São Paulo, Brasil
13 de março de 2023.
Vaias, palavrões no Allianz Parque.
Direcionados a Rogério Ceni.
O que deveria ser uma situação comum, já que o estádio pertence ao rival Palmeiras.
Mas os insultos partiam de parte dos 39.454 torcedores são paulinos, que lotaram a arena.
Ceni colecionou mais um fracasso como técnico do clube que o tem como o maior ídolo da histórias.
Mas como técnico jamais ganhou um título oficial.
Coleciona frustrações.
A de hoje foi muito dolorida, não conseguiu montar um time capaz de vencer o modesto Água Santa, de Diadema. Empatou a partida das quartas-de-final do Paulista em 0 a 0, jogando mal, sem criatividade, penetração, intensidade, controle do jogo.
E na decisão por pênaltis, derrota por 6 a 5.
Fez o São Paulo acompanhar Corinthians e Santos, também eliminados do Estadual de 2023.
As semifinais serão entre Água Santa e Ituano; Palmeiras e Red Bull Bragantino.
Fosse qualquer outro treinador que acumulasse fracassos no São Paulo, desde o final de 2021, quando foi contratado, estaria com as malas prontas.
Seria demitido porque, formou o elenco de 2022 e desmanchou o time e formou novo grupo de jogadores em 2023 e ainda assim segue dando vexames.
Mas acontece que o São Paulo é refém de Rogério Ceni.
A direção precisa do treinador como escudo, para atrair os holofotes.
Com Ceni, a dívida de mais de R$ 700 milhões é esquecida.
Com Ceni, o clube pôde mudar seu estatuto e garantir a reeleição do presidente Julio Casares.
Com Ceni, o São Paulo segue acumulando desfalques no elenco, batendo recorde de contusões e recuperações com estranhas demoras, isso ainda no início de 2023.
Com Ceni, a diretoria pôde alugar o Morumbi para a organização dos shows do Coldplay em plena fase decisiva do Paulista, campeonato que o time poderia vencer.
Por isso, após mais o vexame de ontem, com a eliminação vergonhosa do Campeonato Paulista de 2023, com empate no Morumbi lotado, diante do Ituano, derrota, com fim do tabu, para o Corinthians, também no Morumbi abarrotado, fracasso contra o São Bernardo, e derrota frente ao Água Santa, de Diadema, Rogério Ceni não pediu demissão.
E muito menos foi demitido.
Apesar de o clube tricampeão do mundo não chegar sequer à semifinal do Estadual.
Rogério Ceni, muito sereno, como se já estivesse acostumado às derrotas como treinador do São Paulo.
Nem uma palavra sobre demissão.
Não repetiu a frase que usou em 2022, a que dizia: “Se o problema for eu, saio”.
Nada disso.
Só admitiu a frustração da eliminação.
E deixou claro que seguirá normalmente no cargo.
“Independentemente das dificuldades, tínhamos obrigação passar para a semifinal. Mesmo com as lesões, o Galoppo logo no começo, e com a gente jogando os últimos minutos com um homem a menos. Primeiro tempo tivemos intensidade, volume, marcação-pressão e criamos boas oportunidades.
“O tempo foi passando, trocas foram feitas, o Rato pediu para sair, o Luan esteve cansado. Rodamos três como 9, o Erison não tinha condição de jogar mais de 45 minutos. Achei que naquele momento era para colocá-lo.
“Mesmo assim, se faz uma obrigação nossa vencer o Água Santa, com todo o respeito. Somos o São Paulo e deveríamos estar nas semis.
“A culpa é nossa!”
Mesmo assumindo a responsabilidade do fracasso, Ceni vai seguir.
Continuará como técnico, mesmo sem grande perspectiva de reforços importantes, por conta da atual situação financeira do São Paulo.
E deverá ter mais um desfalque importantíssimo.
Galoppo, que deixou o campo ontem aos 15 minutos, deve ter sofrido lesão nos ligamentos cruzados do joelho esquerdo. Pelo menos foi o que o primeiro exame preliminar mostrou, ainda ontem. Se confirmada a lesão, a possibilidade de cirurgia é imensa.
Ceni seguiu impávido, na sua entrevista coletiva, como se tivesse feito um bom trabalho neste péssimo desempenho do São Paulo no Paulista.
“Olha os números do São Paulo no Paulista e você vai ver que é um time que sabe onde quer chegar, tem os melhores índices em quase todos os quesitos, mas tem problemas que acontecem no meio do caminho, lesões…”
Os números do Paulista de 2023, que importam, são outros.
O clube tricampeão mundial caiu nas quartas-de-final.
Por um clube que começou a disputar torneios profissionais há dez anos.
Outro vexame na passagem sem títulos de Ceni, como técnico, do São Paulo.
Mas não forte o suficiente para que pedisse demissão.
Ou fosse demitido pela silenciosa diretoria de Julio Casares…