Oscar Anton é um jovem cantor e compositor francês que busca, mais que tudo, conexões.
Seja devido ao isolamento pandêmico, onde passou boa parte de seu auge criativo, seja pela vontade inerente de conhecer novas culturas, ele decidiu se jogar de cabeça em um projeto ousado: viajar para lugares totalmente novos, se unir a algum artista local e criar música do zero. O resultado é a série postcards, que passou pelo Rio de Janeiro.
No Brasil, ele gravou com Ana Gabriela a canção “saudade”. É uma bossa poética que une versos em português, francês e inglês e soma às demais faixas do projeto, gravadas em Milão, Berlim, Madri, Istambul, Amsterdã, Paris, Los Angeles e Nova York. Parece estar dando certo: a série postcards já acumula quase 8 milhões de audições, com sucessos como “Grapejuice”, feat com FIL BO RIVA e “Cheerios”, feat com VV.
A iniciativa é um movimento natural para um artista que gravou e lançou seu álbum de estreia, Home of Sanity, de dentro do próprio quarto. Buscando conexões para além das suas canções solo e das colaborações feitas com a irmã, a também cantora Clementine, ele transformou o trabalho em uma oportunidade de conhecer o mundo, outras pessoas e a si mesmo.
Agora, Oscar reflete sobre o caminho percorrido até aqui, para muito além do passaporte carimbado. O artista conversou com o Tenho Mais Discos Que Amigos! direto da casa de seus pais, para onde sempre retorna após longos períodos longe.
Confira o papo completo abaixo!
Continua após o vídeo
TMDQA! Entrevista Oscar Anton
TMDQA!: Oi Oscar, prazer falar com você! Onde no mundo você está hoje?
Oscar Anton: Estou na casa dos meus pais, na costa oeste da França. É um lugar legal onde posso trabalhar, montei um pequeno estúdio aqui, então é bem agradável.
TMDQA!: E claro que quero falar sobre esse momento que você está agora, lançando muitas músicas, mas quero voltar ao seu primeiro disco. Ele foi lançado no meio da pandemia e tinha de forma muito apropriada as palavras “casa” e “sanidade” no título. De uma, a gente já estava de saco cheio; a outra, estava em falta!
Oscar: Exatamente!
TMDQA!: O quanto pesou o fato de que você não aguentava mais ficar no seu quarto para você decidir que o próximo passo seria viajar o mundo?
Oscar: Foi exatamente isso. Eu chamei “Home of Sanity” assim porque foi a minha forma de me manter são, fazendo música no meu quarto. Ainda sentia falta de muita coisa, tipo ver meus amigos, ir a uma festa e encontrar outros artistas, que era o principal. Por isso eu fiz os cartões postais e todas essas viagens, porque eu queria fazer o exato oposto. Pensei, “agora que os países estão abrindo de novo, talvez eu consiga viajar um pouco”. E ainda consigo encontrar outros artistas, porque quero sempre melhorar minha música, então encontrar outras pessoas ajuda. Depois de “Home of Sanity”, eu já estava pensando no próximo projeto, então quis fazer o exato oposto.
TMDQA!: Faz sentido! Agora, para a sua série “postcards”, como você decide qual será o próximo destino?
Oscar: No início, foram duas coisas: onde eu queria muito ir – por exemplo, fui ao Brasil, que era um dos meus sonhos, ir aí e conhecer pessoas daí. Fui também ao México, foram muitos países que eu queria visitar. E a segunda coisa foi pensar lugares onde fazia sentido [mercadologicamente], onde eu poderia conseguir playlists do Spotify. O Spotify é grande no Brasil, então isso foi outro fator: eu podia ir aí, colaborar com outro artista e receber o apoio do Spotify ou outro serviço de streaming, o que ajudaria a música, claro. Eram países que eu queria visitar, mas que também eram importantes estrategicamente.
TMDQA!: Eu estava pensando que talvez fosse porque fãs brasileiros ficaram te pedindo pra vir.
Oscar: Ah, teve isso também! Por isso era um dos meus destinos do sonho. Ah, e também tem o surf, que eu pratico muito e eu tive o prazer de surfar no Rio. Então foi um sonho realizar isso.
TMDQA!: Legal! Agora, uma das coisas legais de viajar pelo mundo é sair da zona de conforto, conhecer culturas e pessoas diferentes. Porém, viagens também são boas oportunidades de conhecer a si mesmo. Nessa experiência, teve algo que te surpreendeu… sobre você mesmo?
