Disco ao vivo não é para todo mundo – nem todo artista consegue entregar um registro à altura da performance de estúdio; nem todo fã compra a ideia de um som mais difuso e sem tanta produção.
Mas é bem verdade que álbuns ou vídeos ao vivo de shows antológicos sempre terão um lugar no coração do admirador de música – exceto se você for o Ed Motta, possivelmente.
O registro de uma apresentação é um atestado de “quem sabe faz ao vivo”. Embora as tecnologias de pós-produção possam fazer milagres atualmente, afinando vocais e polindo instrumentos, em geral um disco ou registro de show se torna uma prova da potência de uma banda ou artista solo e um marco de uma turnê que não será esquecida.
Discos ao vivo no Brasil
O Brasil é um grande consumidor de álbuns ao vivo, claro.
Apenas nas últimas décadas, verdadeiros fenômenos surgiram de discos gravados em shows: Terra Samba, Banda Eva, Chiclete com Banana, Calypso. Na MPB, tivemos álbuns marcantes de Caetano Veloso, Adriana Calcanhotto, Djavan. Os Acústicos MTV são uma categoria própria de grandes shows eternizados em vídeo e áudio. E o que dizer do mercado gigantesco do sertanejo, que não só faz das apresentações uma super produção como ainda usa esses registros para vender turnês imensamente lucrativas?
Porém, na música em geral, uma canção em sua versão de estúdio costuma ser a forma padrão como a maioria a consome e até descobre. Algumas interpretações, no entanto, quebram esse costume com registros incríveis de performances inesquecíveis.
Listamos abaixo apenas 15 deles, para você descobrir ou redescobrir!
15 músicas que são mais famosas em suas versões ao vivo
U2 – “Bad” (Live Aid, 1985)
Uma apresentação nada menos que antológica marca a passagem do U2 pelo Live Aid, em 1985.
A grandiosidade estava posta para qualquer artista que subisse naquele palco, claro. Eram 72 mil pessoas assistindo ao show só no Wembley Stadium, em Londres, unidas pela causa do fim da fome na Etiópia. A transmissão ao vivo foi global, em uma conexão satélite de proporção inédita à época, atraindo a audiência de 40% da população mundial!
Mas a banda liderada por Bono foi além e promoveu uma catarse coletiva. O que começou com “Bad” foi misturando outras canções, e a música acabou com mais de 11 minutos!
Queen – “Love of My Life” (Rock in Rio, 1985)
Talvez seja o fato de vivermos no país do Rock in Rio, mas é impossível dissociar a presença de palco de Freddie Mercury e do Queen do registro atemporal da banda no festival carioca. O ponto alto é, sem dúvida, “Love of My Life”, uma canção originalmente gravada no álbum A Night At The Opera.
Embora fosse conhecido pelo seu potente vocal, Mercury sequer tenta cantar os primeiros versos da canção. Faz do público seu enorme coral, acompanhado apenas por Brian May ao violão.
O show se tornou um marco na trajetória do Queen, resultando em um álbum ao vivo completo.
Elvis Presley – “Suspicious Minds” (Las Vegas, 1970)
“Suspicious Minds” é considerada uma das músicas mais importantes de Elvis Presley, e isso não é dizer pouco. A composição foi lançada em 1969, após um período em que a popularidade de Elvis havia diminuído significativamente. “Suspicious Minds”, então, marcou o retorno do rei ao topo das paradas de sucesso e lhe deu um novo impulso em sua carreira.
Além disso, a partir daí, Presley se dedicou a gravar e se apresentar ao vivo com mais frequência, o que ajudou a solidificar seu status nos palcos. A música não foi incluída em nenhum álbum de estúdio de Elvis na época de seu lançamento, mas posteriormente apareceu em várias coletâneas, como Elvis’ Greatest Hits Volume 1 (1974), Elvis: A Legendary Performer Volume 1 (1976) e a marcante Elvis 30 #1 Hits (2002).
