O adolescente de 14 anos suspeito da morte de uma aluna cadeirante e de ter tentado atacar estudantes e professores em uma escola na cidade de Barreiras (BA), anunciou nas redes sociais, dias antes, detalhes do que estava planejando para o dia da ação.
Em perfil no Twitter, o garoto mostrava o rosto, criticava professores, fazia comentários xenófobos, assumia ter ódio para liberar e ainda demonstrou tristeza pela reação esperada de sua família, uma vez que acreditava estar fadado a ser morto na ação. “Se eu matar pelo menos dois, já vou estar feliz”, escreveu.
Na rede, em que era seguido por 186 usuários, o adolescente publicou 103 vezes desde setembro de 2021 — a maior parte desde que começou a estudar na Escola Municipal Eurides Sant’Anna e chegou a se descrever como “exército de um homem só”. Dias antes do ataque na unidade de ensino, ele passou a descrever o que pretendia fazer com os colegas e reagir após a ação.
“Eu mal consigo imaginar o dia, só de pensar no som dos meus passos ecoando no corredor, o som da arma engatilhando, a adrenalina correndo pelas veias e os pensamentos que virão na hora, percebo o quão bom seria saber que não sou o único a carregar esse ato no nome”, escreveu nove dias antes da invasão.
“É realmente algo bem obscuro, me dá um sentimento estranho, eu não consigo descrevê-lo bem, mas sua intensidade é alta. Acabei me encurralando entre uma escola **** e uma corda para eu me enforcar, mas fazer o que, né? Bora lá”, continuou no mesmo dia.
“Eu só quero mesmo que o dia chegue logo, apesar de tudo. Já perdi a paciência com tudo, estou desgastado, apenas esperando a hora de atirar em uns merdinhas (sic). Tô perdendo a capacidade de achar graça nas coisas, apenas sinto tédio, é como se eu estivesse em uma sala de espera”, completou.
No dia 22, ele avisou: “O dia do massacre está chegando. Nos últimos três anos da minha vida, não teve um em que não pensei em quando isso iria chegar, e aqui estamos. Isso não pode dar errado, não posso falhar, não importa o que aconteça”.
Ainda no mesmo dia, ele acrescenta: “Nem tô conseguindo sentir mais nada sobre isso, não sinto felicidade, tristeza, nervosismo, nem nada parecido. Acostumei tanto com a ideia que ela nem tem mais um peso emocional”.
Entre as mensagens, o adolescente ainda lamenta o próprio fim na ação. “E ainda morrerei sem deixar meus genes adiante, ou seja, matarei também meus genes com esse ato. É uma pena, de fato, mas coisas maiores estão em jogo, não posso e nem quero desistir agora”.
Em outra postagem, ele faz trocadilho preconceituoso por estar na Bahia. “F*** que irei morrer no ‘merdeste’ em uma escola ferrada com uns merdinhas, não é nem um pouco digno, mas passar os últimos 10 minutos da minha vida naquele lugar é o preço que tenho que pagar”.
Está na hora da penitência, de pagarem por tamanha imoralidade, de serem executados e enviados para o lugar feito para vocês e com vocês. Não estou com as munições, terei que ir pique samurai. Se eu matar dois, já fico feliz.
No dia 25, domingo, ele postou imagens segurando uma faca e um machado, fornecidos por alguém a quem ele se refere como Comodo. Já com o rosto coberto com o capuz preto que o faria parecer um “ninja”. “Literalmente vou para lá igual um ninja e nem planejei isso”.
Horas antes do crime, o adolescente faz as últimas postagens. “Já estou com tudo comigo, agora é só esperar. Tudo pode acontecer nas próximas horas”, escreve. Por fim, registra: “Irá acontecer daqui a 4 horas e eu estou bem de boa. Estou tão calmo, nem parece que irei aparecer em todos os jornais hoje”.
Na tarde de hoje, o perfil foi retirado do ar pela plataforma, por violação de regras de uso.
O crime
Por volta das 7h20 do dia 26 de setembro, um adolescente de 14 anos pulou o muro da Escola Municipal Eurides Sant’Anna e atacou uma estudante cadeirante com golpes de faca e, então, com um disparo de arma de fogo. Geane Brito morreu pouco depois do ataque.
O adolescente tentou fugir do local, mas foi atingido por um disparo de arma de fogo que, segundo a Polícia Militar, partiu de uma terceira pessoa, ainda não identificada.
O UOL apurou que o atirador era matriculado na escola, mas não vinha frequentando o local.
Com o adolescente foram apreendidos um revólver calibre 38, duas armas brancas e uma “aparente” bomba caseira. O material foi apresentado na 11ª Coordenadoria Regional do Interior.
As equipes da Polícia Civil estão investigando o caso. A polícia ainda não revelou se identificou quem seria a pessoa apontada como Comodo nas redes sociais, nem o autor do disparo que atingiu o adolescente, que segue internado numa unidade de saúde local.