a áreas próximas à superfície da pele. Essa técnica pode melhorar a penetração da luz.”
Um comentário publicado com o artigo observa que H.G. Wells previu essa abordagem há muito tempo em seu romance O Homem Invisível.
“O protagonista inventa um soro que torna as células de seu corpo transparentes ao controlar precisamente seu índice de refração para combinar com o do meio ambiente circundante, o ar”, escreveram Christopher J. Rowlands e Jon Gorecki do Imperial College London.
Agora, 127 anos depois, a equipe de Stanford relata “que corantes biocompatíveis tornam os tecidos vivos transparentes ajustando o índice de refração do meio ambiente circundante para combinar com o das células”.