Mas o que entrou para a história mesmo foi essa performance em 1970, em Las Vegas. A intensidade de Presley, da banda e até mesmo o inesquecível figurino branco ficaram gravados na mente de muita gente.
Puff Daddy & Faith Evans feat 112 & Sting – “I’ll Be Missing You” (MTV VMA, 1997)
“I’ll Be Missing You” é uma canção emocional por si só. Foi composta em homenagem a Notorious B.I.G., rapper assassinado em março de 1997, e o single de Puff Daddy com Faith Evans e 112 ainda era acompanhado de coral e usava a base de “Every Breath You Take”, do The Police, como batida.
O resultado é que não só a versão de estúdio foi imensamente bem-sucedida, como uma apresentação memorável no MTV Video Music Awards uniu todo mundo – Puff, Faith, o 112 e grande coral em um só palco, todos de branco. E, de preto, se contrastando, aparecia Sting, cantando o refrão do maior sucesso da sua banda.
Para completar, o telão mostrava imagens de Biggie, com o público vibrando ao som de versos sobre o reencontro com o artista em uma vida futura. Ao fim, Puff Daddy pede palmas para tantos outros nomes falecidos na mesma época – inclusive Gianni Versace, Princesa Diana e Tupac Shakur.
De arrepiar.
Cássia Eller – “Malandragem” (Acústico MTV, 2001)
“Malandragem” já nasceu icônica. Um dos destaques do terceiro disco da cantora carioca, o autointitulado Cássia Eller, a música era uma inédita de Cazuza que ganhava vida pela primeira vez em uma das vozes mais marcantes da sua geração.
Mas aí veio o Acústico MTV, que expôs toda a genialidade de Cássia como intérprete. O lançamento foi em 2001, fazendo daquele o último álbum de Eller em vida. Ela viria a falecer no final daquele ano, com apenas 39 anos, e essa despedida prematura tornou o que ela entrega no Acústico ainda mais marcante.
O disco vendeu mais de 1 milhão de cópias, levando a certificação de Diamante. E “Malandragem” foi eternizada mais uma vez, em meio a tantas outras grandes canções desse mesmo álbum.
Capital Inicial – “Primeiros Erros (Chove)” (Acústico MTV, 2000)
Esta é uma das músicas mais populares do Capital Inicial, mas que ganhou uma sobrevida 15 anos depois de seu lançamento. “Primeiros Erros (Chove)” saiu originalmente em 1985 no primeiro álbum homônimo da banda, mas foi com o programa Acústico MTV em 2000 que a canção ganhou ainda mais destaque.
Claro que, na década de 80, essa faixa foi uma das responsáveis por tornar a estreia do Capital bem sucedida. Mas foi nessa nova interpretação, intimista e com participação de Kiko Zambianchi, que “Primeiros Erros (Chove)” chegou para toda uma nova geração, a ponto de revigorar a carreira do Capital Inicial na época.
Atualmente, a canção caminha para 75 milhões de execuções, apenas no Spotify. Nada mal.
Eric Clapton – “Tears in Heaven” (MTV Unplugged, 1992)
Este é certamente um dos pontos altos do álbum Unplugged, de Eric Clapton, lançado em 1992, graças à sua execução e também ao lado emotivo da faixa.
Isso porque “Tears in Heaven” foi inspirada pelo luto: trata-se de uma homenagem ao filho de Clapton, Conor, que morreu tragicamente em 1991, aos 4 anos de idade, ao cair do 53º andar de um prédio em Nova York. A letra fala sobre a dor da perda e a busca por respostas e conforto após a morte de um ente querido.
O álbum Unplugged acabou ganhando vários prêmios, incluindo seis Grammys, até o de Álbum do Ano. Além disso, se tornou o disco ao vivo mais vendido de todos os tempos, com 26 milhões de cópias.
