Começa nesta segunda-feira a Semana de Conscientização sobre Resistência Antimicrobiana, ou RAM, com o tema “Educar, defender e agir agora”. A capacidade de bactérias, vírus, fungos e parasitas de resistir à ação de medicamentos é considerada pela Organização Mundial da Saúde, OMS, uma crise global urgente.
O problema faz com que as infecções se tornem difíceis ou impossíveis de tratar aumentando o risco de disseminação de doenças graves e morte.
4ª Conferência Ministerial Global na Arábia Saudita
O diretor-geral da OMS afirmou que não se trata apenas de um risco futuro, pois “as infecções por superbactérias já matam 1,3 milhões de pessoas todos os anos”. Para Tedros Ghebreyesus a ação contra a resistência antimicrobiana “é tão urgente quanto a ação climática”.
O líder da OMS adicionou que “a ironia da RAM é que ela é motivada pelo uso inadequado de antimicrobianos e, ainda assim, um grande número de pessoas também morre porque não conseguem ter acesso a esses medicamentos”.
O pronunciamento foi feito na 4ª Conferência Ministerial Global de Alto Nível sobre Resistência Antimicrobiana, realizada em Jeddah, na Arábia Saudita, em antecipação à semana de conscientização.
O encontro, encerrado no sábado, reuniu representantes de 57 países, incluindo 48 ministros e vice-ministros, e mais de 450 participantes das principais organizações internacionais e da sociedade civil, incluindo escritórios e agências da ONU.
Três prioridades
Tedros pediu aos participantes para “acelerar a ação contra a RAM, estabelecer uma colaboração mais forte e proteger os medicamentos que nos protegem”.
Ele disse que a Declaração Política sobre a RAM acordada em setembro pela Assembleia Geral da ONU estabelece objetivos claros e a tarefa agora é traduzi-la em ações concretas.
As prioridades da OMS são aumentar o financiamento de fontes nacionais e internacionais, o acesso equitativo e garantir o uso adequado de medicamentos antimicrobianos além de promover a pesquisa e o desenvolvimento de novos medicamentos.
“O mercado de antibióticos está quebrado”
Durante a conferência, o enviado especial da ONU News conversou com o representante do secretariado da AMR Industry Alliance, Michiel Peters, que engloba organizações de pesquisa, empresas farmacêuticas e de genéricos, biotecnologia e diagnóstico.
Peters disse que os antibióticos são “fundamentalmente diferentes” de qualquer outro produto lançado no mercado “onde o objetivo é vender o máximo possível”. Ele explicou que com os antibióticos o objetivo é levar “o medicamento certo à pessoa certa quando ela precisa”, o que nem sempre é um negócio lucrativo.
O representante da indústria também observou que o desenvolvimento de antibióticos requer uma “quantidade incrível de tempo e investimento” e, em muitos casos, os medicamentos nem chegam aos consumidores. Para ele, “o mercado de antibióticos está quebrado”.
Peters acrescentou que há uma grave falta de financiamento e incentivos governamentais para a pesquisa e desenvolvimento de novos antibióticos e que muitos pesquisadores estão abandonando este campo.
O representante do setor privado disse que foram feitos muitos progressos desde que a primeira Reunião de Alto Nível sobre a RAM foi realizada em 2016, mas ainda há muito mais a fazer e “ninguém pode resolver o problema sozinho”.
Propagação em zonas de conflito
A diretora regional da OMS para o Mediterrâneo Oriental, Hanan Al Balkhy, disse que a RAM não é uma questão ligada apenas ao terceiro Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, relacionado com a saúde, mas sim a pelo menos 11 dos 17 objetivos globais, da produção alimentar à equidade.
Em conversa com a ONU News, ela afirmou que é por isso que diálogos multissetoriais como a reunião em Jeddah são tão importantes.
Al Balkhy disse que o esforço para combater a RAM é ainda mais difícil em zonas de conflitos, pois as pessoas não têm as ferramentas adequadas de higiene e saúde para se manterem seguras, evitando a criação de um terreno fértil para a resistência antimicrobiana.
A diretora regional disse que a OMS está a tentando ser “o mais inovadora possível” para proteger as pessoas em zonas de conflito da propagação da RAM, com ações como fornecimento de água potável e mitigando os desafios da defecação a céu aberto.
Ela sublinhou que “as bactérias têm um objetivo na vida: sobreviver. A especialista lembrou que estes microrganismos existem desde antes do surgimento do ser humano e podem continuar sobrevivendo milhões de anos depois da atual geração. Por isso, ela destacou que “a coisa mais inteligente a fazer é pelo menos acompanhar a evolução destes micróbios” e garantir que eles não prejudiquem a humanidade.