Amigo revela os últimos momentos de Márcio Freire, surfista que morreu em Portugal – Esportes – Zonatti Apps

Amigo revela os últimos momentos de Márcio Freire, surfista que morreu em Portugal – Esportes


Feliz e sempre com um sorriso no rosto. É assim que Yuri Soledade descreve o amigo Márcio Freire, morto na última quinta-feira (5) após acidente em Nazaré, Portugal, maior palco de ondas gigantes do mundo.


Parte do trio conhecido como “Mad Dogs” (cachorros loucos em português), Soledade falou em entrevista ao R7 sobre Freire, contou detalhes do acidente que tirou a vida do amigo, e também sobre os perigos do mar de Nazaré. 


Baiano de Olivença, Soledade conheceu Márcio Freire, de Salvador, ainda na infância. Ao lado de Danilo Couto, o trio de surfistas partiu da Bahia rumo ao Havaí, nos Estados Unidos, para mudar pra sempre a história do surfe mundial. Com uma prancha embaixo do braço e muita coragem, os amigos desbravaram as ondas gigantes e passaram a ser conhecidos como “Mad Dogs”. 



Naquela quinta-feira (5), Yuri Soledade acordou para mais um dia normal, mas se espantou logo de cara com inúmeras ligações perdidas em seu celular. “Era bem cedo aqui no Havaí, e eu acabei vendo que tinha ligações de várias pessoas, inclusive surfistas famosos, que estavam tentando entrar em contato comigo”, conta. 


Soledade afirma que logo imaginou que algo poderia ter acontecido. Depois de um contato com Rafael Tapia, surfista chileno, veio a confirmação de que Márcio Freire havia sofrido um grave acidente em Nazaré.


“Ele me passou detalhes. Disse que tinham tentado fazer o ressuscitamento na praia, e que ele estava sendo levado na ambulância. Mas, por ter passado muito tempo, que ele provavelmente já tinha passado desse plano”, revela. 






Os detalhes do acidente





Soledade lembra que o amigo já havia feito uma sessão de remada (sem a ajuda de equipamentos) naquele mesmo dia, ao lado inclusive de Lucas Chumbo, de manhã. No período da tarde, ele conta que Freire optou pelo tow-in — em que o surfista é rebocado por um jet-ski. “Durante a onda, ele acabou dando um fade, puxando para dentro, e a onda acabou fechando e quebrando em cima dele, bem perto”, revela. 


O surfista também conta que a onda surfada pelo amigo era relativamente pequena em comparação com os “paredões” comumente enfrentados em Nazaré. Até por isso, Freire dispensou o uso do colete inflável, que ajuda os surfistas a chegar a superfície mais rapidamente. “Ele pode ter ficado até tranquilo demais, acabou não subindo a tempo, e veio uma segunda onda”, afirma. 



“Geralmente, quando você não percebe que a segunda onda está logo ali, você acaba ficando preso ali embaixo. Nazaré tem correntes de retorno muito fortes, não te deixa subir. O que acontece é que você acaba ficando sem fôlego e apaga”, explica Soledade. “Mas, a verdade é que a gente sabe que ele já tinha pego ondas maiores até, passado por situações bem mais críticas, mas a gente nunca sabe”, complementa. 







Jaws e Nazaré, duas forças da natureza






Apesar de Nazaré ser mais conhecido pelas ondas gigantes, foi em Jaws, no Havaí, que os “Mad Dogs” fizeram sua fama. O apelido é em referência ao filme de 1975 de Steven Spielberg, e até por isso o local é conhecido por ter uma das melhores (e maiores) ondas do mundo. Apesar de ambas se caracterizarem pela formação de ondas gigantes, há diferenças entre os dois locais. 


“Em Jaws tem o benefício da água ser quente, azul, de ter aquela beleza do Havaí, e isso eu acho que tira um pouco do medo e do receio. Mas, continua sendo uma onda muito intensa, muito forte. Você tem que estar preparado, tem que estar treinando, tem que estar realmente no pico da sua performance como um atleta, como surfista de ondas grandes, para poder encarar e estar lá bem, sem sentir medo, e preparado para descer qualquer onda”, afirma.


Sobre Nazaré, Soledade explica que há uma combinação de fatores que faz do lugar tão perigoso — e tão desafiador para os praticantes do big surf. “O tamanho das ondas, a força da natureza ali, que é atraída por aquele canhão, é uma coisa fora do normal”, conta. “A água gelada e as correntes de retorno fazem de lá quase que um campo de batalha. As ondas quebram gigantes, então você nunca sabe onde está”. 


Ao contrário de outras praias, em que as ondas quebram em lugares específicos (uma pedra, uma base de montanha, etc), em Nazaré, tal como em Jaws, as ondas quebram “num campo muito maior, onde quebram ondas de todos os lados, e você nunca sabe de onde vem a próxima”. 


“Por ser fundo de areia, a quantidade de espuma que tem entre uma onda e outra dificulta bastante o resgate com os jet-skis. Porque o jet-ski precisa de uma água mais ‘sólida’, para que ele tenha tração e possa se locomover. Mas, quando tem essa espuma branca, e uma onda atrás da outra, isso dificulta”, explica. 


“Morreu fazendo o que mais amava”


Apesar da tragédia, Soledade afirma ser um momento de celebrar a vida “do Mad Dog Márcio Freire”. “A última coisa que ele gostaria de ver nesse momento são as pessoas tristes”, conta. Para ele, o que traz conforto é saber que Freire viveu, e morreu, vivendo nos próprios termos. 


“Ele morreu fazendo o que ele mais amava no mundo, e ele vai deixar um legado para as futuras gerações que, com amor, dedicação, paixão, tudo é possível. Ele, assim como eu, que saímos lá da Bahia, de famílias humildes, chegamos e conseguimos conquistar esse espaço no cenário do surfe mundial de ondas grandes, e conseguimos de alguma forma mudar a percepção das pessoas de qual o tamanho das ondas que poderiam ser surfadas na remada”, diz. 


“E acho que isso não tem preço, a gente que ama o esporte, só de ter contribuído de alguma forma, isso não tem preço. Vamos ser eternamente gratos por essa oportunidade. Eu sei que Marcinho deve estar feliz com o retorno de tantas pessoas mandando mensagens, e celebrando a vida dele, curtindo esse momento, mesmo que seja um momento triste”, completa Soledade. 


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