Pesquisas sugerem que músicas cativantes que ficam na cabeça —coloquialmente conhecidas como “earworms”, ou algo como “vermes de ouvido”, em inglês— são comuns e podem acontecer com as pessoas semanalmente ou até mesmo diariamente.
“Algumas pessoas andam por aí com música na cabeça o tempo todo”, afirma Ira Hyman, psicólogo que estuda o fenômeno na Universidade Western de Washington, no estado de Washington.
Os cientistas não entendem completamente por que é tão difícil se livrar dos “vermes de ouvido”. Mas certas músicas têm mais probabilidade do que outras de se instalarem em nossas cabeças. E a propensão a pegá-las pode depender do que você ouviu recentemente e do que está fazendo.
O que faz uma música não sair da nossa cabeça?
Provavelmente não é nenhuma surpresa que as músicas que entram em nossos cérebros geralmente são músicas que ouvimos recentemente.
Mas também é possível ficar com esse tipo de lembrança depois de ouvir uma palavra ou som —ou até mesmo vivenciar uma situação— que lembra uma música específica, diz Callula Killingly, pesquisadora de pós-doutorado que estuda esse tipo de som na Universidade de Tecnologia de Queensland, na Austrália.
Talvez alguém mencione Madonna, e então você se pegue cantarolando “Material Girl”. Ou você dá uma mordida em um linguine que tem exatamente o mesmo gosto da massa que você comeu antes de um show da Taylor Swift, e de repente você está cantando “Shake It Off”.
Mas não espere sempre entender onde o “verme de ouvido” se originou. Frequentemente, é “difícil saber o que o fez começar”, diz Hyman.
Algumas músicas têm mais probabilidade de ficar na memória do que outras?
Pesquisas sugerem que músicas com ritmos mais rápidos —ou notas mais longas e sustentadas, como “I Will Always Love You” de Whitney Houston— têm mais probabilidade de ficar na nossa cabeça.
Quanto mais frequentemente ouvimos uma música, mais provável é que comecemos a cantá-la internamente também. Então, aqueles memes onipresentes de Rick Astley que começaram no final dos anos 2000 provavelmente fizeram com que milhões de pessoas tivessem “Never Gonna Give You Up” tocando em loop em suas cabeças.
No entanto, as músicas geralmente só tendem a causar “vermes de ouvido” quando você está fazendo certos tipos de atividades, explica Hyman.
Em um pequeno estudo com 16 estudantes de graduação, por exemplo, os pesquisadores os fizeram ouvir uma música bem conhecida. No dia seguinte, os cientistas perguntaram a eles em quais circunstâncias, se houver, a música havia voltado à cabeça. As músicas tinham mais probabilidade de surgir na memória quando os participantes estavam fazendo tarefas que normalmente fazem a mente divagar.
Tais atividades podem ser caminhar, tomar banho ou lavar louça, completa Hyman. Mas tarefas mais difíceis, como um quebra-cabeça ou trabalho escolar, também podem causar uma mente divagante.
A razão pode ser que temos mais espaço em nosso cérebro para dedicar a essas canções quando não estamos totalmente focados na tarefa em questão —como qualquer estudante do ensino médio tentando fazer dever de matemática poderia dizer.
Às vezes, é um pouco fácil demais criar a condição certa para um “verme de ouvido”, afirma Hyman. Seus colegas o abordaram no fim do dia, imediatamente antes de sua volta de bicicleta para casa, e cantaram “Who Let the Dogs Out” apenas para fazer a música ficar presa em sua cabeça —e funcionou.
“Eu fico tipo, ‘Pare com isso. Eu te odeio'”, diz.
Como posso tirar uma música da minha mente?
Às vezes, os “vermes de ouvido” são perfeitamente agradáveis. Mas outras vezes, eles podem ser extremamente irritantes. Felizmente, pesquisas sugerem algumas maneiras de se livrar deles.
Mascar chiclete é uma opção potencial. Em um estudo publicado em 2015, pesquisadores pediram que 18 estudantes de graduação ouvissem uma música popular e então pediram que tentassem não pensar na música por três minutos. Metade dos participantes recebeu goma para “mastigar vigorosamente” durante os três minutos, e a outra metade não. Os participantes que mascaram chiclete tiveram menos probabilidade de relatar ouvir a música em suas cabeças.
Claro, este é apenas um pequeno estudo, então mais pesquisas são necessárias para entender como (ou mesmo se) mascar chiclete ajuda a eliminar “vermes de ouvido” existentes, afirma Emery Schubert, psicólogo da Universidade de New South Wales, na Austrália.
Ainda assim, há uma explicação que faz sentido: mascar chiclete pode cooptar as regiões do cérebro envolvidas com cantar junto com “vermes de ouvido” em nossas cabeças, explica.
Schubert diz que, como as canções tendem a proliferar nas nossas mentes quando elas estão desocupadas, também pode ajudar colocar você em um estado de espírito diferente —por exemplo, entrando em uma situação social levemente estressante.
“Comece a falar com alguém que você não conhece muito bem”, fala Schubert. “Se eu tivesse uma música em minha mente agora agora e falasse com você, eu provavelmente a esqueceria.”
E se você tem um tema particularmente irritante, você pode sempre tentar substituí-lo por um mais agradável, diz Hyman.
“Coloque uma música diferente”, afirma. “Escolha uma que você não se importe.”
Este artigo foi publicado originalmente no The New York Times