Espremida entre as eleições mais disputadas do Brasil e a Copa do Mundo, ocorre nos próximos dias a COP27, ou a 27ª Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas. Assim como nesses dois eventos, a participação brasileira na cúpula internacional merece a nossa atenção e a nossa torcida para que o país consiga os melhores resultados possíveis.
Inicialmente vista com ceticismo ou romantismo por muitos, a conferência traz neste ano uma pauta pragmática, muito em razão de desdobramentos que trazem impactos econômicos para governos e para o setor privado.
Os custos do aquecimento global já se concretizam na forma de eventos climáticos extremos que ocorrem com maior frequência, haja vista a seca que assola parte da Europa e da Ásia e chegou a dificultar a navegação no rio Reno por algum período. Em julho, o Reino Unido viveu os dias mais quentes de sua história.
Por aqui, o estado do Amazonas enfrenta neste momento uma das maiores estiagens de todos os tempos. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a economia da adaptação movimentará de US$ 300 bilhões a US$ 500 bilhões por ano para tratar as consequências dos efeitos irreversíveis da mudança climática.
Os bancos centrais também vêm discutindo métricas de riscos socioambientais em seus processos de supervisão bancária. É esperado que em breve esses riscos sejam incluídos nas medidas de risco-país e de risco empresarial. A resposta às mudanças climáticas se materializará cada vez mais como um fator relevante na geopolítica mundial.
Nas próximas décadas, a economia do clima impactará os mercados de modo exponencial. A COP27 irá se dedicar ao desenho e à governança de mercados regulados, como os mercados de carbono, no nível internacional. Estes se baseiam nos Compromissos Nacionais Determinados (em inglês, as NDCs) de cada um dos 196 países signatários do Acordo do Clima. Inclusive o Brasil, que consignou o compromisso de reduzir emissões em 43% até 2030 em relação a 2005.
No entanto, o chamamento para o aumento da ambição dos países será mais uma vez pauta na COP27, já que o somatório de todos os compromissos apresentados à comissão da ONU nem de longe é capaz de alcançar a meta de limitar em 1,5° C o aquecimento global até 2050. Será preciso fazer muito mais.
Os mercados voluntários, em que as empresas buscam compensar suas emissões em projetos capazes de capturá-las ou evitá-las, já funcionam a pleno vapor. Movimentaram cerca de US$ 2 bilhões em 2021, quatro vezes mais que em 2020. Trata-se de um mercado que pode alcançar US$ 120 bilhões até 2030. Nesse cenário, o Brasil poderia atender até 48,7% da demanda global de créditos de carbono, bem acima dos atuais 12%.
As oportunidades de negócios expandem-se para além das negociações de carbono. Para que as empresas cheguem até lá, será preciso desenvolver projetos consistentes, com resultados rastreáveis e auditáveis ao longo do tempo. Serão serviços de consultoria, auditoria, rotas tecnológicas, registro e acreditação que tendem a crescer no mesmo ritmo acelerado dos mercados de carbono, regulados ou voluntários.
Obviamente, nem tudo são flores. A situação recente da guerra entre Rússia e Ucrânia adicionou desafios geopolíticos inesperados. A Europa, a curto prazo, precisa priorizar sua segurança energética, dados os impactos que vem sofrendo nas quebras de fornecimentos de gás e óleo da Rússia. A médio e longo prazo, será ainda mais estratégico para a região acelerar o passo da transição para a economia de baixas emissões e retomar o plano de uma matriz energética limpa e renovável.
Em qualquer cenário, contudo, o Brasil desponta como participante indispensável, tanto pela diversidade dos seus ativos ambientais quanto pelo seu potencial de produzir agricultura sustentável e energia limpa. Do potencial doméstico de geração de carbono, aproximadamente 80% são projetos de restauração florestal em áreas de pastagem degradadas.
Em 2022 o governo publicou o decreto que regulamenta o mercado de crédito de carbono no país e que estabeleceu a elaboração de planos setoriais de mitigação das mudanças climáticas para diversos setores da economia. Tais setores se preparam para apresentar seus planos de descarbonização nos próximos meses, com a expectativa de criação de empregos e novas tecnologias em torno da economia do clima.
Não parece viável pensar em maior integração comercial do Brasil sem pensar em programas críveis de manejo ambiental dos nossos recursos, para além do nosso NDC, pois este já é requisito mínimo. São temas que, ademais, tendem a condicionar a entrada do país na OCDE ou a conclusão do acordo entre União Europeia e Mercosul, assuntos estratégicos.
Por fim, as condicionantes econômicas globais não poderiam ser mais propícias ao Brasil, que pode figurar como peça central nos compromissos a serem firmados na COP27. Sigo confiante e na torcida.
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