Para completar, a performance de “Tears in Heaven” nesse disco de grande repercussão ajudou a trazer mais visibilidade para a questão da segurança de janelas em edifícios, que foi a causa da morte do filho de Clapton.
A canção se tornou um símbolo de conforto para muitas pessoas que perderam entes queridos e continua a ser uma das mais populares da carreira de Eric Clapton.
Johnny Cash – “Folsom Prison Blues” (Folsom, 1968)
Lançada pela primeira vez em 1955, “Folsom Prison Blues” ganhou sua reputação como uma das melhores canções de Johnny Cash graças ao álbum ao vivo At Folsom Prison, gravado no dia 13 de janeiro de 1968, na prisão estadual de Folsom, Califórnia.
Além de ser uma espécie de faixa-título desse registro, essa canção em especial tem grande interação do público – formado, claro, pelos detentos de Folsom. A música fala sobre a vida de um prisioneiro e sua luta para escapar da prisão, e ressoou com a plateia instantaneamente.
Todo o disco ao vivo At Folsom Prison foi um marco na carreira de Johnny Cash e ajudou a redefinir o som da música country, incorporando elementos de rock e blues, levando a diversos prêmios. A música e o álbum se tornaram símbolos da empatia e compaixão de Cash pelos menos afortunados e marginalizados, tornando-se uma referência para outros artistas que seguiram seus passos.
Lulu Santos – “Apenas Mais Uma de Amor” (Acústico MTV, 2000)
No ano 2000, o álbum Acústico MTV, de Lulu Santos, tornou-se inescapável. O disco duplo incluía uma sequência admirável de sucessos, mas acabou ganhando destaque uma canção mais obscura do seu repertório pregresso.
Nem parece que ela já estava no álbum Pop Brasil, de 1983. Entre sucessos como “Tempos Modernos”, “Um Certo Alguém”, “Como Uma Onda (Zensurfismo)” e “O Último Romântico”, “Apenas Mais Uma de Amor” acabou ficando meio apagada.
Mas ela voltaria triunfante, com ares de ineditismo, no “White Album” de Lulu.
Mariah Carey – “Hero” (Nova York, 1996)
“Hero” foi lançada originalmente por Mariah Carey em 1993, mas foi na apresentação ao vivo em 1996, no Madison Square Garden, em Nova York, que a canção se tornou um grande sucesso.
Posteriormente lançada como single, a interpretação emocionante e poderosa de Mariah Carey, combinada com a letra inspiradora da música, consolidou a imagem da cantora como uma das maiores vocalistas de sua geração.
Não apenas isso: “Hero” é mais um exemplo do talento de compositora de Mariah Carey. A faixa se tornou um hino para aqueles que buscam inspiração e coragem em momentos difíceis.
A música continua sendo uma das mais conhecidas e admiradas do repertório de Carey, e sua versão ao vivo é uma das mais reverenciadas pela crítica e pelo público.
Cazuza – “Codinome Beija-Flor” (O Tempo Não Pára, 1988)
“Codinome Beija-Flor” é certamente uma das músicas mais importantes da carreira solo de Cazuza. Ela foi gravada originalmente em 1985, no álbum Ideologia, e posteriormente ganhou uma versão ao vivo no álbum O Tempo Não Pára, lançado em 1988.
Além de ser um grande sucesso comercial em sua versão ao vivo, com muitas execuções em rádio, “Codinome Beija-Flor” se tornou um hino do movimento LGBTQIA+ no Brasil, sendo interpretada como um símbolo da luta contra a homofobia e a discriminação.
A letra da música aborda temas como o amor livre e a quebra de padrões sociais, que eram muito importantes para Cazuza e para a cultura da época.
Para completar, a expressão “segredos de liquidificador” segue como uma das mais misteriosas da música brasileira.
Os Paralamas do Sucesso – “Lanterna dos Afogados” (Os Grãos – Ao Vivo, 1991)
“Lanterna dos Afogados” apareceu originalmente no álbum O Passo do Lui, em 1984. No entanto, a música ganhou ainda mais popularidade após ser incluída no álbum Os Grãos – Ao Vivo, lançado em 1991.
