Aliados do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) planejam iniciar imediatamente o plano de aproximação do agronegócio, setor majoritariamente bolsonarista.
O empresário Carlos Augustin, o deputado federal e ex-ministro de Dilma Rousseff (PT) Neri Geller (PP-MT) e o senador Carlos Fávaro (PSD-MT) devem participar de almoço com a bancada ruralista nesta terça-feira (1º) e levar a mensagem de que o governo Lula quer traçar uma pauta conjunta com os representantes do setor.
Para isso, os aliados do petista desejam já prever um encontro da bancada com representantes da equipe de transição, como o presidente da Fundação Perseu Abramo, Aloizio Mercadante (PT) —coordenador do programa de governo de Lula.
Alguns membros da ala lulista do agro defendem que a bancada possa também participar da discussão do titular da pasta da Agricultura para fazer um afago ao bloco parlamentar, que é um dos mais poderosos do Congresso.
A bancada ruralista, que reúne cerca de 300 parlamentares, faz parte hoje da base de apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL), derrotado na corrida pela reeleição.
Como parte da estratégia de aproximação com o grupo, a ideia é que a equipe de Lula declare apoio formal a projetos de interesse do setor e que podem ser aprovados ainda neste ano.
Uma proposta que deve ter aval do time de Lula é o autocontrole sanitário. O projeto está pronto para ser votado no Senado e autoriza a contratação de empresas privadas para realizar a fiscalização sanitária da atividade agropecuária, isentando o Estado dessa responsabilidade e beneficiando grandes produtores que podem arcar com o aumento nos custos.
Aliados de Lula também defendem o projeto que regulamenta a produção de bioinsumos para uso próprio ou fins comerciais –texto que também está na pauta da bancada ruralista.
Os bioinsumos são produtos de origem vegetal, animal ou microbiana que interferem no crescimento e no desenvolvimento das plantas. São usados para melhorar o controle de pragas ou a fertilidade do solo.
“Tem divergências na bancada, mas todos nós representamos o agro. Sempre fomos um grupo suprapartidário. O nosso partido é a agricultura, o pragmatismo”, disse Augustin.
A estratégia é também apresentar propostas em elaboração pela campanha de Lula –e, agora, pelos responsáveis pela transição. Um exemplo é a redução de juros para agricultores que cumprirem requisitos ambientais.
Na mensagem ao agro, lulistas querem dizer que a imagem do Brasil irá melhorar no exterior, o que amplia o potencial de negociações de acordos internacionais e, consequentemente, pode fortalecer os produtos brasileiros no mercado global.
“Queremos mostrar que o governo quer trabalhar de forma alinhada à FPA [Frente Parlamentar da Agropecuária]”, declarou Geller.
Outro assunto a ser discutido com a bancada é a necessidade de ajuste no projeto de Orçamento de 2023, que está no Congresso, para garantir recursos suficientes para bancar o Plano Safra no próximo ano.
O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) foi escalado para também fazer a aproximação, durante a campanha eleitoral, com o setor do agronegócio. Aliados de Lula também devem convidá-lo para um encontro com a bancada, mas acreditam que a figura de Mercadante é mais associada às propostas do novo governo.
“O presidente [eleito] Lula e o vice-presidente [eleito] Alckmin vão falar com todos os setores, e querem falar inclusive com o agro”, afirmou Fávaro.
O presidente da bancada, deputado Sérgio Souza (MDB-PR), evitou polêmica ao comentar a vitória de Lula.
“A eleição mais concorrida da história de nossa democracia permite a certeza de que devemos caminhar com serenidade e união. Ao presidente Jair Bolsonaro, nosso muito obrigado em nome do setor agropecuário brasileiro e das conquistas para milhões de brasileiros”, escreveu ele numa rede social, sem citar Lula.
Mas, nos bastidores da bancada, a avaliação é que, apesar de parlamentares mais irredutíveis ao diálogo com Lula, deverá prevalecer o pragmatismo do grupo, que vai querer costurar, junto com o governo petista, uma agenda de interesse do setor.