Casos de câncer de vulva mais que triplicam no Brasil – 29/09/2024 – Equilíbrio e Saúde – Zonatti Apps

Casos de câncer de vulva mais que triplicam no Brasil – 29/09/2024 – Equilíbrio e Saúde

Triplicou no Brasil em uma década o total registrado a cada ano de casos de câncer de vulva, aponta o Painel Oncologia do DataSUS. Saltou de 405, em 2013, para 1.436, em 2023, maior volume da série histórica do painel.

A doença também aumentou entre as mulheres mais jovens. Se em 2013 as mulheres de até 48 anos, idade média na qual começa a menopausa no Brasil, recebiam 13,6% dos diagnósticos, no ano passado elas representaram 22,4% dos casos.

O Ministério da Saúde alerta para uma subnotificação dos dados no painel. Glauco Baiocchi Neto, diretor do Departamento de Ginecologia Oncológica do A.C.Camargo Cancer Center, confirma o crescimento de diagnósticos em mulheres mais jovens nas últimas décadas e associa isso ao HPV (papilomavírus humano).

É o caso de Bárbara (nome alterado a pedido da entrevistada), de Arapongas (PR), que recebeu o diagnóstico da doença em fevereiro, aos 37 anos. A coceira e o aparecimento de verrugas e lesões na vulva a levaram a procurar ajuda médica.

A paranaense diz que esperava o diagnóstico de alguma IST (infecção sexualmente transmissível). Ela passou por quatro ginecologistas e demorou oito meses para ser diagnosticada com o carcinoma, do qual, até então, nunca tinha ouvido falar. “Meu mundo desabou, parece que é uma sentença de morte. Ainda mais por se tratar de um câncer raro, sentia os médicos perdidos”, afirma.

Segundo Baiocchi, o HPV causa cerca de 40% dos casos da doença, enquanto os outros 60% são relacionados à atrofia da vulva, que tem entre suas causas a redução nos níveis de estrogênio, como no pós-menopausa, e doenças crônicas da vulva, principalmente, o líquen escleroso —doença inflamatória na pele da região genital e do ânus. De acordo com dados do DataSUS, a idade média das mulheres diagnosticadas com esse câncer, em 2023, foi de 62 anos.

O médico afirma que as pacientes, em geral, sentem vergonha e demoram a procurar o serviço de saúde. Entretanto, a doença raramente é metastática e, quando identificado um único tumor na vulva, em estágio inicial, a chance de cura é de 95%.

Bárbara conta que o tratamento inicialmente recomendado para ela foi a vulvectomia radical, cirurgia que remove toda a vulva. “Mutila a mulher, acaba a vida. Só fica mesmo o canal da urina e o canal da vagina. Nunca mais você consegue usar uma calça, andar de moto, andar de bicicleta. Porque a vulva é a proteção ali”, diz.

A outra opção oferecida pelo oncologista foi a vulvectomia parcial, que retira somente as lesões, seguida por quimioterapia e radioterapia. A paciente optou por esse segundo caminho. Mesmo tendo sucesso no tratamento, ela relata que ainda está psicologicamente abalada. “O medo é constante. Qualquer coceira, qualquer ardência, qualquer dorzinha já apavora.”

Luciana Holtz, psico-oncologista e presidente do Instituto Oncoguia, afirma que a cirurgia na vulva impacta a autoestima feminina devido à ligação direta com a sexualidade. “É ainda mais complexo por ser uma área repleta de tabus, vergonhas e até baixo conhecimento”, comenta.

“A vacinação é a forma efetiva e segura de prevenir esse e outros tumores causados por HPV”, completa Luisa Villa, pesquisadora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp).

Villa alerta que o vírus não pode ser tratado. Os únicos caminhos são prevenir a contaminação ou tratar as doenças que ele causa, como os cânceres de vulva, colo do útero, pênis, canal anal e orofaríngeo.

A vacina está disponível no SUS (Sistema Único de Saúde) para meninas e meninos de 9 a 14 anos, para vítimas de violência sexual, para pessoas imunossuprimidas e pacientes oncológicos de 9 a 45 anos. Entretanto, a vacinação ainda não atingiu a meta do Ministério da Saúde para 2030 de cobertura vacinal, de 90% entre meninas de até 15 anos. Em 2019, a imunização foi feita em 87% desse público; em 2022, caiu para 75,8%.

A pesquisadora considera que a divulgação científica em diferentes meios e linguagens é o caminho para conscientizar a população sobre a importância do imunizante.


Esta reportagem foi produzida durante o 9º Programa de Treinamento em Jornalismo de Ciência e Saúde da Folha, que contou com o patrocínio do Laboratório Roche e do Hospital Israelita Albert Einstein.

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