O disco foi um grande sucesso comercial, vendendo milhões de cópias no Brasil. Embora não tenha sido lançada como single oficial do álbum ao vivo, “Lanterna dos Afogados” tornou-se uma das canções mais populares dos Paralamas do Sucesso e continua sendo lembrada como um dos maiores sucessos da banda.
A música é conhecida por sua letra poética e melancólica, que fala sobre a solidão e a busca por um sentido na vida. A canção também é famosa por sua melodia cativante e pelo solo de guitarra marcante de Herbert Vianna, que é considerado um dos melhores da música brasileira.
Adriana Calcanhotto – “Devolva-me” (Público, 1999)
“Devolva-me” está presente no álbum Público de Adriana Calcanhotto, como a faixa 5 do disco ao vivo gravado no Teatro Municipal de São Paulo em 1999.
Essa interpretação de Calcanhotto é elogiada pela crítica e pelo público, que destacam a delicadeza e emoção que a cantora imprime na música. Essa versão é mais suave e introspectiva do que a original, de Renato e Seus Blue Caps, mas ainda mantém a melodia e as letras cativantes que tornaram a música tão popular entre os fãs brasileiros de música dos anos 60.
Com sua presença no álbum Público, “Devolva-me” ganhou nova vida e tocou à exaustão nas rádios brasileiras na virada do milênio.
Beatles – “Twist and Shout” (Ed Sullivan Show, 1964)
A apresentação dos Beatles de “Twist and Shout” no Ed Sullivan Show em 1964 foi um momento icônico na história da música e da televisão americana.
A banda havia acabado de chegar aos Estados Unidos e já havia se tornado um fenômeno cultural em todo o mundo. A performance foi intensa, com John Lennon cantando com tanto fervor que sua voz começou a falhar no final da música. A apresentação ajudou a solidificar a popularidade dos Beatles nos Estados Unidos e marcou o início da Beatlemania no país.
O impacto da apresentação de “Twist and Shout” dos Beatles no Ed Sullivan Show se estendeu muito além da música e da televisão.
A performance foi um marco na cultura pop americana e ajudou a inaugurar uma nova era de música e entretenimento que influenciou a moda, a linguagem, o comportamento e a atitude de toda uma geração. Até hoje, a performance é lembrada como um dos momentos mais memoráveis e icônicos da história da música.
O visual de John, Paul, Ringo e George nesse vídeo foi copiado à exaustão em outros produtos da cultura pop, tornando o momento ainda mais marcante.
Elton John – “Candle In the Wind 1997”
“Candle in the Wind” é mais uma parceria de sucesso de Elton John e Bernie Taupin. Ela foi originalmente lançada em 1973 como uma homenagem a Marilyn Monroe, mas mais tarde foi reescrita como uma homenagem a outra figura icônica, a Princesa Diana, que faleceu tragicamente em um acidente de carro em 1997.
Quando Elton John e Bernie Taupin escreveram a música original em 1973, eles foram inspirados pela vida e morte de Monroe, que havia falecido em 1962. A letra da canção fala sobre a solidão e vulnerabilidade de Marilyn que, apesar de sua fama e sucesso, lutou com problemas pessoais e emocionais.
Em 1997, após a morte da Princesa Diana, Elton John foi convidado a tocar no funeral dela. Ele decidiu reescrever a letra de “Candle in the Wind” para homenageá-la e capturar a dor e a perda sentidas por tantas pessoas em todo o mundo. A nova versão da música, intitulada “Candle in the Wind 1997”, apresenta uma letra completamente nova que se concentra na vida e legado da Princesa Diana.
“Candle in the Wind 1997” tornou-se o single mais vendido da história do Reino Unido e arrecadou milhões de dólares em todo o mundo para a Fundação Memorial da Princesa Diana.
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