Ninguém disse que o mundo é justo. E o mundo do cinema também não é. Não existe fórmula para o sucesso, apesar de muitos produtores de Hollywood sempre tentarem encontra-la. A verdade é que o público é imprevisível, podemos perceber isso através da internet e das redes sociais. Por exemplo, vira e mexe nos deparamos com uma produção pela qual não dávamos nada, mas que se transformam na mais nova queridinha do público. Sucessos surpresas são sempre agradáveis e bem-vindos. Por outro lado, basta algum produtor espertalhão tentar reproduzir esse mesmo sucesso com um filme nos mesmos moldes, para perceber que a coisa pode não sair da maneira planejada – é o chamado capturar novamente um relâmpago na garrafa (se você conseguiu uma vez, provavelmente não irá repetir).
Ou seja, sucessos podem sim ser planejados. Mas nem todo filme produzido para tal de fato se torna um sucesso. Por outro lado, obras menos ambiciosas podem vir a cair no gosto do público e ser jogadas às estrelas – foi o caso recente com o fenômeno ‘Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo’. Aqui iremos trazer o outro lado da moeda: produções mais que ambiciosas de grandes estúdios e com os maiores astros de Hollywood, lançadas ano passado, que viveram para se tornar alguns dos maiores fiascos financeiros de anos recentes – muitos sem conseguir sequer se pagar. Confira abaixo.
A Disney é simplesmente o estúdio mais poderoso de Hollywood na atualidade. Se você duvida, é só dar uma olhada no poder de compra da empresa, que adquiriu em anos recentes algumas das maiores máquinas de fazer dinheiro da atualidade, vide os estúdios Marvel, a LucasFilm (Star Wars e Indiana Jones) e a 20th Century Fox. Tudo que a Disney toca vira ouro. Bem, ou quase. Ano passado, o estúdio Midas terminou com duas grandes animações entaladas na garganta. A primeira foi esse derivado do fenômeno ‘Toy Story’, que com quatro filmes é a franquia de animação mais bem-sucedida da casa. Esperava-se que ‘Lightyear’ entrasse para o chamado “clube do bilhão”, assim como os dois últimos longas da franquia. No entanto, com orçamento de US$200 milhões, o filme arrecadou mundialmente US$226 milhões, mal conseguindo se pagar. Disponível na Disney+.
Que filme é esse, você pergunta? Pois bem, querido leitor, trata-se de uma animação dos estúdios Disney que foi lançada nos cinemas no fim de 2022 e se tornou um fiasco ainda maior que ‘Lightyear’ para a empresa, com a maioria realmente sequer ouvindo falar do longa. E quando em anos recentes pudemos dizer isso de qualquer outra animação da casa? Realmente, 2022 não foi um ano fácil para as produções animadas da Disney. Após o fracasso de ‘Lightyear’, o estúdio parecia querer esconder ‘Mundo Estranho’, com uma fraca campanha de marketing para o filme, e quando finalmente foi lançado – ou melhor, jogado nos cinemas, ninguém deu a mínima e o filme foi apressado para a Disney+. Aqui temos uma animação da Disney sem a Pixar, cuja ideia era homenagear as clássicas ficções científicas da década de 1960. ‘Mundo Estranho’ teve orçamento de US$120 milhões e rendeu pelo mundo US$73 milhões, sequer conseguindo se pagar. Disponível na Disney+.
Além da Disney, outra grande “perdedora” de 2022 foi a talentosíssima estrela indicada ao Oscar Margot Robbie. Só para deixar claro, o propósito dessa matéria não é atestar contra o carisma ou talento de Robbie, apenas relatar o fracasso de seus filmes mais recentes. Temos certeza que a musa irá se recuperar esse ano com ‘Barbie’, que promete ser seu mais novo sucesso. Porém, ao escolher dois projetos bem ambiciosos para estrelar em 2022, nem Robbie e nem ninguém esperava que fossem se tornar alguns dos maiores fracassos financeiros do ano. Ainda mais pelo cacife dos diretores e do elenco de primeira. ‘Babilônia’, por exemplo, é uma viagem alucinada pela era de ouro de Hollywood, comandada por Damien Chazelle (La La Land) e com Brad Pitt no elenco. No entanto, com US$78 milhões de orçamento, o filme teve uma bilheteira de “apenas” US$63 milhões mundiais, falhando em se pagar. Disponível para aluguel no Youtube e Amazon Prime Video.
Como dito, o ano não foi fácil para Margot Robbie, uma das estrelas mais quentes de Hollywood na atualidade. A parceria com Damien Chazelle não deu muito certo, pelo menos num aspecto financeiro, já que muitos até gostaram de ‘Babilônia’. Mas antes disso, Robbie havia lançado nos cinemas uma parceria com outro cineasta bem badalado, David O. Russell, responsável pelos filmes indicados ao Oscar ‘O Vencedor’, ‘O Lado Bom da Vida’ e ‘Trapaça’. O filme em questão é ‘Amsterdam’, um longa (e bota longa nisso, com 2h 14min de projeção) que contou com um dos melhores elencos do ano passado, de nomes como Christian Bale, John David Washington, Robert De Niro, Zoe Saldana, Anya Taylor-Joy, Rami Malek, entre outros. A trama, por outro lado, é quase incompreensível, tornando a tarefa de explicar sua sinopse quase impossível. Bem, em resumo fala sobre três amigos da época da Primeira Guerra Mundial (Bale, Washington e Robbie), se reencontrando e se vendo no meio de uma conspiração americana que chega até o alto escalão dos poderosos de Nova York na década de 1930. Com orçamento de US$80 milhões, o filme arrecadou “míseros” US$30 milhões mundiais. Disponível na Star+.
