Em 9 de setembro de 2007, há exatos 15 anos, a HBO estreava a série Tell Me You Love Me. A atração, disponível na HBO Max, durou apenas uma temporada, mas chamou a atenção ao exibir cenas tão realistas de sexo que o público cogitou a possibilidade de os atores estarem transando de verdade. O elenco teve de ir até a imprensa e se pronunciar oficialmente para explicar que o drama não era pornografia explícita.
Logo em seu primeiro episódio, a série mostrou Carolyn (Sonya Walger, a Penny de Lost) masturbando seu marido, Palek (Adam Scott, indicado ao Emmy por Ruptura), até que ele tivesse um orgasmo. Uma sequência que resume bem a proposta da série, originalmente chamada de Sexlife –coincidentemente, a Netflix exibe uma atração de nome similar, Sex/Life, que também se destaca mais pela nudez do elenco do que pela trama propriamente.
Tell Me You Love Me mostrava a relação de três casais em momentos diferentes de suas vidas: Jamie (Michelle Borth) e Hugo (Luke Kirby) estavam na casa dos 20 anos e mostravam toda a efervescência sexual da juventude; Carolyn e Palek tinham 30 e poucos anos e já lutavam com a rotina da vida de casados; e Katie (Ally Walker) e David (Tim DeKay) passaram dos 40 e tentavam manter a chama acesa.
Os três casais se consultavam com uma terapeuta, May Foster (Jane Alexander, quatro vezes indicada ao Oscar), uma senhora de 67 anos que ainda tinha uma vida sexual ativa com o marido, Arthur (David Selby). O ator Ian Somerhalder, recém-saído de Lost (2004-2010) e antes de virar astro de The Vampire Diaries (2009-2017), também encarou cenas quentes na pele de Nick, que tinha um affair com Jamie.
Sequências de sexo oral e penetração foram apresentadas ao longo de todos os episódios. A nudez dos atores era frequente, com seios, bundas e órgãos genitais à mostra, sem nenhum pudor. Assim, público e crítica começaram a questionar se os atos seriam mesmo simulados.
A diretora Patricia Rozema, que comandou os três primeiros episódios, revelou ao site canadense CBCNews que o roteiro da série pedia cenas de sexo pesadas. “Estava no texto. Depois que Carolyn masturba o marido, o script pedia para ela examinar o sêmen, como uma cientista. Você não pode pegar um roteiro desses e rodar de uma maneira que não seja realista”, contou.
“Nada ali é real. Em um momento, bem no início da pré-produção, um dos produtores começou a circular a ideia de que a série teria sexo de verdade. E eu imediatamente disse: ‘Então encontre outro diretor, porque eu não quero fazer isso’”, lembrou ela.
O ator Adam Scott, que estrelava uma série pela primeira vez, revelou à revista BlackBook que Tell Me You Love Me fez o público assediá-lo com uma pergunta inusitada. “Todos queriam saber se era meu pênis mesmo na cena. Minha vontade era sair de casa com uma camiseta que tivesse a frase ‘É uma prótese’”, disse.
Scott também falou que deixou bem claro aos produtores qual seria o seu limite como ator para a exposição: “Eu não faria a maior parte das cenas explícitas. Entendo que, se elas fossem reais, deixaria de ser uma série sobre a sexualidade humana e viraria um documentário”.
A veterana Jane Alexander também teve de se pronunciar sobre a veracidade das sequências de sexo. “As pessoas têm uma tendência a acreditar que elas são reais, mas não são. Nosso sindicato jamais deixaria que nós fizéssemos sexo de verdade. E nós não faríamos, mesmo que deixassem”, esclareceu ao site Zap2It.
Em meio à polêmica, a criadora da série, Cynthia Mort, preferiu desconversar. “Eu não imaginei que as pessoas estariam tão focadas no sexo. Eu só queria contar uma história sobre intimidade”, disse ao jornal Los Angeles Times.
Com toda a repercussão e boa audiência, Tell Me You Love Me chegou a ser renovada para uma segunda temporada. Porém, Cynthia e a HBO não chegaram a um acordo sobre as histórias que gostariam de contar na nova leva de episódios, e a trajetória da série foi encerrada abruptamente após um ano.
Mesmo 15 anos depois, as cenas de sexo da série continuam chamando a atenção por sua crueza e por beirar o explícito. Nem atrações como Elite, Quem Matou Sara (2021-2022), Queer as Folk e a própria Sex/Life chegaram tão longe como Tell Me You Love Me –resta saber se o público ficou mais conservador, se as produtoras se tornaram mais pudicas ou se simplesmente não há necessidade de algo como a produção da HBO na televisão atual.