Não foi a final de um reality nem a morte de uma celebridade. A comoção nacional da vez atende por Filó, uma criatura dentuça, comilona e peluda, um mix de rato do mato com castor gigante.
Sim, o Brasil parou no fim de semana prolongado para brigar pela capivara Filó.
Uma denúncia por suspeita de abuso, maus-tratos e exploração de animal levantada contra o tiktoker Agenor Tupinambá, por utilizar sem autorização a imagem de um animal silvestre, foi feita ao órgão e, por isso, gerou uma multa de R$ 17 mil.
O tiktoker tem 23 anos, mora em Autazes, no Amazonas, e viralizou após divulgar sua rotina ao lado da capivara. O animal, chamado de Filomena, é protagonista de muitos vídeos, seja nadando com Agenor, descansando, acompanhando as atividades ou comendo capim.
Por decisão judicial, Filó foi entregue aos cuidados do Ibama, na quinta-feira (27), e os conteúdos em que a capivara aparecia foram excluídos da rede. Antes mesmo que Agenor divulgasse a despedida de sua pet inusitada, milhões de pessoas já se mobilizavam nas redes sociais para brigar por Filó, pelos direitos das capivaras, pela devolução do herbívoro domesticado… Celebridades, atletas, autoridades, famosos e anônimos em geral se envolveram na causa.
E teve fogo cruzado entre ambientalistas e defensores das causas animais, confusões com Luisa Mell, Ibama, Justiça, teve vaquinha online para ajudar a pagar a multa da Filó, teve protestos, abaixo-assinados, teve até gente planejando resgatar a capivara na marra.
Mas se engana quem pensa que Filó dividiu o país já rachado pelas eleições. Nesse caso, a maioria quase que absoluta parecia lutar pelo mesmo ideal: a felicidade da capivara, o retorno dela para os braços do Agenor. Pois é: nem uma Copa do Mundo foi capaz de unir o país como esse herbívoro cadeirudo fez. Quando foi a última vez que você viu todo mundo querendo a mesma coisa nas redes sociais?
E o motivo é simples: estamos cansados de finais infelizes e separações.
Chega de distanciamento. Depois de perdermos tanto e tantos em uma pandemia, após brigarmos e nos desgastarmos tanto por política, após enfrentarmos tantas guerras pessoais e mundiais, estamos exaustos de abrir mão do que amamos, não suportamos mais dizer adeus.
Não aguentamos mais que tirem de nós algo importante, sentimentalmente valioso. Seja lá qual for a crença ou causa, o partido ou a bandeira, estamos feridos e cansados demais para encarar outra derrota. Ver Agenor partir sem Filó nos tocou na ferida: não aguentamos mais despedidas.
A novela da capivara Filó nos comove além da história de um rapaz e seu pet selvagem. Vai além dos motivos ambientais do Ibama, da causa de Luisa Mell, dos influencers caça-cliques de plantão, de uma questão de justiça ou opinião. Filó é aquele parente que você não queria ter tretado feio por ter votado em candidato diferente do seu, ou aquela pessoa mais do que querida que você perdeu para o coronavírus. É aquela voz interna nos dizendo: ah, não, a Filó não! Perdemos tanto, não podemos deixar Agenor perder a Filó!
E, como juntos realmente somos poderosos, a história da Filó ganhou um novo capítulo, mais feliz, antes de o fim de semana acabar. A Justiça determinou que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) devolvesse a capivara Filó, provisoriamente, ao influenciador Agenor Tupinambá.
A guarda da Filomena ainda é provisória, assim como a união em torno de uma causa nas redes sociais. Mas já serve para mostrar que, sim, apesar de tantas diferenças, tantos abismos abertos na nossa sociedade, ainda temos muitas dores em comum.