Novamente, quero deixar bem claro que o objetivo não é falar contra a qualidade de tais filmes. Você pode até ter gostado de alguns, ou quem sabe de todos os filmes da lista, isso não está em debate. Aliás, ‘Os Fabelmans’, por exemplo, novo trabalho do prestigiadíssimo Steven Spielberg, considerado o melhor diretor de todos os tempos por muitos fãs de cinema, foi sucesso de crítica, chegou até o Oscar, e quem viu simplesmente adorou. Mas é aí que está a questão: quem viu. Isso porque grande parte do público simplesmente não assistiu ou sequer ouviu falar nessa obra, que é uma biografia do próprio diretor, sua vida em família e o nascimento de sua paixão por cinema, dirigido pelo próprio. ‘Os Fabelmans’ não foi planejado para ser um blockbuster e contou com um orçamento modesto para os padrões de Hollywood, de US$40 milhões. Mesmo assim, mal conseguiu se pagar, com uma bilheteria mundial de US$44 milhões. Disponível para alugar nas plataformas digitais.
Esse prometia ser o ano que transformaria o ator Jonathan Majors de vez em um dos astros mais quentes de Hollywood. isso porque logo no início de 2023 ele lançou dois blockbusters muito badalados, como o vilão dos dois: ‘Homem-Formiga e a Vespa – Quantumania’ e ‘Creed III’. Mas o que ninguém contava é que o ator pudesse se tornar um vilão da vida real, com sua prisão por agressão. Enquanto esse caso não se resolve, voltamos para 2022, para um filme estrelado por Majors, que foi bastante elogiado, e que visava, de certa forma, pegar carona no sucesso de ‘Top Gun Maverick’, ao mostrar pilotos intrépidos na Guerra da Coreia. O filme que estreou recentemente na Amazon Prime Video contou com orçamento de US$90 milhões, mas arrecadou somente US$21 milhões ao redor do mundo. Disponível na Amazon Prime Video.
Esse é mais um caso que demonstra que a badalação em torno de um filme e suas críticas mais que positivas podem não caminhar lado a lado com uma boa bilheteria. Ninguém duvida da qualidade da comédia amalucada ‘O Peso do Talento’, filme que colocou a carreira do astro Nicolas Cage de volta nos eixos – bem, por enquanto. O filme foi sucesso de crítica e o público simplesmente adorou a trama na qual Cage interpreta a si próprio no meio de investigação do FBI – o longa ainda conta com a presença do atual queridinho, Pedro Pascal (roubando muitas das cenas). Apesar de seu tremendo status de cult, ‘O Peso do Talento’ custou US$30 milhões e não conseguiu arrecadar nem isso nas bilheterias, com US$29 milhões mundiais em caixa. Disponível na Amazon Prime Video.
A estrela Jessica Chastain é uma das maiores representantes dos direitos igualitários das mulheres na indústria do cinema atual. Assim, seguindo essa sua veia, a musa ruiva resolveu bolar ela mesmo uma produção nos moldes de ‘007’, ‘Missão: Impossível’ e da franquia ‘Bourne’, mas com uma superequipe de agentes secretas todas mulheres – chamadas ‘Agentes 355’. Para a tarefa, Chastain alistou as colegas Penélope Cruz, Lupita Nyong’o, Marion Cotillard e Fan Bingbing no elenco, para representar cinco nações diferentes na equipe. Com este trunfo em mãos, o projeto simplesmente bateu o recorde de venda no prestigiado Festival de Cannes, sendo comprado por US$40 milhões por dois estúdios, apenas devido ao seu conceito. A produção problemática causou a saída de Cotillard, vindo a ser substituída por Diane Kruger. Com orçamento de US$75 milhões, o filme fez apenas US$27 milhões mundiais. Disponível na Amazon Prime Video.
A era dos filmes catástrofe dos anos 90 ficou para trás – mesmo momentaneamente revivida em 2004 com ‘O Dia Depois de Amanhã’. Foi isso o que o diretor Roland Emmerich, um especialista no subgênero, aprendeu da pior forma possível em 2022 ao lançar seu mais recente projeto. Emmerich é dono de inúmeros sucessos, mas ao tentar se apegar ao que deu certo no passado, tem amargado fracassos como a continuação de Independence Day, lançada em 2016. Ano passado, o diretor resolveu tentar de novo com este ‘Moonfall’, decidindo mostrar ao mundo o que aconteceria se a lua saísse de sua órbita e viesse com tudo em rota de colisão com a Terra. Halle Berry e Patrick Wilson são os únicos que podem nos salvar. Será que estaríamos em boas mãos? ‘Moonfall’ custou US$150 milhões e fez apenas US$67 milhões mundiais. Disponível na Amazon Prime Video.
Que? Tudo bem, é compreensível que você nunca tenha ouvido falar desse filme, já que trata-se de um dos maiores fracassos financeiros de 2022 – ou quem sabe de anos recentes. Produzido longe de grandes estúdios, este ‘Gold’ (no original) traz Zac Efron no papel protagonista deste thriller de sobrevivência sobre dois homens vagando pelo deserto que se deparam com a maior pedra de ouro jamais vista. A decisão da dupla é a de que um deles saia para trazer um equipamento forte o suficiente para desenterrar e carregar a pedra, enquanto o outro espera e guarda o lugar. O problema é que se encontra bem no meio do deserto, precisando resistir às temperaturas elevadíssimas, a fome, e até mesmo lobos à espreita. Apesar da premissa interessante, ‘Deserto do Ouro’, que custou US$6.5 milhões para ser produzido (uma quantia bem baixa para Hollywood) arrecadou míseros US$176 mil – sendo visto basicamente pelas famílias dos atores no cinema. Disponível no Telecine Play.