Oscar: Sim. Primeiro eu pensei que era uma pessoa muito solitária. Eu passei praticamente um ano fechado no meu quarto fazendo música, e amei isso. Pensei que, ao viajar, ia encontrar algumas pessoas, mas também ia passar bastante tempo sozinho. Viajar também pode ser algo solitário, não tinha muita gente junto comigo. Eu pensei que ia ser legal ficar um tempo sozinho, mas logo comecei a sentir falta de gente – minha família, amigos…
Porque eu conhecia as pessoas, artistas, por uma semana ou duas. Então não dava tempo de criar conexões de verdade com as pessoas. Eu senti falta disso, achei que não iria sentir. Mas no fim do ano, eu fiquei feliz de voltar para casa e passar um tempo com minha família e amigos. Agora eu entendo melhor que preciso desse tempo e que duas semanas é pouco para criar conexões de verdade. Mas foi uma ótima experiência, me ensinou algumas coisas.
TMDQA!: Nenhum homem é uma ilha, certo?
Oscar: (risos) Exatamente.
TMDQA!: Até queria te perguntar sobre isso. Porque você já faz música com sua irmã, aí foi fazer música com artistas de outros países. Como foi sair de um espaço onde você conhece seu colaborador totalmente, para um lugar de criar com pessoas novas ou completamente estranhas para você?
Oscar: Tem razão. É completamente diferente, porque você não conhece a pessoa. Ao mesmo tempo, é interessante, porque se começa de um lugar completamente novo, você não tem uma bagagem com a pessoa. Você só começa a tentar algumas coisas e nesse processo, passa a entender um pouco mais sobre aquele artista, sua personalidade e musicalidade. É bem diferente. Não diria que prefiro criar com alguém que conheço ou com alguém que não conheço. Eu sei que, através da música, pude conhecer mais sobre as pessoas. Começando apenas com criar música, sem mesmo falar, só escrever letras e arranjos, você já conhece muito sobre alguém. Foi um processo bem divertido. Mas ainda fico bem mais confortável escrevendo sozinho do que com os outros. É diferente, algo que eu gosto, mas é mais confortável pra mim estar sozinho em um cômodo do que ter pessoas comigo, me olhando.
TMDQA!: Eu até queria te perguntar sobre os produtos da sua loja online. Porque você fez cartões postais de verdade, que envia para as pessoas – como alguém no século XIX faria!
Oscar: (risos) Exatamente!
TMDQA!: Exceto pelo fato de que compraram na internet. E na era do streaming e do digital, qual a importância de ter um produto físico memorável para um artista independente? E qual o papel de plataformas como Bandcamp e Spotify em ajudar nisso?
Oscar: Bem, eu não tenho todas as respostas. Só acho que é importante ter uma conexão física, sabe? Não quero ser só um artista de streaming pelo resto da vida. Quero ser parte da vida das pessoas, se elas concordarem em aceitar minha música. Ter um pedaço de papel, como o cartão postal, é um bom lembrete físico da música que você gosta. Minha ideia inicial era sair da bolha do streaming ao tentar me aproximar das pessoas que gostam da minha música ao escrever para elas. No Spotify você tem a opção de comprar do artista que gosta. O streaming oferece opções de comercializar produtos, ingressos para shows… Então através da plataforma, você pode criar uma conexão real com o artista que gosta. Ambas são importantes.
TMDQA!: Agora, minha última pergunta: eu vi um vídeo em que você credita sua vontade de fazer música a um show do Coldplay que assistiu aos 12 anos. Se o pequeno Oscar, de 12 anos, pudesse ver o futuro e descobrisse como sua jornada musical seria, o que você acha que ele pensaria?
Oscar: É uma pergunta bem legal e interessante! Eu diria que ficaria super orgulhoso. Porque eu tenho muito orgulho de tudo que fiz. Ele ficaria meio preocupado de eu não estar concluindo todos os objetivos à medida que envelheço. Porque quando eu era mais jovem, eu pensava que tudo se encaixaria na minha vida aos 25 anos de idade! Mas aprendi que paciência é muito importante, você tem que ter paciência, continuar trabalhando e tendo novos sonhos.
Então acho que ele diria algo tipo, “que maneiro que você conseguiu se movimentar nessa direção! Mas tem certeza de que já está feliz com isso?” (risos). Mas sei que ele entenderia. Agora eu entendo. No meu quarto, eu tenho uma foto minha muito pequeno, da época em que eu decidi por conta própria que iria fazer música. Então olho pra ele e penso, “ok, ainda estou fazendo exatamente o que aquele menino queria”. Isso é super importante pra mim, por isso digo que ele ficaria orgulhoso. Porque é o que quero: deixar aquele menino de antes e eu hoje orgulhosos.
TMDQA!: Um dia de cada vez, certo?
Oscar: Exatamente!
TMDQA!: Obrigado por seu tempo, Oscar. Espero que um dia você venha ao Brasil fazer shows!
Oscar: Sim, também quero! Muito obrigado por falarem comigo!
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