Eike Batista é um personagem com tantas camadas que se torna difícil de explicar. Então, nada melhor do que mostrar. É o que fazem os diretores Dida Andrade e Andradina Azevedo em “Eike: Tudo ou Nada”, filme que chega hoje aos cinemas.
O filme acerta ao escolher o ator certo e o tom certo para representar Eike Batista. O longa se baseia em um elogiado livro-reportagem escrito pela jornalista Malu Gaspar e, ao transpor a história para as telas do cinema, utiliza um elemento que a obra escrita não é capaz de dar conta sozinha: o quanto tudo aconteceu movido pelo carisma de Eike Batista, que movimentava multidões e a mídia a ouvirem a ele e acreditarem em seus planos.
Nelson Freitas, conhecido do grande público pelo trabalho no antigo “Zorra Total”, cumpre bem esse papel. Se o espectador não souber o fim da história, ele se sentirá movido a acreditar novamente que os campos explorados pela petrolífera OGX serão tremendamente prósperos e que investir na empresa é o melhor negócio possível.
Além disso, há um esforço em explicar o truncado mercado do petróleo e o funcionamento de empresas como as que o empresário criou. Um assunto que poderia ser maçante e em geral vai de uma forma tranquila, com um misto de narração e diálogos um pouco mais detalhados e explicativos do que eles certamente foram em uma mesa em que todos já entendiam do riscado.
Nisso, “Eike – Tudo ou Nada” chegou a me lembrar em alguns momentos o filme “A Grande Aposta”, longa vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado em 2016 que trata da crise imobiliária dos Estados Unidos a partir de 2008.
É curioso para quem não está acostumado a ler sobre o assunto, também, perceber que os valores de fortunas como a que Eike tinha quando era o maioral não eram de fato recursos em conta-corrente como os meros mortais, mas sim o fruto das expectativas, das especulações, do que se imaginava que viria em razão das empresas e dos negócios, sobretudo da OGX e do petróleo — e nunca veio.
Não passa despercebido também as relações íntimas que Eike Batista manteve com os políticos, em especial com o governador “Sobral”, uma referência mal disfarçada a Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro entre 2007 e 2014, período que coincide ao da ascensão do empresário.
O fato de partir do livro de Malu Gaspar, um conhecido esforço de reportagem de uma jornalista que cobriu de perto a ascensão e queda do empresário, é um trunfo que permite aos diretores explorar mais e dar mais espaços à dramatização dos diálogos e das relações entre os personagens.
O filme faz uma opção, e essa sim pode frustrar o público, de não se aprofundar nas relações de Eike Batista com artistas e nas ostentações do empresário.
O próprio casamento com Luma de Oliveira, interpretado por Carol Castro, é muito menos falado do que poderia se imaginar pela divulgação do longa, que apresentou previamente as imagens de Castro com a famosa coleira com “Eike” grafado que o empresário fez para que a amada desfilasse no Carnaval.
Não chega a ser uma grande mácula, porque fica a impressão de que essa história não foi toda contada e que outros filmes ou séries podem ser feitos para tratar da ascensão e queda do empresário. Em parte porque Eike tem a sua fama de fênix, está vivo e já prometeu dar a volta por cima nos negócios. A ver as cenas dos próximos capítulos.