Dungeons & Dragons, mais conhecido como D&D, é tido como o primeiro RPG do mundo e mesmo tendo sido lançado há mais de cinquenta anos, continua gerando produções que bebem na fonte de seu enredo ou adaptações propriamente ditas. É o mesmo RPG que baseou “A Caverna do Dragão” (1980) e que os meninos de “Stranger Things” costumavam jogar. No novo live-action, estrelado por Chris Pine e dirigido por John Francis Daley e Jonathan Goldstein, impera o desafio de superar o fiasco do filme da década de 2.000 e fazer com que o público não precise conhecer a fundo o jogo para se apaixonar pela trama.
Cartaz de “Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes” (Foto/Divulgação/Paramount Pictures)
A obra gira ao redor do bardo Edgin (Pine), um estrategista que traça um plano para conseguir ressuscitar a falecida esposa e reconquistar a confiança da única filha e para isso precisará derrotar um ex-parceiro de roubos, Forge (Hugh Grant), que se tornou magnata montado na grana e no poder. A premissa parece simplória, mas se bem explorada, renderia facilmente umas 2h de filme, e é exatamente o que “Honra Entre Rebeldes” faz.
Para ser páreo para o principal inimigo e a poderosa Maga Vermelha, Sofina (Daisy Head), o bardo reúne sua melhor amiga bárbara, Holga (Michelle Rodriguez), a druidesa com senso de justiça aguçado, Doric (Sophia Lillis), o feiticeiro inseguro e com síndrome de impostor, Simon (Justice Smith) e o paladino bonitão, com uma falta de humor cômica, Xenk (Regé Jean-Page). Com os arquétipos bem definidos em cada uma das personalidades e funções no time, como um dos cartazes diz, “não é necessário experiência” para acompanhar e se entreter com o enredo.
“Honra Entre Rebeldes” é uma respeitosa adaptação do jogo de tabuleiro que atravessa gerações e se alonga em uma aventura épica e mágica sobre pessoas, seus dramas particulares e grupais, não deixando de lado as criaturas que dão o tom fantasioso necessário ao enredo. Seu humor é bem pontuado e certeiro, em tons além do imaginado, mas que é uma grata surpresa. Trata-se de uma comédia com potencial para ser um blockbuster descompromissado da missão de seguir os passos das aventuras tradicionais.
O live-action possui uma dinâmica lúdica e embora seja repleta de easter-eggs, é fluida e de fácil compreensão, sendo mais um ponto positivo para o longa. É uma viagem capaz de entreter do mais leigo ao fã de carteirinha do RPG, mostrando-se eficiente como um bom filme deve ser, se fazendo entender completamente por si só, sem considerar fatores externos para passar sua mensagem.
Além do foco central, a obra se apoia em temas que geram identificação no espectador, como a família, um simples ato que pode mudar o rumo de uma vida e, principalmente, como nossa mente pode ser nossa maior aliada ou nossa pior e mais severa inimiga. O apelo humano e reflexivo torna o filme ainda mais prazeroso de ser assistido, esclarecendo que não se trata de uma comédia pastelão para alienar pela graça.
Confira o trailer final dublado (Reprodução/YouTube)
A mistura de gêneros é equilibrada e abusa de efeitos especiais que entregam o melhor do CGI, encantando os olhos e lembrando o tom sombrio de “Duna”, em alguns aspectos, e a magia de “Malévola”, “A Bússola de Ouro” e “Ponte Para Terabítia”. Estreando em um ano de produções aguardadíssimas como “Oppenheimer”, “Barbie” e “A Pequena Sereia”, “Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes” tem tudo para ser um dos filmes mais bem recebidos pelo público e crítica em 2023. Entrega uma produção construída na medida correta em tudo. Diálogos bem elaborados, humor inteligente, uma bela fotografia, enredo leve e uma conclusão satisfatória. O filme não decepciona e faz jus ao RPG mais popular e antigo do mundo, sem a necessidade de um conhecimento prévio aprofundado. A obra fala por si só e isso é um dos aspectos mais sagazes do roteiro de Chris McKay e Michael Gilio.
Nota: 9,9
Foto destaque: Cartaz de “Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes”. Divulgação/Paramount Pictures